COMO AS MULHERES APARECEM NA EMANCIPAÇÃO DE SANTA RITA DO PARANAÍBA
As mulheres nas relações de poder em Goiás: embates e arranjos políticos na emancipação de Santa Rita do Paranaíba.Quando se fala da categoria gênero nos estudos históricos da emancipação de Santa Rita do Paranaíba, adota-se neste trabalho o pensamento de Joan Scoot, e tem-se como novidade a articulação deste com a noção de poder. É um m odo de dar significação ás relações de poder. Mostrar como a hierarquia de gênero são construídas, legitimadas, contestadas, narradas e mantidas.
Procura-se neste trabalho superar a abordagem social e política, que atribuiram ao sistema patriarcal e do coronelismo o papel de liderança nas relações ocorridas na primeira República. Passa-se a articular gênero articulado com o poder, levando em consideração a categoria de poder em Foucault, que considera o poder como feixe der relações mais ou menos organizado, coordenado e que funcionada em rede. O Poder está disperso entre ele e ela, trazendo como novidade a circularidade. Aqui gênero é pensado como primeiro campo no seio do qual o por meio do qual o poder é articulado. Procura-se utilizar a noção relacional, definindo o lugar das mulheres e dos homens nestas relações de poder.
A posição das mulheres nestas relações é de mãe, de filha, de mulher, de primeira dama, de companheira que enfrenta os embates juntos, da administradora dos recursos financeiros, tendo uma participação ativa em alguns campos, mas reforçando o discurso masculino em outros, como o da política, ao não votar, não ocupar cargos públicos e políticos.
Vamos fazer a história das mulheres no espaço público das cidades e de suas relações na política como mulheres ativas.
Em Santa Rita do Paranaíba, o maior líder local tem ao seu lado, Messias Alexandrina Marquez, filha do comerciante Damaso Marquez, irmão de Dona Francisca Carolina Nazareth de Moraes, a mulher mais rica de Goiás em 1909, pois herdou em 1905 com a morte de Coronel Hermenegildo Lopes de Moraes um fortuna superior a 240 mil contos de réis, que era composta de mais de 28 fazendas, num total que chegava a quase 60 mil alqueires, poupança, gado e comércios. O casamento foi realizado em 1900, ele com 30 anos e ela com pouco mais de 16. Messias, era católica, não teve filhos não participava das atividades políticas do marido, mas não casou por imposição. Aceitou fazer parte do jogo e deve ter encontrado o Jacintho Brandão nas reuniões políticas em que participavam seu pai Damaso Marquez e seu tio Tibúrcio Marquez. O jornal O GOYAZ publicou uma notinha sobre o casamento, realizado em 30 de janeiro de 1900. Foram realizados os atos civil, seguido do ato religioso, tendo como paraninfo Antônio Xavier Guimarães. Messias Alexandrina era filha de Damaso Marques, irmã de Francisca Carolina de Nazareth, viúva de Hermenegildo Lopes de Moraes. Por causa desta relação, é provável que Santa Rita do Paranaíba não se emancipasse. Não era interesses de Jacintho Brandão e do Filho de Francisca Carolina, Hermenegildo Lopes de Moraes, o filho, que comandava a política na região.
Em Morrinhos, centro do poder político em Goiás em 1909, quando da emancipação de Santa Rita do Paranaíba, Francisca Carolina Nazareth Marquez de Moraes administra a fortuna herdada do Coronel Hermenegildo Lopes de Moraes. Sua filha Amélia está casada com o líder político em Goiás, José Xavier de Almeida e seu filho Hermenegildo Lopes de Moraes tinha sido eleito presidente do Estado, mas que não vai assumir, devido ao Movimento de 1909 em Goiás.
As relações de Francisca de Nazareth começam em 04 de outubro de 1863, conforme se apura do registro de batismo na Paróquia de Santa Rita de Cássia, quando juntamente com seu marido Alcebíades José da Silveira, naquela época. Foi batizado naquele dia o menino Alexandre Filho, tendo como testemunha Hermenegildo Lopes de Moraes. (JOSMAR, p 218).
Hermenegildo Lopes de Moraes era comerciante, fazendeiro e administrador do Porto de Santa Rita do Paranaíba, num momento em que estava ocorrendo a Guerra do Paraguai (1864-1870), em que as tropas necessitavam de generos, tornando ele um grande fornecedor. Ele aparece ainda como testemunha em eventos da Igreja católica em 09 de janeiro de 1864 e 09 de janeiro de 1868.
Com a morte de Alcebíades, esposo de Dona Francisca Carolina de Nazareth, casa-se com a mesma as 4 horas da tarde do dia 04 de novembro de 1869. Na época, ele tinha 36 anos, solteiro natural, batizado na Freguesia do Curralinho (Itaberaí) e ela com 26 anos, viúva pelo falecimento de Alcebíades José da Silveira, nascida em Santa Rita do Paranaiba e Batizada na Freguesia de Monte Alegre em MG.. Teve no primeiro casamento as filhas Maria (1862) e Anna (1866). No segundo casamento teve os filhos Hermenegildo Lopes de Moraes, Francisco Lopes de Moraes, Amelia de Moraes e Alfredo Lopes de Morais.
Na capital, Amélia de Moraes, filha de Francisca Carolina de Nazareth Marques de Moraes e Hermengildo Lopes de Moraes, que se tornou primeira dama do Estado em 1901 com 17 anos, acompanhou o marido na chegada ao Palácio Conde dos A rcos e sua saída do poder em 1909 com o movimento promovido pelos Bulhões.
Cecília Adelaide Félix de Souza, nascida em 1873, casou-se com O líder vencedor do movimento de 1909, José Leopoldo de Bulhões Jardim, ao meio dia de 12 de setembro de 1890, na casa do falecido Major Inácio de Bulhões. Era sobrinha de José Leopoldo de Bulhões Jardim, filha de sua irmã Adelaide Emília de Bulhões Jardim e do desembargador Benedito Félix de Sousa.
É interessante também mostrar o lugar nestas relações de poder, das irmãs de José Leopoldo de Bulhões Jardim. Adelaide Emília de Bulhões Jardim, nascida em 1850, irmã e sogra de José Leopoldo de Bulhões Jardim, que se casou com o irmão de seu pai, Benedicto Felix de Sousa.
Maria Nazareth de Bulhões Jardim, nascida em 1857, casou-se com seu primo e sobrinho de sua mãe, Francisco Leopoldo Rodrigues Jardim.
Josefina de Bulhões Jardim,nascida em 1858, casou-se com Jácome Martins Baggi de Araújo filho, cuja origens de seus pais eram senhores de engenho da Bahia.
Angela de Bulhões Jardim, casou-se com o Procurador Geral da República, Joaquim Xavier Guimarães Natal, que era irmão de José Xavier Guimarães, homem de ligação dos Bulhões em Santa Rita do Paranaíba.
Leonor Adelaide Bulhões Jardim, nascida em 1860, casou-se com o engenheiro que se tornaria presidente de Goiás em 1909, Urbano Coelho de Gouvêa.
Nos embates e arranjos políticos, que resultaram no Movimento de 1909 em Goiás e na emancipação de Santa Rita do Paranaíba, conclui-se que as maiores lideranças do Estado de Goiás, nas pessoas de José Xavier de Almeida e José Leopoldo de Bulhões Jardim, passando por Morrinhos com Hermenegildo Lopes de Moraes, o filho, e em Santa Rita do Paranaíba com Jacintho Luiz da Silva Brandão e José Xavier Guimarães, todos contaram com a parceria de mulheres em suas relações de poder, legitimando o discurso do masculino, servindo como elos, tais como Amélia de Morais, mais jovem primeira dama do governo goiano com 17 anos em 1901, irmã do presidente eleito em 1909 que não assumiu, o Deputado Federal e advogado Hermenegildo Lopes de Moraes, esposa do lider estadual José Xavier de Almeida, filha de Francisca Carolina de Nazareth Marquez de Moraes, detentora da maior riqueza em Goiás, herdada do Coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, falecido em 1905, tia de Messias Alexandrina Marquez, casada em 1900 com Jacintho Luiz da Silva Brandão e ainda Ângela de Bulhões Jardim, irmã do Ministro da Fazenda e advogado José Leopoldo de Bulhões Jardim, que era esposo de sua sobrinha Cecília Félix de Sousa Bulhões, filha de sua irmã Adelaide Emília de Bulhões Jardim, que tinha também como irmã, Ângela de Bulhões Jardim, casada com o ex ministro do STF e Procurador Geral da República Guimarães natal, que era irmão de administrador da recebedoria de Santa Rita do Paranaíba, José Xavier Guimarães, e que foi um dos líderes a partir de sua fazenda no norte, o movimento de 1909, que resultaria na emancipação de Santa Rita do Paranaíba e no reconhecimento daquele que tinha perdido a eleição como presidente do Estado de Goiás, Engenheiro e militar Urbano Coelho de Gouvêa, casado com Leonor Adelaide Bulhões Jardim, também irmã de José Leopoldo de Bulhões Jardim.
Católicos, engenheiros, militares, advogados e funcionários públicos, mães, filhos, irmãos, cunhados, um circulo de relações que muda a história de Goiás, num tempo em que se atribuiu todas as mudanças aos coronéis, excluindo a mulher das relações de poder com fundamento no patriarcado.
Mudar a narrativa histórica, através de representações que mostram as mulheres goianas ativas e parceiras nas relações de poder, que apesar de não conseguir a emancipação, ganham voz e participação nos embates e arranjos políticos do início do século XX em Goiás.
Nenhum comentário:
Postar um comentário