segunda-feira, 31 de março de 2014

TAÇA CHICO BALA - TERCEIRA RODADA

JOGOS DOS DIAS 05 E 06 DE ABRIL

SÁBADO - DIA 05 DE ABRIL - HORÁRIO 16 HORAS
Caçapão - BAIRRO BRASILIA X REAL
Clube dos 50 - DUDU PRESENTES X OPERARIO
Aerca - ULBRA/KBM X MILAN
Goiasinho - BARCELONA X MAROLINA
Vila Operária - AECD X VILA MUTIRÃO

DOMINGO - 06 DE ABRIL
Goiasinho - 10 h - SÃO CRISTÓVÃO X ITC
Jardim Liberdade - 10 h - AMERICA X RIVER PLATE
Vila Vitória - 10 h - VOLTA REDONDA X SANTOS DUMONT
Sarandi - 10 h - SARANDI X EC BRASILIA
Meia Ponte - 10 h - MEIA PONTE X VINTE
Clube dos 50 - 10 h - MADEIREIRA JR X CONTINENTAL
Vila Vitória - 16 h - DEMOCRATA X BAURU

TAÇA CHICO BALA EM ITUMBIARA - SEGUNDA RODADA

RESULTADOS DA SEGUNDA RODADA - CLASSIFICAÇÃO
COPA GOVERNO DE ITUMBIARA - TAÇA CHICO BALLA

GRUPO A




Classificação time PG VIT GP GS SG

1 AECD 4 1 6 3 3

2 VINTE 3 1 4 1 3

3 UNICEREAIS 3 1 5 2 3

4 MEIA PONTE 3 1 3 5 -2

5 EC BRASILIA 1 0 2 2 0

6 SARANDI 0 0 1 2 -1

7 VILA MUTIRÃO 0 0 3 9 -6





GRUPO B



Classificação time PG VIT GP GS SG

1 SÃO CRISTÓVÃO 6 2 6 3 3

2 ACADEMIA 4 1 7 2 5

3 CONTINENTAL 3 1 6 5 -1

4 BAIRRO BRASILIA 1 0 3 4 -1

7 ITC 0 0 0 5 -5

6 REAL 0 0 1 4 -3

5 MADEIREIRA JR 0 0 0 0 0





GRUPO C



Classificação time PG VIT GP GS SG

1 BARCELONA 6 2 8 5 3

2 MILAN 4 1 5 3 2

4 RIVER PLATE 1 0 3 3 0

4 KBM 1 0 3 3 0

3 MAROLINA 1 0 2 2 0

5 AMERICA 0 0 0 2 -2

6 UNIDOS SAÚDE 0 0 6 9 -3





GRUPO D



Classificação time PG VIT GP GS SG

1 OPERARIO 6 2 9 3 6

2 SANTA INES 4 1 5 3 2

3 VOLTA REDONDA 3 1 2 1 1

4 SANTOS DUMONT 3 1 7 8 -1

5 BAURU 1 0 4 6 -2

7 DEMOCRATA 0 0 5 6 -1

6 DUDU 0 0 2 5 -4




PRIMEIRA RODADA

GRUPO A

LOCAL DATA HORA MANDANTE X VISITANTE

Vila Operária 23/mar 16.00 AECD 4X1 MEIA PONTE

Rufinão 23/mar 10:00 VINTE 4X1 VILA MUTIRÃO

Folga UNICEREAIS

Folga BRASILIA

Folga SARANDI



SEGUNDA RODADA

LOCAL DATA HORA MANDANTE X VISITANTE

Caçapão 29/mar 16.00 EC BRASILIA 2X2 AECD

Sarandi 30/mar 10h SARANDI 1X2 MEIA PONTE

Clube dos 50 29/mar 16 h UNICEREAIS 5x2 VILA MUTIRÃO

Folga VINTE

Folga



GRUPO B

LOCAL DATA HORA MANDANTE X VISITANTE

Goiasinho 23/mar 10:00 ACADEMIA 2X2 BAIRRO BRASILIA

Jardim Liberdade 23/mar 16:00 SÃO CRISTÓVÃO 4X2 CONTINENTAL

Folga MADEIREIRA JR

Folga ITC

Folga REAL



2ª RODADA

LOCAL DATA HORA MANDANTE X VISITANTE

Jardim Liberdade 30/mar 10:00 ACADEMIA 5X0 ITC

Vila Vitoria 30/mar 10h CONTINENTAL 4x1 REAL

Jardim liberdade 30/mar 10h BAIRRO BRASILIA 1X2 SÃO CRISTÓVÃO

Folga MADEIREIRA JR

Folga



GRUPO C

LOCAL DATA HORA MANDANTE X VISITANTE

Jardim Liberdade 23/mar 10:00 AMERICA 0X2 BARCELONA

23/mar UNIDOS SAUDE 1X3 MILAN

Folga MAROLINA

Folga RIVER PLATE

Folga KBM



2ª RODADA

LOCAL DATA HORA MANDANTE X VISITANTE

Goiasinho 30/mar 10:00 BARCELONA 6X5 UNIDOS DA SAÚDE

Jardim Liberda 30/mar 08 h MAROLINA 2X2 MILAN

Aerca 30/mar 09 h KBM 3X0 RIVER PLATE

Folga AMERICA









GRUPO D

LOCAL DATA HORA MANDANTE X VISITANTE

Vila Vitória 23/mar 10:00 OPERARIO 5X1 SANTOS DUMONT

Jardim Liberdade 23/mar 16:00 BAURU 2X2 SANTA INES

Clube dos 50 23/mar DUDU 1X2 VOLTA REDONDA

Folga DEMOCRATA





2ª RODADA

LOCAL DATA HORA MANDANTE X VISITANTE

Clube dos 50 29/mar 14h DUDU 1X3 SANTA INES

Goiasinho 29/mar 16:00 BAURU 2X4 OPERARIO

Goiasinho 30/mar 8 h SANTOS DUMONT 6X3 DEMOCRATA

Folga VOLTA REDONDA



ASSIM FOI A EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DE ITUMBIARA (SANTA RITA DO PARANAÍBA)

3.2 A EMANCIPAÇÃO DE SANTA RITA DO PARANAÍBA

Bacharel Hermenegildo Lopes de Moraes - primeiro itumbiarense eleito governador de Goiás



Até culminar com a emancipação de Santa Rita do Paranaíba, ocorreram várias relações políticas e acontecimentos, que têm início quarenta e seis anos antes, com a chegada de Hermenegildo Lopes de Moraes a Santa Rita do Paranaíba como funcionário público da Recebedoria em 1863.

A construção da riqueza e da família que deram origem ao poder político exercido por Morrinhos na Primeira República tem seu início no Arraial de Santa Rita do Paranaíba, quando o coronel Hermenegildo, possuidor de tropas de burros e de um comércio no povoado, consegue abastecer as tropas que iam para a Guerra do Paraguai, período em que também casou-se com Francisca Carolina de Nazareth Moraes, cuja família era de fazendeiros bem sucedidos em Santa Rita do Paranaíba. É ainda em Santa Rita do Paranaíba que nasce o primogênito de Hermenegildo Lopes de Moraes, em 1870, e que irá sucedê-lo na liderança das relações de poder a partir de 1905 com a morte do pai coronel.

Morrinhos aparece nessas relações de poder a partir de 1871, quando Hermenegildo Lopes de Moraes se muda para o município, que logo se emancipa em 1872. Para alguns, o motivo da mudança seria uma doença de Francisca Carolina de Nazareth, mas Hermenegildo sempre antecipava as grandes mudanças e foi para Morrinhos, onde foi o primeiro intendente e consolidou-se como fazendeiro adquirindo mais de vinte e sete fazendas, consolidando o comércio entre Santa Rita do Paranaíba, Morrinhos, Pouso Alto e outras vilas com o sudeste do Brasil.

Inicialmente chamada de Vila Bela de Morrinhos em 1845, quando então era distrito da Vila de Santa Cruz, Morrinhos conseguiu sua primeira emancipação em 05 de novembro de 1855 com a denominação de Vila Bela do Paranaíba, tendo como distrito Santa Rita do Paranaíba. Após quatro anos, retorna à condição de Distrito de Santa Cruz, tendo sido suprimida sua condição de Vila independente administrativamente. Em 1871 o município é restabelecido com o nome de Vila Bela de Morrinhos e reinstalado em 03 de fevereiro de 1872. No ano de 1882 é elevado à categoria de cidade, com o nome de Morrinhos, que prevalece até os dias atuais.

Nascimentos, casamentos e mortes foram eventos que antecederam os principais embates que resultaram na emancipação de Santa Rita do Paranaíba em julho de 1909.

Os nascimentos das jovens primeiras-damas de Santa Rita do Paranaíba e do Estado de Goiás se deram no início da década de 1880, sendo que Amélia Augusta de Moraes nasceu em Morrinhos, no dia 27 de agosto de 1884, e Messias Alexandrina Marquez em Santa Rita do Paranaíba, no dia 13 de outubro de 1883. A mesma sequência foi observada em relação aos casamentos, sendo que ambas contraíram matrimônio ainda menores de dezoito anos, sendo a primeira em 27 de julho de 1901, quando tinha dezessete anos e a outra em outubro de 1900, com apenas dezesseis anos.

A morte do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, em maio 1905, também foi um acontecimento que antecedeu a emancipação de Santa Rita do Paranaíba e consolidou a presença da mulher e herdeira Francisca Cândida de Nazareth Moraes, cuidando dos netos e dos bens.

A morte do presidente Afonso Pena, em junho de 1909, também influenciou a emancipação de Santa Rita do Paranaíba, fato que possibilitou mais poder a José Leopoldo de Bulhões, que voltou a ser ministro da Fazenda do sucessor Nilo Peçanha.

Enfim, as relações de poder que levaram à emancipação de Santa Rita do Paranaíba e que se deram através de nascimentos, casamentos e mortes, estiveram sempre ligadas a uma série de processos políticos, que vão desde a eleição de José Xavier de Almeida, em 1901, para presidente do Estado, ao seu rompimento com Leopoldo de Bulhões, em 1904, o que levou ao pedido de intervenção por Leopoldo de Bulhões em 1905. Passaram pelas vitórias de José Xavier de Almeida, que homologou as eleições de 1904, mas que começou a se inverter em 1908, ocasião que o grupo de José Leopoldo de Bulhões fez a maioria de deputados e senadores, condição que levaria ao não reconhecimento das eleições para deputados federais, senador e presidente do Estado para 1909, e que dá origem ao Movimento de 1909, que tem como primeiro resultado a emancipação de Santa Rita do Paranaíba.

A imagem que se tem do sul de Goiás no início do século XX é de um espaço de carência geral de seus moradores, diferenciando-se em poucas coisas os homens que tinham comércio e cargos públicos, em especial os coletores, que trabalhavam nas recebedorias fiscais de Santa Rita do Paranaíba.

O quadro da vida, das casas, das vestimentas e da própria alimentação, narrado por (FRANCO, 1997 p. 119), mostra um lugar onde predominavam moradias simples, e alimentação à base de feijão preto, farinha de mandioca e um pedacinho de carne salgada ou toucinho para todos os moradores.

Uma das características marcantes da região é o seu destaque como posto de fiscalização do Estado, em um período em que se travou um grande arrocho fiscal provocado pelo grupo dominante do período no Estado, que estava bastante ligado à cidade de Morrinhos, cidade-mãe de Santa Rita do Paranaíba, que teve sua fundação ligada a um porto e criação da Recebedoria tributária no período anterior à República, por volta de 1834, quando se consolidava a primeira organização fiscal do Brasil Independente de Portugal.

As atividades comerciais predominantes no período estavam ligadas à pecuária e em especial ao comércio, que eram as principais fontes de tributação na região.

Relacionando à cidade pesquisada, é possível imaginar a mistura que se fazia através de uma administração pública deficiente, com funcionários desqualificados, que misturava o público com o privado e que estava mais sujeita ao controle dos costumes locais e do mando de seus coronéis, do que aos regulamentos tributários, como pode ser notado nos embates entre o Ministério Público e coletores públicos, que faziam uso particular dos recursos arrecadados dos impostos.

Com a ausência do Estado, uma justiça sem poder e dominada pelas autoridades locais, municípios pobres e sem fonte de recursos, o local vai se constituir em um espaço perfeito para o domínio dos coronéis e seu fortalecimento, o que pode ter ocorrido com o coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, que fez fortuna com a Guerra do Paraguai e ocupou cargos públicos, chegando no início do século XX com condições de fazer aliança com os governos devido sua situação econômica abastada.

O período de emancipação mostra um Estado com estruturas arcaicas, com os grupos dominantes dos coronéis detendo os meios de administração na nomeação de delegados, coletores e outras autoridades, proporcionando um desencontro entre as aspirações dos cidadãos e a possibilidade do Estado de provê-las.

As cidades não tinham recursos para investimentos menores, como cuidar de suas ruas, ocorrendo em muitos casos o investimento privado com posterior indenização do Estado, quando era possível, e assim foi se institucionalizando o poder dos coronéis nas cidades.

Cabe aos que têm recursos econômicos, como os fazendeiros e comerciantes, exercerem funções do Estado ausente, como as policiais e judiciárias, o que se faz através de capangas, já que tais funções não eram supridas por pessoas especializadas.

É dentro desse quadro de pobreza do poder público local, de uso do aparelho do governo como propriedade privada e de dominação pessoal sem separação do público com o privado, com o grupo de coronéis locais ligados aos presidentes da província que vai ocorrer a emancipação de Santa Rita do Paranaíba.

É a imagem de uma cidade que vai ter dono por muitos anos, desde sua fundação, onde o coletor, o delegado, o conselho de Intendência e a própria intendência vão ser uma extensão das famílias de comerciantes locais, o que vai ocorrer pela escassez de funcionários qualificados e ausência do exercício despersonalizado das funções públicas, com o grupo dominante utilizando o aparelho estatal para atingir interesses particulares.

A formação dos coronéis de Santa Rita do Paranaíba a partir da Primeira República pode ser vislumbrada nas obras “Os donos do Poder” (FAORO, 1989), assim como a maneira como funcionava o sistema eleitoral, baseado na política dos governadores que sustenta todo o período.

Nas palavras de Rui Barbosa (apud FAORO, 1989, p. 569), “substitui-se os principais interesses, o povo pelas facções e os Estados pelos seus governos.”

A política dos governadores tinha como características o apoio dos presidentes dos Estados ao Governo Federal, recebendo poderes e privilégios, que por sua vez formavam suas bases nos municípios, que deviam obediência aos coronéis que governavam o Estado. Enquanto fossem aliados, poderiam utilizar as estruturas no Estado no exercício dos poderes locais.

Verifica-se na Primeira República uma pequena participação política da população, como se observa nos números apresentados entre 1870 e 1890, quando o percentual de votantes no período variava de 2,3% a 3.4% da população, que girava em torno de 10 milhões em 1872 e que atingiu 14 milhões em 1889, sendo que apenas 24% moravam na zona urbana.

A República Velha, período em que nasceu Santa Rita do Paranaíba caracteriza-se pela pouca participação da população na vida política, que era para poucos, decorrente do sistema eleitoral altamente restritivo, com uma população pouco alfabetizada, contando com cerca de 14,8% por volta de 1890, e um sistema eleitoral viciado, que dava sustentação à política dos governadores e à afirmação do coronelismo.

O sistema eleitoral permitia a qualificação dos eleitores, que era feita pelos coronéis ou por seus indicados, assim como a tomada e apuração dos votos, tendo o presidente do conselho de intendência ou o intendente municipal a supremacia do controle, às vezes feito nas próprias casas das autoridades.

Era utilizada uma forma de controle que ficava na mão do coronel do Estado e para o comando eleitoral ser efetivo, o sistema deveria ser estrangulado no município e tudo isso era garantido pelas milícias estaduais e por instrumentos financeiros.

Prevalecia o sistema de partido único, do presidente da província ao coronel no município, e as despesas eleitorais locais cabiam ao coronel local que, em troca, tinha os empregos na sua região, que seriam ocupados por pessoas indicadas por ele. É um sistema de reciprocidade, onde o Estado dá os empregos, os favores, tendo a força policial através de seus capangas, nomeando o delegado, o coletor de impostos, o juiz, o promotor, e prevalecendo os laços de amizade e compadrio.

A obra de Faoro (1989), permite entender a figura do coronel que assume o poder local, onde alguns receberam o nome da antiga Guarda Nacional criada em 1831 e que recaiu também sobre pessoas detentoras de riquezas, que podiam comprar as patentes.

O coronelismo penetra de tal maneira nas atividades políticas, constituindo-se no primeiro degrau dessa estrutura. Ele não manda só porque tem a riqueza, mas há pela população um reconhecimento de seu poder, sem necessidade de um pacto escrito. É um poder que se consolida com o aliciamento e preparo de seus eleitores, bem como o amplo número de cargos locais que terá a sua disposição para fazer suas indicações.

A política dos governadores e seu criador, Campos Sales, aconselhando aos presidentes dos Estados a dissolverem as câmaras municipais e nomear os intendentes, são reflexões tratadas por Faoro, (1989), que permitem entender os primeiros embates e arranjos que ocorrem em Santa Rita do Paranaíba. É a política que atrelará os chefes políticos ao governo estadual, atrofiando os núcleos locais, como ocorreu com Santa Rita do Paranaíba.

Nos capítulos estudados é possível entender o uso do poder político como extensão da família e o coronel Sidney Pereira de Almeida é fruto dessa construção política, havendo historicamente uma mistura do particular com os bens do Estado.

Nessa obra têm-se os fundamentos do sistema coronelista que já está imposto desde a fundação da cidade e manifesta-se com intensidade em sua emancipação, prevalecendo as escolhas e indicações de cargos públicos de acordo com a confiança e o compadrio, e não com a capacidade dos escolhidos.

As oligarquias que nascem no século XIX, o jeito personalista de governar e a própria impregnação do coronelismo como forma de governo vêm dos tempos da fundação da cidade.

Este estudo permite uma reflexão sobre as origens da população que formaria a cidade de Santa Rita do Paranaíba, onde prevalecia o comércio e a pecuária. No trabalho percebem-se as raízes dos trabalhadores, que se dá através de aventureiros que vieram em maior parte de Minas Gerais e dos próprios coronéis que vão governar a cidade em seus primeiros anos de existência.

Enfim, essa obra permite refletir sobre o urbano e o rural no período de emancipação, o funcionamento do poder público nas mãos dos coronéis, a emancipação da cidade como instrumento de dominação e um povo constituído por aventureiros assentados em sua maioria na zona rural e os poucos que habitavam o centro urbano, numa cidade com forte influência ibérica na sua arquitetura, com uma praça central, duas grandes ruas em duas direções e uma Igreja em sua parte central. Essas são as raízes dessa cidade do interior do Estado de Goiás, com seu povo, seus costumes, seus governantes e suas práticas políticas.

O primeiro documento localizado no primeiro ofício da cidade de Goiás e que trata de Santa Rita do Paranaíba descreve a arrematação do Porto da Fazenda Nacional por Cândido Rodrigues de Paiva, em 1835, que fazia parte de uma estrada nova construída até Uberaba-MG (FERREIRA e PINHEIRO, 2009, p. 23).

Inicialmente o Distrito do Arraial de Santa Rita do Paranaíba foi criado como parte da Vila de Santa Cruz, em 1849, perdurando essa situação até 1855, quando então passa a pertencer a Morrinhos, que na época se denominava Vila Bela do Paranaíba. De 1859, quando é suprimida Vila Bela do Paranaíba, até 1871 quando novamente ocorre a emancipação de Vila Bela de Morrinhos, Santa Rita do Paranaíba fez parte da Vila de Santa Cruz (FERREIRA e PINHEIRO, 2009, p. 25-29).

Nas relações de poder em Santa Rita do Paranaíba, destacam-se Jacintho Luiz da Silva Brandão, casado com Messias Alexandrina Marquez, em 1900, e que não teve nenhum filho; Major Militão Pereira de Almeida, casado pela primeira vez com Ermelinda Borges de Almeida, em 1883, tendo 10 filhos, sendo o primeiro o coronel Sidney Pereira de Almeida. Viúvo em 1903, Major Militão casou-se pela segunda vez em 1905 com Laudelina Mendes de Almeida, com quem teve nove filhos. Filho de Major Militão, o coronel Sidney Pereira de Almeida casou-se em 1909 com Maria Clarinda Cotrim, com quem teve seis filhos.

Qual a relação de Messias Alexandrina Marquez, Laudelina Mendes de Almeida e Maria Clarinda Cotrim com a emancipação de Santa Rita do Paranaíba? São as mulheres presentes na vida privada dos homens que faziam política quando da emancipação de Santa Rita do Paranaíba e depois nos primeiros anos da Vila emancipada.

Como Villa Bela de Morrinhos exercia um poder político na região sul do Estado de Goiás, desde 1895, quando Hermenegildo Lopes de Moraes era vice-presidente do Estado, até 1905 com sua morte, e após este período, o poder continuou a ser exercido por José Xavier de Almeida, genro de Hermenegildo Lopes de Moraes, ex-presidente do Estado e deputado federal em exercício, entrava na cena política outro filho de Hermenegildo Lopes, também deputado federal e homônimo do pai, Santa Rita do Paranaíba não tinha nenhuma esperança de emancipação.

O principal líder local, Jacintho Luiz da Silva Brandão era do grupo de Morrinhos, tanto é que assumia os principais postos no Arraial de Santa Rita do Paranaíba, como Administrador da Recebedoria.

Como principal oponente de Jacintho Luiz da Silva Brandão, apareceu a figura do coronel Sidney Pereira de Almeida, filho do maior comerciante do Arraial em 1909.

O sistema político local tinha no comando o intendente geral, que era figura escolhida pelo presidente do Estado. O poder legislativo, escolhido pelo povo, era o conselho Municipal de Intendência.

Nos primeiros anos de governo, os membros do primeiro Conselho Municipal vão se revezar no poder como intendentes, ora aderindo aos Bulhões, que mandavam no Estado, quando da emancipação, e depois com o alinhamento do grupo de Sidney Pereira de Almeida com os Caiado, até 1927.

A Lei de emancipação é o principal documento que corrobora a hipótese de que a emancipação de Santa Rita do Paranaíba foi o primeiro ato do grupo dos Bulhões, que assumiu o governo do Estado de Goiás a partir do Movimento de 1909, no mês de maio, quando o poder foi passado ao primeiro vice-presidente e após ao segundo vice-presidente, que sancionou a lei de emancipação de Santa Rita do Paranaíba em julho de 1909.

Da publicação da lei de emancipação à efetiva instalação do município levaram cerca de dois meses. No mês de setembro, foi nomeado o Conselho Municipal Provisório, tendo Jacintho Luiz da Silva Brandão sido escolhido presidente provisório e a missão também de governar o município até a escolha do Intendente Geral, que ocorreu em dezembro de 1909.

Existiam em Santa Rita do Paranaíba cercam de 83 estabelecimentos comerciais, figurando como maior, segundo pagamento de impostos, o comerciante Jacintho Luiz da Silva Brandão, com sete unidades e pagamento de 360$000 réis (FERREIRA e PINHEIRO, 2009).

Havia uma escola com cerca de sessenta alunos. Enquanto o chefe político de Morrinhos mandou os filhos para estudar em São Paulo, os filhos da família de Militão estudavam em Santa Rita do Paranaíba. Mas os primeiros anos iniciais das filhas de Francisca foram feitos na escola da Vila de Morrinhos, conforme aparece na relação de alunas matriculadas por volta de 1873.

Enquanto as crianças da família de Francisca Carolina de Nazareth de Moraes estudavam e viajavam, as crianças das famílias que moravam na zona rural viviam do pastoreio e de vigiar plantações (FERREIRA e PINHEIRO, 2009, p. 117).

O então Arraial de Santa Rita do Paranaíba se destacava por algumas casas comerciais e a família de Major Militão Pereira de Almeida era a segunda maior comerciante, com dois estabelecimentos, enquanto o filho de Francisca Carolina de Nazareth de Moraes, o Major Galdino da Silveira Marquez também tinha comércio no Arraial. No ano da emancipação, em 1909, a família de Major Militão era a maior pagadora de impostos no então Arraial de Santa Rita do Paranaíba.

O ano de 1909 vai marcar o aparecimento da família do coronel Sidney Pereira de Almeida e o afastamento do coronel Jacintho Luiz da Silva Brandão, então aliado da família de Francisca Carolina de Nazareth Moraes. O que segurou alguns dias a presença de Jacintho Brandão na política da emancipada Santa Rita do Paranaíba foi a presença de Antônio Xavier Guimarães, padrinho de casamento e aliado do grupo vencedor do golpe político de 1909.

O Arraial de Santa Rita do Paranaíba começou com um porto e uma estrada, cresceu com a família de Francisca Carolina de Nazareth Moraes, emancipou-se com o golpe político de 1909 em Goiás e tem na Ponte Afonso Pena o símbolo desse momento, que marcou a passagem da família pela política de Goiás como protagonistas das relações de poder que colocaram a região sul em evidência.

sexta-feira, 28 de março de 2014

A MULHER MAIS RICA DE GOIÁS NA PRIMEIRA REPÚBLICA ERA DE SANTA RITA DO PARANAÍBA

1 MULHERES, HISTÓRIA E POLÍTICA NA PRIMEIRA REPÚBLICA EM GOIÁS

Dona Francisca Carolina, irmã de Damaso Martins Marquez - nascimento - Santa Rita do Paranaíba 1843


FREIRE, N.S. CASAMENTO, EMBATES E ARRANJOS POLÍTICOS EM GOIÁS: uma abordagem das relações de poder na perspectiva de Gênero. Trabalho de conclusão (Curso de História, Poder e Cultura) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Goiânia, 2013.



Estudar a história política é estar convencido de que ela existe por si mesma, é professar que ela tem uma consistência própria e uma autonomia suficiente para ser uma realidade distinta em relação aos domínios do social, do econômico e do cultural, como defende René Rémond na obra organizada com outros colaboradores e intitulada “Por uma história política” (RÉMOND, 1996, p. 443).

Embora seja uma construção abstrata, como também são os outros domínios, a política passa a ser considerada concreta quando todos se deparam na vida com ela, interferindo em vários setores e até na atividade profissional e na vida privada em família. A partir daí, ela não tem fronteiras naturais, ora se dilata, ora se retrai e em certos momentos, como nas guerras e revoluções, amplia-se de tal maneira que tudo se transforma em política (RÉMOND, 1996, p. 443).

A Política não está restrita à referência relacionada com o poder localizado na figura do Estado, como ocorre com frequência quando se trata dos acontecimentos políticos de 1909 em Goiás, situação em que ela é vista como “atividade que se relaciona com a conquista, o exercício, a prática do poder” (REMOND,1996, p. 443). Trabalha-se com ela em outras definições e sentidos que ampliam essas relações entre pessoas e instituições, tais como nas igrejas, nas famílias, na imprensa, no comércio e nas escolas.

A política vai além da concepção mais tradicional ligada aos gregos e com influência de Aristóteles, em quem tem o sentido de atividades relacionadas ao Estado e aos governos; ela amplia-se para outras definições que envolvem práticas sociais e relações de poder com variados interesses e tomadas de decisões.

Assim como o poder, verifica-se a presença da política nas relações sociais, incorporada nas relações do cotidiano, materializando-se em relações que têm a presença de homens e mulheres, que se completam no outro como no sentido aristotélico e atingem outras dimensões mais gerais, em que ela é entendida pela atividade de pessoas e instituições que lutam continuamente pela conquista e manutenção do poder político, presente tanto na figura do Estado, como na sociedade civil, através de partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais, corporações, meios de comunicação, instituições e outros canais (SILVEIRA e GHIRADELLI JR. 2004 p. 21).

A concepção de poder utilizada nesta pesquisa é a de um elemento presente nas relações entre os indivíduos, como uma força sem lugar fixo e propriedade de alguém. Mais do que poder, as relações entre as pessoas são tratadas como relações de poder, que se realizam dentro de uma dimensão que elas tem o espaço necessário para exercer a liberdade e tomar sua decisão. Esta definição está contida nas ideias de Michel Foucault, que as vê presente em qualquer relação do cotidiano. Assim, as relações de poder estão ligadas a consciente liberdade que as pessoas tem e possibilidade das mesmas tomarem decisões. Nada poderia atingir a liberdade dos indivíduos em suas relações sem o consentimento ou concordância deles (FOUCAULT apud MARINHO, 2008).

Em síntese, assim manifestou Foucault sobre relações de poder:



Quando se fala de poder, as pessoas pensam imediatamente em uma estrutura política, um governo, uma classe social dominante, o mestre frente ao escravo, etc. isto não é de nenhum modo aquilo que eu penso quando falo de relações de poder. Eu quero dizer que, nas relações humanas, quaisquer que sejam - que trate de comunicar verbalmente, como fazemo-lo agora, ou que trate de relações amorosas, institucionais ou econômicas -, o poder continua presente: eu quero dizer a relação na qual um quer tentar dirigir a conduta do outro. Estas são, por conseguinte, relações que podem-se encontrar em diversos níveis, sob diferentes formas; estas relações de poder são relações móveis, ou seja, elas podem alterar-se, elas não são dadas de uma vez para sempre (FOUCAULT apud MARINHO, 2008).



Verifica-se a presença da política em várias atividades, jogo de discursos e pluralidade de sujeitos, sempre ligada ao poder, que se encontra em todas as relações das pessoas e instituições, de maneira que um se apresenta em relação ao outro na manifestação de seu poder, da persuasão e do convencimento.

Trabalha-se a política também para referir-se as relações de poder e suas estratégias para manutenção e contestação dessas relações. Vai-se desde essa mais típica, em que ela é considerada como “atividade dirigida para/ou em governos ou outras autoridades poderosas, atividade essa que envolve um apelo à identidade coletiva, à mobilização de recursos, a avaliação estratégica e à manobra tática”( SCOTT, 2011, p. 68).

A política também é considerada como prática que reproduz ou desafia as Ideologias, sendo estas entendidas como “sistemas de convicções e práticas que restabelecem identidades individuais e coletivas e que formam as relações entres indivíduos e coletividade e seu mundo, e que são encaradas como naturais, normativas e autoevidentes” (SCOTT, 2011, p. 69).

A inclusão das mulheres e a política em diferentes tipos de ação e em diversas esferas de atividades não comporta uma só definição de política, já que os limites de definição e espaço são indistintos, e segundo Joan W. Scott, qualquer definição utilizada tem múltiplas ressonâncias (SCOTT, 2011, p. 69).

Portanto, utiliza-se a política em todos os sentidos para analisar sua presença nos casamentos, embates e arranjos políticos em Goiás, que se acentuaram nos primórdios do século XX, com destaque especial para a participação das mulheres, o que ocorre com a politização dos espaços privados na vida das famílias, dos comerciantes, fazendeiros e políticos, sem deixar de fora os espaços tradicionais de disputas pelo poder através do Estado.

Tem-se, assim, a possibilidade de se ter a política articulada com as relações de poder na perspectiva de Gênero, posicionando homens e mulheres em evidência nas relações sociais e políticas nos espaços privados na casa de Dona Francisca Carolina de Nazareth Moraes em Morrinhos.

Busca-se, através do estudo familiar, verificar as consequências políticas, econômicas e sociais provocadas pela presença das mulheres nos palácios, nas festas, nas viagens, nas Igrejas e nas casas em um momento em que o discurso universal de dominação dos homens lhes reservava apenas os papéis de mãe, esposa e filha.

Verificam-se também relações de dominação presentes na sociedade da Primeira República, praticadas através de discursos que excluíram as mulheres dos cargos públicos e processos eleitorais, que foram reservados exclusivamente aos homens. Essas práticas foram legitimadas e reconhecidas como necessárias naquele período para manutenção da ordem social nas famílias. Neste contexto, segundo o pensamento de Max Weber, a dominação é descrita como a “probabilidade de encontrar obediência para ordens específicas (ou todas) dentro de um determinado grupo de pessoas” (WEBER, 1999, p. 139).

Quanto ao termo “casa”, procura-se referir às relações ocorridas dentro do espaço de convivência da família de Dona Francisca Carolina de Nazareth de Moraes em Morrinhos, utilizando-se uma abordagem que vai além do espaço físico ou geográfico, considerando-a como local onde homens e mulheres praticavam relações sociais simbólicas e complexas que possibilitaram a construção de relações de Gênero. Nesse aspecto, o termo é empregado designando um espaço por onde circularam, encontraram-se e se reconheceram meninos e meninas, rapazes e moças, homens e mulheres, na perspectiva de Michel Certeau, quando discorreu sobre o cotidiano (CERTEAU, GIARD E MAYOL,1996, p. 56).

As relações essencialmente políticas manifestadas nas eleições, nos partidos políticos e na ocupação dos cargos públicos em Goiás na Primeira República também têm uma análise articulada com a categoria Gênero como referência para buscar vestígios e sinais da presença das mulheres nesses eventos, órgãos e atividades.

Um dos vestígios do empoderamento da mulher dá-se com a morte do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, ocasião em que se abre um espaço à participação e presença de Dona Francisca Carolina de Nazareth de Moraes em outras relações que não as familiares, já que, na condição de herdeira da riqueza econômica, passa a ser a figura central da casa política em Morrinhos, compartilhada em alguns momentos com os filhos e genros nas figuras dos bacharéis José Xavier de Almeida e Hermenegildo Lopes de Moraes Filho, dos comerciantes Pedro Nunes da Silva e Pacífico do Amorim, e dos políticos com participação local: Francisco Lopes de Moraes e Alfredo Lopes de Moraes.

Para revelar esse evento marcante da emancipação de Dona Francisca Carolina de Nazareth Moraes, coube ao meio genro do falecido, coronel Pedro Nunes da Silva, declarar a morte do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes no dia 15 de maio de 1905, nos seguintes termos:



Às doze e meia horas da noite, nesta cidade de Morrinhos, em seu próprio domicílio, faleceu de hemorragia cerebral o Excelentíssimo Senhor Coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, capitalista, com setenta e dois anos de idade, natural de Curralinho deste Estado, residente nesta cidade, casado com a Excelentíssima Senhora Dona Francisca Carolina de Nazareth, filho legítimo do cidadão André Corsino de Moraes e da Excelentíssima Senhora Dona Maria Lopes de Oliveira, já falecidos; deixou quatro filhos: o Excelentíssimo Senhor Doutor Hermenegildo Lopes de Moraes Filho, com trinta e quatro anos de idade, casado, Senhor Francisco Lopes de Moraes, trinta de dois anos de idade, solteiro, naturais de Santa Rita do Paranaíba deste município; Senhor Alfredo Lopes de Moraes, vinte e quatro anos de idade, solteiro, a Excelentíssima Senhora Dona Amélia Augusta de Moraes e Almeida, com vinte e um anos de idade, casada, naturais desta cidade; deixou bens a inventário e deve ser sepultado hoje no cemitério público desta cidade. E para constar lavrei este termo em que comigo assinou o declarante. Eu João Fleury Alves de Siqueira, Oficial do Registro Civil, o escrevi (BARBOSA, 2013).













Figura 1 – O velório do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes



Fonte: (MENESES, 1998, p. 164)



O casamento foi a porta de entrada para Dona Francisca Carolina de Nazareth Moraes nas relações políticas que ocorriam a partir de Morrinhos, e a morte do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes foi o passaporte para que ela assumisse relações de poder que até então tinham a figura do coronel como referência no sul de Goiás. Embora ocorresse ainda na memória a figura do coronel morto como referência, pela herança Dona Francisca Carolina de Nazareth Moraes assumiu todas as prerrogativas inerentes à nova situação jurídica.

Ainda que não tenham sido encontrados registros do exercício dessa emancipação jurídica e econômica, pelo modo de vida dos quatro filhos de Dona Francisca, entende-se que ela a exerceu na plenitude os seus direitos. Vestígios desse poder podem ser encontrados nos almanaques mercantis publicados até o ano de sua morte, em 1923 (ALMANAK LAEMMERT, 1921).

Seus filhos seguiram suas vidas após a morte do coronel, desde a mais jovem Amélia Augusta de Moraes, que foi para o Rio de Janeiro ao lado do esposo José Xavier de Almeida, uma vez que ele era deputado federal, passando pelo bacharel Hermenegildo Lopes de Moraes, que também era deputado federal e ficava mais na capital federal e em viagens até mesmo ao exterior do que na casa de Dona Francisca Carolina.

Os outros dois filhos solteiros, Francisco Lopes de Moraes e Alfredo Lopes de Moraes, não exerciam até então cargos relevantes e levavam uma vida um pouco diferenciada relativamente à política. Por isto, conclui-se que, a partir daquele momento, a referência na “casa” já não era a figura do coronel Hermenegildo e sim Dona Francisca Carolina de Nazareth Moraes.

Várias dissertações já trataram do lado econômico da família, pontuando que o coronel Hermenegildo Lopes de Moraes construiu a sua riqueza a partir da Guerra do Paraguai, em um momento em que tropas passavam por Santa Rita do Paranaíba e ele foi um dos principais provedores do Exército na região sul de Goiás.

Entre os trabalhos publicados com enfoque na economia, destaca-se a dissertação de Hamilton Afonso de Oliveira (2006) com o título “A construção da Riqueza no Sul de Goiás – 1835-1910”, que mostra a estrutura produtiva da região, o processo de ocupação das terras e ainda permite captar o pensamento do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes em relação à necessidade de a economia do Estado estar ligada à exportação para o sudeste e para o exterior.

Quando se discute a política e o cotidiano na região sul de Goiás nesse período, duas dissertações se destacam num mesmo espaço a partir de Morrinhos e no mesmo período, sendo uma com abordagem mais política, intitulada “Morrinhos: Coronelismo e Modernização – 1889/1930” (AMORIM, 1998), e a outra com um enfoque nos aspectos sociais, tendo o título “Coronelismo e cotidiano” (FONSECA, 1998).

A participação política do coronel Hermenegildo se deu através das suas passagens como vice-presidente do Estado várias vezes no final do século XIX, como intendente em Morrinhos a partir de 1882 e ainda por meio de suas articulações para levar o filho, que tinha o mesmo nome, a uma cadeira do Congresso Nacional, além da sustentação dada ao genro José Xavier de Almeida, presidente do Estado de 1901 a 1905. Viveu também os principais embates, com destaque quando o então presidente do Estado José Xavier de Almeida rompeu politicamente com o grupo do bacharel José Leopoldo de Bulhões Jardim, em 1904. A saída do coronel da vida política se deu com sua morte em 1905 (AMORIM, 1998).

Em relação ao estudo da politização do espaço privado a partir da casa de Dona Francisca Carolina, ele tem como base o entendimento de Maria Izilda Santos Matos sobre o público e o privado, verificando-se que na coincidência das atividades familiares com as públicas, “a posição da mulher é comparável ou inclusive superior a dos homens e, quando esta situação se inverte, a desvalorização das mulheres legitima-se” (MATOS, 2002, p. 131).

Neste sentido observa-se que, enquanto os homens ocupavam os espaços públicos e políticos, as mulheres da casa de Dona Francisca também ganhavam presença e visibilidade no espaço privado, sendo que ela própria se destacava como fazendeira desde 1886, quando herdou herança de seu pai, o capitão Manoel Martins Marquez, em Santa Rita do Paranaíba. Depois, a partir de 1905, está presente na administração da parte dos bens herdados do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes.

Os primeiros anos do século XX provocaram intensas mudanças políticas no Estado de Goiás, estando frente a frente, nos embates travados, os bacharéis José Xavier de Almeida e José Leopoldo de Bulhões Jardim. A amizade que foi construída no final do século XIX se rompeu definitivamente no ano de 1904, fato que ocasionou o pedido de intervenção federal em Goiás no ano de 1905 e que não logrou êxito, mesmo em uma época em que José Leopoldo de Bulhões era ministro da Fazenda do Governo Rodrigues Alves (1902-1906).

O processo de mudança se consolidou com o movimento golpista de 1909, que impediu o bacharel Hermenegildo Lopes do Moraes, o filho, de assumir o governo do Estado, retornando os pecuaristas como líderes dos processos políticos e culminando com mudanças locais, que resultaram na emancipação de Santa Rita do Paranaíba no sul do Estado. Todos estes fatos impactaram a vida de famílias, dos políticos e das pessoas em geral no Estado de Goiás.

Até chegar ao golpe político de 1909 e a consequente emancipação de Santa Rita do Paranaíba, muitas relações de poder ocorreram tendo a política presente, no sentido de estar relacionada com a conquista, o exercício e a prática do Poder. Mas quando se amplia essa discussão e se faz uma articulação dessa categoria com as relações de Gênero, as mulheres aparecem em evidência nas relações de poder em outros setores da atividade humana, como o da família, o das escolas, o das relações interpessoais, o da religião e o dos negócios comerciais.

Os acontecimentos que se desenvolveram entre 1900 e 1909 mostram bem essas relações do poder: neles as mulheres aparecem como participantes no espaço das famílias na capital de Goiás, em Morrinhos e em Santa Rita do Paranaíba, afetando também as relações entre as pessoas, com influência nas escolas, na Igreja católica, no governo, nas cidades e em outras associações.

Nessas relações de poder, a política foi trabalhada com a participação das mulheres a partir de múltiplas ressonâncias, tanto naquela que a considera como atividade de governo e do Estado, quanto naquela referenciada por Joan W. Scott, em que ela assume uma identidade coletiva a partir da mobilização de recursos, avaliações estratégicas e manobras táticas, ou ainda como relações de poder mais gerais e estratégicas para manter o poder ou contestá-lo.

Além da politização do espaço privado, ao tratar de política não há como deixar fora as instituições públicas que a têm na essência, como os partidos, que são políticos porque têm essa finalidade dos membros e que procuram chegar ao poder (REMOND, 1996, p. 443). Mas o grande objetivo é procurar abordar as relações de poder com participação das mulheres, sempre priorizando as relações de Gênero para entender como se deu a presença das mulheres nas relações que culminaram com o Movimento golpista de 1909 em Goiás e na emancipação de Santa Rita do Paranaíba.

Utiliza-se o termo “Movimento golpista” para retratar as práticas políticas que mudaram os resultados das eleições de 1909 em Goiás, e que, segundo Itami Campos (CAMPOS, 2003, p. 88-89), foi organizado e articulado pelos coronéis insatisfeitos com a política fiscal implantada pelo grupo político de José Xavier de Almeida, que assumiu o governo de Goiás em 1901, ocasião em que duas legiões de homens armados, contando com cerca de mil recrutados a partir das regiões norte e sul do Estado, acamparam no início de 1909 na Fazenda Quinta, nos arredores da capital no Estado e no início de maio avançaram sobre a cidade de Goiás, fazendo com que o então presidente do Estado, Miguel da Rocha Lima, deixasse o governo antes do prazo final do mandato.

Ressalta-se que neste período, logo após a Proclamação da República, o termo presidente era utilizado para designar o chefe do poder Executivo no Estado de Goiás, que tinha pelo menos três vice-presidentes, normalmente coronéis das várias regiões do Estado de Goiás. Essa nomenclatura prosseguiu até a Revolução de 1930.

Assumiu a chefia do governo provisório em Goiás, na ocasião do Movimento golpista de 1909, o terceiro vice-presidente, José Baptista da Silva, que era coronel representando a cidade de Anápolis e um dos líderes revoltosos do norte, no espaço de tempo que vai da saída do então presidente, Miguel da Rocha Lima, até a colocação no poder do então perdedor da eleição de março de 1909, engenheiro Militar Urbano Coelho de Gouveia.

Os eventos eleitorais são abordados partindo do entendimento de outras aplicações que vão além do político, numa operação que consiste em organizar a transmissão do poder ou a designação de representações por um método eletivo (REMOND, 1996, p. 441).

Ao se tratar desses acontecimentos políticos, tem-se um primeiro questionamento: por que as mulheres não podiam ocupar os cargos políticos, votar e participar dos partidos políticos, embora não houvesse a vedação literal no ordenamento legislativo que disciplinava as eleições naquele período? Por certo predominava o discurso dos homens, estabelecendo que caberia às mulheres a organização do lar e a educação dos filhos, enquanto somente aos homens caberia o exercício da política.

As mulheres da casa de Dona Francisca ficaram próximas da política em Goiás quando o sobrado tornou-se um centro político entre 1901 e 1909. Com a idade avançando para a faixa de sessenta anos e todos seus filhos já casados, Dona Francisca assumiu a posição do esposo, com seu falecimento em 1905, como administradora de fazendas e de dinheiro para empréstimos, sem deixar de exercer os papéis que lhes foram reservados: de mãe, desde a década de 1860, e de avó nos cuidados dos netos mais novos nos primeiros anos do século XX.

A política continuou muito presente na casa de Dona Francisca, sendo que ela participou como proprietária da casa onde foram organizadas as eleições de deputado federal em 1905 e 1909 de seu filho, o bacharel Hermenegildo Lopes de Moraes, e também de genro, o bacharel José Xavier de Almeida, eleito Deputado Federal em 1905 e Senador em 1909. O maior feito ocorreu nas eleições de 1909 quando o filho, então deputado federal, foi eleito para presidente do Estado. Tanto o filho como o genro, apesar de eleitos, devido ao movimento golpista de maio de 1909, não assumiram os cargos para os quais foram eleitos.

A presença de Dona Francisca Carolina de Nazareth de Moraes nas relações políticas ocorre desde seu casamento com o coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, em 1869, tendo em vista que os alistamentos eleitorais e as próprias eleições se davam em espaços privados e sua casa era o centro político de Goiás neste período que vai desde a proclamação da República até a 1909.

É a partir dessa casa que é articulada a eleição do sucessor de José Xavier de Almeida no governo goiano, assim como as eleições para deputados federais do então presidente do Estado de Goiás e do filho Hermenegildo Lopes de Moraes. Na política local participavam o genro Pedro Nunes da Silva, que se tornou Intendente do Município de Morrinhos, e um dos filhos, que era deputado estadual. Não há evidências de que ela teria aberto mão do direito de dirigir a casa e a fortuna herdada em dinheiro e bens.

Em relação ao termo intendente, foi a nomenclatura utilizada para designar os chefes do poder executivo nos municípios, figura que desempenhava as funções hoje atribuídas aos prefeitos.

Enquanto Dona Francisca viveu a politização do espaço privado a partir de sua casa em Morrinhos, a sua filha caçula Amélia Augusta de Moraes foi além do papel de filha, esposa e mãe, exercido na geração de praticamente um filho a cada ano a partir do casamento, pela situação de contar nos palácios do governo com uma equipe para cuidar dos filhos pequenos ou com a própria avó. Ela pôde exercer a função de primeira-dama mais jovem do Estado de Goiás entre 1901 e 1904, quando seu marido foi presidente. Ela também o acompanhou nas viagens para o Rio de Janeiro, quando José Xavier de Almeida exerceu o mandato de Deputado Federal entre 1905 e 1908. Se não ocupou nenhum cargo político, esteve presente em todas as decisões do marido, José Xavier de Almeida, nas relações de poder entre 1901 e 1909.

A presença de Amélia Augusta nas relações políticas do esposo José Xavier de Almeida se deu a partir do casamento em 1901, com sua mudança para a capital de Goiás, quando o acompanhava como primeira-dama fazendo trabalhos sociais e reuniões festivas no Palácio de Governo. Quando José Xavier de Almeida deixa o governo de Goiás em 1905, ela está junto na viagem para a capital federal e durante o mandato do marido. Até nas campanhas de 1908, ela veio a cavalo com o marido do Rio de Janeiro para a cidade de Goiás para participação nas eleições. Até na saída do palácio do governo, em março de 1909, quando do golpe político, novamente estava presente, deixando a cidade a cavalo ao lado do então senador eleito e que não assumiu, José Xavier de Almeida.

Ainda na casa de Dona Francisca Carolina de Nazareth Moraes, a política também esteve presente na casa de suas duas filhas do primeiro casamento, tanto na de Maria Carolina da Silveira Nunes, como na de Anna Theodora da Silveira Amorim, mulheres com idades acima dos trinta anos e que viveram as relações de poder com seus maridos e sócios do padrasto, o coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, pois eram casadas, no final do século XIX, respectivamente com o Major Pedro Nunes da Silva, de Morrinhos, e com o tenente Pacífico Alves do Amorim, de Piracanjuba.

A politização do espaço privado em Santa Rita do Paranaíba ocorre a partir da casa de Messias Alexandrina Brandão, sobrinha de Francisca Carolina de Nazareth Moraes, que se casou no início de 1900 e não teve filhos. Acompanhou o esposo Jacintho Luiz da Silva Brandão, funcionário público, comerciante, fazendeiro e primeiro intendente provisório do emancipado distrito nas relações de poder entre 1900 e 1909.

No então distrito de Santa Rita do Paranaíba cabia a familiares de Dona Francisca Carolina de Nazareth de Moraes organizar os processos políticos e ocupar os cargos públicos, funções que eram realizadas pelo filho Galdino Marquez da Silveira e pelo irmão Damaso Martins Marquez, pai de Messias Alexandrina Marquez. Jacintho Luiz da Silva Brandão já conhecia a futura esposa desde seu batizado, com poucos meses de vida, e desses encontros políticos que se realizavam nas casas dos familiares de Dona Francisca acabou nascendo o casamento com Dona Messias.

Foi assim que de forma ainda tímida, as mulheres da casa de Dona Francisca legitimaram e apoiaram os discursos dos homens de quem a elas caberia ser mães, esposas, boas filhas, enquanto eles se formavam bacharéis, faziam política e ocupavam os cargos públicos. Entretanto, cada uma a sua maneira participou das diversas relações de poder, conquistando um espaço como primeiras-damas, companheiras, fazendeiras e administradoras de heranças.

Percebe-se no contexto de utilização do termo política, de René Rémond (1996, p. 447), que ocorreu um jogo de variados interesses, uma vez que os homens e as mulheres da casa de Dona Francisca foram movidos por outras circunstâncias que não as racionais ou utilitárias da busca do poder no Estado. O político foi o ponto para onde confluiu a maioria das atividades, mas permitiu recapitular outros componentes do conjunto social.

A política, em seus variados significados, estava presente em outras áreas, principalmente na imprensa, e os jornais que se destacavam no período o faziam por sua natureza e realidades políticas, em virtude de sua destinação. Ou seja, foram instrumentos transformados em armas políticas. Quando se estudam as publicações de jornais da época, como o “GOYAZ”, ligado aos Bulhões ou o “Correio Official”, voz do grupo de Xavier de Almeida, tem-se a percepção que predominavam praticamente em todo seu conteúdo assuntos da política. Era na imprensa que se via mais um meio de dominação dos homens. Eram eles os donos dos jornais, os redatores e as principais figuras que dominavam o noticiário, com o predomínio do político e dos homens em seus espaços.

A religião também, mesmo que tentando se distanciar das marcas da política e ressaltando as diferenças entre sociedades políticas e comunidades eclesiais, tornaram-se objetos de decisão política. Foram memoráveis os embates entre os liberais e o clero católico na imprensa, nos discursos e nos partidos políticos, do que resultou, inclusive, a saída de Goiás para Uberaba em Minas Gerais, no ano de 1896, do Bispo Dom Eduardo Duarte da Silva, devido a embates com José Leopoldo de Bulhões Jardim.

No período Imperial as funções religiosas misturavam-se com as políticas na administração dos municípios, devido ao sistema do padroado e também ao fato de uma autoridade religiosa executar serviços que caberiam somente ao Estado, depois da Proclamação da República.

Embora a Igreja Católica tratasse do sagrado, não há como afastar sua influência nessas relações de poder que estavam presentes entre homens e mulheres nos primeiros anos da República. Os debates sobre a obrigatoriedade do casamento civil, pelo lado dos liberais, e a luta pela manutenção do casamento religioso, pelo clero, figuraram entre os embates mais frequentes no período.

Além das disputas em relação ao casamento, a Igreja católica foi para o campo essencialmente político com a fundação de um partido católico. Como foi derrotado nas eleições nos primeiros anos da República, aos poucos o partido foi se tornando sem importância nas disputas políticas eleitorais. A Igreja perdeu na disputa da obrigatoriedade do casamento católico e também perdeu a representatividade política, que tinha antes no período imperial.

Embora todos os vestígios das relações entre as mulheres e os homens a partir de Santa Rita do Paranaíba se confluíram para a política, percebem-se outros interesses e razões que moveram essas pessoas. Francisca Carolina de Nazareth Moraes, por exemplo, não contraiu núpcias com o coronel Hermenegildo Lopes de Moraes por interesses ligados à política, já que se conheceram a partir de eventos na Paróquia do Arraial de Santa Rita do Paranaíba, tais como batizados, casamentos e festas.

Messias Alexandrina Marquez, que vivia na zona rural, teve seu enlace com Jacintho Luiz da Silva Brandão por uma paixão fulminante do noivo, já que a fez buscar na fazenda, encontrar um padre na cidade mineira de Abadia do Bonsucesso, hoje Tupaciguara, para realizar o desejo da esposa e casar-se também no religioso, embora no período fosse obrigatório apenas o casamento por ato civil. Essa união nasce de relações com a família, através do avô, pai e tio, as quais eram antigas e cotidianas, e não necessariamente com fins políticos.

Informações colhidas nos documentos da Igreja Católica tornam possível verificar, no casamento de Messias com o coronel Jacintho Luiz da Silva Brandão, relações de poder entre a Igreja e o coronel, uma vez que se percebe que a jovem de dezesseis anos tinha o desejo de se casar na Igreja Católica. O coronel Jacintho Luiz da Silva Brandão havido sido padrinho de batizado de Messias no ano de 1884, e não era tão participante das atividades da Igreja, como se percebeu em pelo menos uma das passagens do então bispo da diocese de Goiás na década de 1890 por Santa Rita do Paranaíba. No episódio do casamento, o padre local se recusou a fazer o casamento em 1900 da afilhada e do padrinho, mas o obstáculo foi vencido com a vinda de outro padre da cidade mineira de Tupaciguara, que realizou a cerimônia religiosa.

Não se pode falar, em relação ao casamento de Amélia Augusta de Moraes e José Xavier de Almeida, que ele tenha sido de interesse eminentemente relacionada à política ou que seria apenas para a busca do apoio financeiro do então eleito presidente do Estado para bancar seus projetos pessoais. Se assim fosse, essas relações, que começaram bem antes, com as viagens do então deputado federal em março de 1900 quando foi para o Rio de Janeiro exercer o mandato de deputado federal e culminaram com o Movimento de 1909, com a derrota de seu grupo político, teriam perdido forças. Mas percebe-se, pelas aparições dos mesmos, que os laços seguiram fortes, mesmo depois da saída de José Xavier de Almeida do cenário de disputas políticas no Estado. É também um caso em que é possível concluir que não foi casamento arranjado, pois estavam presentes mais razões pessoais no relacionamento do que propriamente razões políticas e econômicas.

Além das viagens de Goiás ao Rio de Janeiro, em que Morrinhos era um ponto de passagem, assim como a cidade mineira de Uberaba, locais em que estavam presentes tanto Amélia Augusta de Moraes, por morar em Morrinhos e estudar o curso normal na cidade do Triângulo mineiro, como Hermenegildo Lopes de Moraes, pois esse era igualmente o caminho percorrido pelo bacharel, que era também deputado federal. Estes fatos levaram José Xavier de Almeida a conhecer a família e o coronel Hermenegildo Lopes de Moraes e, posteriormente, a casar com Amélia Augusta de Moraes, o que se deu um ano depois, em 1901.

Tanto no casamento do líder local, coronel Jacintho Luiz da Silva Brandão, com Messias Alexandrina, que se caracterizou pela união do homem já maduro, com mais de cinquenta anos, e a mulher com pouco mais de dezesseis, como no casamento do líder estadual, José Xavier de Almeida, com Amélia Augusta de Moraes se repete o fenômeno, quando a política aproxima homens e mulheres e avança para o espaço privado, sempre tendo a benção da Igreja Católica no sul de Goiás.

Quando se aborda o acontecimento da emancipação de Santa Rita do Paranaíba, verifica-se que a política estava presente nas diversas relações e modificou o curso das vidas das pessoas, tanto no Distrito como em Morrinhos que vivia tempos áureos nesta área. Criou-se neste período uma nova geração e suas lembranças, que até então perduraram, foram carregadas de afetividades positivas ou negativas (REMOND, 1996, p. 447). Foram negativas para todo o grupo político de Morrinhos, que deixou de ser o centro de atenção, e alcançou também aqueles que até então dominavam o cenário político, fazendo surgir novos atores também na então emancipada Santa Rita do Paranaíba, em 1909.

Embora voltassem a receber atenção, a partir de 1912, quando outro grupo político assumiu o poder em Goiás, o político marcou como uma das expressões das relações sociais de Santa Rita do Paranaíba e Morrinhos, que certamente teve outra forma de conceber a política, diferente da maneira como até aquele momento fora conduzida no então Distrito, como a mulher dominada, sem vez e sem voz no espaço público (RÉMOND,1996, p. 449).

Os vários acontecimentos trazem inúmeros significados políticos no período: a união de Amélia Augusta de Moraes com José Xavier de Almeida marca, por exemplo, o apogeu do poder político do grupo de Morrinhos; já o Movimento de 1909, por outro lado, vai marcar o final de carreiras políticas, de independência, de nascimento de um novo município e de novas relações de poder.

Ao se analisar a política nesse período propicia-se explorar outros acontecimentos, como casamentos e processos eleitorais que marcaram as mudanças em Goiás no início do século XX, culminando com o Movimento golpista de 1909 na capital do Estado e com a emancipação de Santa Rita do Paranaíba no sul.

Também inovando na própria abordagem, pretende-se ir além do que é específico na política de disputa pelo poder no Estado de Goiás, como admoesta Antoine Prost quando, ao tratar das palavras (PROST, 1996, p. 295), orienta a buscar o que não está evidente nas disputas eleitorais pelo poder e ocupação dos cargos públicos no Estado.

Analisam-se os discursos e os jogos políticos da Primeira República, que não se resumiram na luta pela cadeira de presidente do Estado através dos partidos. Procura-se, a partir desses acontecimentos políticos, refletir sobre o que é secundário, implícito e mascarado nos discursos eleitorais, nos discursos dos comerciantes e dos fazendeiros, nas mensagens da Igreja Católica através dos Bispos.

Observa-se todo um arcabouço de disputas entre políticos liberais que assumem o poder com a Proclamação da República e conservadores que procuram reconquistar o espaço da Igreja Católica perdido em 1890; trata-se aqui também de fazendeiros que querem fugir do pagamento de impostos no governo de Xavier de Almeida, famílias que querem ocupar os principais cargos públicos e manter suas riquezas, entre outros aspectos.

Trava-se ainda uma busca de informações sobre as mentalidades, as maneiras de pensar dos grupos sociais e políticos em determinadas datas e lugares específicos (PROST, 1996, p. 315). Os políticos liberais realmente buscavam o Estado Moderno, ao mesmo tempo em que negavam espaço para a participação das mulheres nos partidos políticos e nas eleições? A Igreja queria realmente engrandecer a Pátria e a Liberdade, ou somente manter o poder temporal?

Como respostas a essas questões, formulam-se hipóteses, como a de que os políticos liberais, que inicialmente buscaram a queda da monarquia, estavam mais preocupados na ocupação do poder em seus Estados do que necessariamente na implantação de um estado moderno, e foram conservadores em relação à participação das mulheres nos processos políticos.

Percebe-se também, entre as coisas não evidentes nessas relações, que a Igreja Católica estava preocupada na reconquista do espaço de poder que tinha antes, no período monárquico, quando caminhara junto com o poder do Império, mas fora alijada pelos republicanos. Utilizou o discurso da necessidade do casamento religioso, não somente pela defesa do sagrado, mas principalmente preocupada com o poder terreno perdido.

Não se pode atribuir a conquista do governo do Estado a um simples confronto entre coronéis do período. Os grupos utilizaram os meios possíveis e fizeram suas alianças para alcançar seus objetivos dentro das regras vigentes. Ora, nem a José Leopoldo de Bulhões Jardim, nem a José Xavier de Almeida poderiam ser atribuídas as características de puros coronéis do século XX. Eles tiveram aliados coronéis, mas suas ações foram desenvolvidas principalmente nos processos eleitorais, utilizando os meios apropriados na época para terem o controle do poder através da Legislação, das juntas eleitorais e do Congresso Goiano formado pela Câmara de Deputados e Senadores Estaduais.

Ao tratar de política e suas experiências nas relações de Gênero, percebe-se a participação das mulheres e sua visibilidade em relações que envolvem várias pessoas, desde padres, bispos, até fazendeiros, comerciantes, políticos que também participaram dos acontecimentos, seja através de um partido, de um jornal ou de uma revista. A amizade de uns pode ter levado à atração pela causa ou até à rivalidade, assim como à ruptura. Certamente, sentimentos e afetividades prevaleceram tanto quanto a razão presente nos embates políticos.

No campo dos sentimentos e nas relações de poder, observa-se que José Xavier de Almeida tinha grande afetividade para com José Leopoldo de Bulhões Jardim, mas seu casamento com Amélia Augusta de Moraes o levou a um distanciamento do seu criador e até à ruptura, em 1904, pela ocupação de cargos no governo do Estado por adversários de Bulhões.

As ideias também moveram a política no período, através dos intelectuais com seus discursos pelo Abolicionismo, pelo Federalismo e pela República, que se uniram pela causa e foram vencedores nos vinte primeiros anos da República.

A Igreja que havia rompido com a política em 1896, mudou com o tempo e a partir de 1908 a relação novamente passou a ser amistosa. Os fazendeiros que se sentiram derrotados com a vitória e o governo de José Xavier de Almeida, ganharam o poder com a chegada do também bacharel e fazendeiro Antônio Ramos Caiado, que, na ocasião do Movimento de 1909, havia se unido com José Leopoldo de Bulhões Jardim. Tais relações demonstram outros sentimentos e afetividades, que prevaleceram nestas relações de poder em Goiás até o Movimento golpista de 1909 e a emancipação de Santa Rita do Paranaíba.

No meio das relações de poder borbulharam ideologias e projetos, destacando-se o abolicionismo, o federalismo, o laicismo, bacharelismo, coronelismo e positivismo, entre outros, como coloca o professor de História das Ideias Michel Winock, que fala da influência das ideias no campo político (WINOCK, 1996, p. 271). Assim, no momento em que as luzes eram dominantes com sua ideia de força- motriz das sociedades em direção ao progresso, o discurso era de dominação total dos homens em relação às mulheres, como destaca Soihet:



Constituem-se as mulheres, de acordo com a maioria dos filósofos iluministas, no ser da paixão, da imaginação, não do conceito. Não seriam capazes de invenção e, mesmo quando passíveis de ter acesso à literatura e a determinadas ciências, estariam excluídas da genialidade. A beleza atributo desse sexo era incompatível com as faculdades nobres, figurando o elogio do caráter de uma mulher como a prova de sua lealdade (SOIHET apud SANTOS, 1997).



Além do Iluminismo, o Positivismo e o Liberalismo eram ideias presentes nos principais embates políticos do período da Primeira República, daí a necessidade de localizar as pessoas em suas atividades reais, como nas famílias políticas desde Santa Rita do Paranaíba, passando por Morrinhos e pelas capitais do estado e do país, ampliando o objeto de estudo (WINOCK, 1996, p. 282).

Estas ideias também foram buscadas através dos jornais, uma das fontes mais ricas no período, além das pinturas, utilizadas como representação. Enfim buscaram-se observar as variações das palavras no tempo, porque as ideias políticas daquele período não eram apenas dos filósofos, políticos e teóricos, mas também do homem comum, como mostra Aline Tosta Santos, em seu trabalho, quando destaca a influência do Positivismo no final do século XIX na formação do papel social das mulheres e das justificativas para as diferenças em relação aos homens:



Acompanhando as correntes de pensamento europeu, no Brasil durante o século XIX foi grande a difusão do Positivismo e do Evolucionismo. Estas teorias utilizavam a diferença biológica entre os sexos como uma justificativa para as desigualdades sociais e culturais entre homens e mulheres (SANTOS, 2010, p. 5).



É possível Identificar as marcas das ideias em todos os setores da sociedade e, notadamente, nos comportamentos políticos das pessoas nas relações de poder nos primeiros anos da República. Fazendo um exercício de pesquisador que passa de uma história da literatura e da filosofia para uma história das mentalidades políticas, realiza-se a tarefa de conhecer os sistemas de representação da sociedade, não só a ideia que age, mas o lugar de onde ela saiu (WINOCK, 1996, p. 285).

Em Santa Rita do Paranaíba verifica-se uma mentalidade apequenada. O interesse é apenas local, pela ocupação dos cargos públicos. Já a partir de Morrinhos, os interesses vão além do local, quando o coronel Hermenegildo Lopes de Moraes prepara os filhos para assumirem grandes cargos no Estado e no Congresso Nacional, e controla o sistema político através de suas alianças e de seu poderio econômico. Com o bacharel e ex-ministro da fazenda nacional, José Leopoldo de Bulhões Jardim, o interesse é nacional e suas ideias são geradas a partir da Academia de Direito em São Paulo.

José Leopoldo de Bulhões, a partir da amizade com seu grupo de bacharéis nos primeiros anos da República, ocupou o Ministério da Fazenda, por ser contemporâneo na Faculdade de Rodrigues Alves; combateu a Igreja Católica, pela formação liberal e anticatólica, inclusive realizando seu casamento só no civil; utilizou um conjunto de instituições do Estado e da sociedade para pôr em prática o ato de dominação, como dos partidos políticos, da imprensa e do próprio Estado para fazer prevalecer sua vontade, até o momento em que José Xavier de Almeida, utilizando dos mesmos instrumentos, lhe tirou o poder em Goiás até 1904, retomando-o através de golpe em 1909.

Trabalha-se a história política com a participação das mulheres, em um processo que vai além de aspectos da história econômica, social e política voltada para longa duração, com seus heróis a partir da figura central do Estado, num período em que todas as realizações eram atribuídas aos coronéis, para abordar o assunto através da história política e de Gênero, com vários sujeitos e relações, colocando as mulheres em evidência na participação nas relações de poder com seus bacharéis.

Para essa nova abordagem levou-se em consideração a análise historiográfica embasada em René Rèmond, no seu estudo da trajetória da história política desde seu apogeu, passando pelo período de desprestígio com a Escola dos Annalles e chegando ao momento atual, em que recuperou sua importância na pesquisa histórica (RÈMOND, 1996).

Enfim, através da política procura-se abordar o Movimento golpista de 1909 e a emancipação de Santa Rita do Paranaíba, a partir da recuperação da nova história política, colocando como ponto comum a política e o Gênero como domínio privilegiado de articulação de todo social, com novos objetos, novos sujeitos, e não apenas através dos partidos, eleições e biografias.

Levam-se em consideração outros elementos, como a mídia, a opinião pública e o discurso e tendo o contato com outras disciplinas, o que permitirá mais à frente a análise dos processos eleitorais, dos grupos de pressão, da opinião pública, do discurso e das razões que levaram às mudanças em Goiás nos primeiros anos da República.



STEMAC VAI CONTRATAR MAIS DE 200 PROFISSIONAIS EM VÁRIAS ÁREAS

EMPRESA ABRE PROCESSO DE CONTRATAÇÃO COM MAIS DE  200 VAGAS







A empresa STEMAC, indústria de geradores instalada em Itumbiara abriu mais um processo de contratação com mais de 200 vagas para várias áreas como Produção, Manutenção, Administrativa, Logística e materiais.
Interessados poderão enviar curriculo no email: vagasitumbiara@stemac.com.br ou  ir até até a fábrica localizada no Distrito Industrial II de Itumbiara, localizado na BR 153 km 692 número 7015.

ROUBO DE CAMINHONETE NO BAIRRO SANTA MARIA

LADRÕES EM HONDA CIVIC LEVAM CAMINHONETE NISSAN FRONTIER


Por volta de 22 horas desta quinta-feira na Avenida Castelo Branco no Bairro Santa Maria, tres ladrões que utilizavam um veículo Honda Civic cor prata roubaram uma caminhonete Nissan Frontier cor preta placa OMX 5887. A condutora que mora no Bairro Marolina, foi abordada por um dos ladrões que estava armado e anunciou o assalto. Não foram identificados os assaltantes.
No ano passado houve roubo semelhante nas proximidades da Estrada do Centro de Zoonoses, proximo a BR 153.

quinta-feira, 27 de março de 2014

UM POUCO DA HISTÓRIA DO SUL DE GOIÁS - RESUMO E INTRODUÇÃO


CASAMENTO, EMBATES E ARRANJOS POLÍTICOS EM GOIÁS: UMA ABORDAGEM DAS RELAÇÕES DE PODER NA PERSPECTIVA DE GÊNERO

Autor: NILSON FREIRE
RESUMO






Este trabalho pretende inovar na abordagem dos embates e arranjos políticos em Goiás que resultaram na emancipação de Santa Rita do Paranaíba no sul do Estado, a partir da reflexão sobre a participação das mulheres no campo político, levando em consideração a categoria Gênero na concepção da historiadora norte-americana Joan W. Scott, como forma primária de relações significantes de poder. A pesquisa está estruturada em três partes e procura utilizar a definição de Poder segundo o pensamento de Michel Foucault que o vê  como feixes mais ou menos organizados, sem estar centralizado em uma instância das organizações sociais. Na parte inicial a política é abordada dentro do contexto da nova história política, com um deslocamento do poder de instituições públicas e do Estado para a vida privada e cotidiana de homens e mulheres. O eixo da pesquisa está na segunda parte ao privilegiar a perspectiva de Gênero para analisar e dar visibilidade as mulheres. Ao final procura-se trazer novas interpretações e significados aos eventos políticos ocorridos neste período por meio de estratégias metodológicas que permitam revelar o “não dito” nas pesquisas sobre o assunto. A abordagem central leva em consideração as mulheres, que embora não pudessem participar das eleições e dos partidos políticos,  conseguiram influenciar as relações de poder, a partir de outros ambientes privados, com atuação alternativa levando o político para o cotidiano familiar, religioso e social. Por este enfoque o trabalho privilegia o estudo das ações de mulheres pertencentes a uma família de Morrinhos no sul do Estado  para descobrir como   participaram  nas relações sociais e políticas que influenciaram no surgimento do movimento golpista de 1909 em Goiás e na emancipação  política de Santa Rita do Paranaíba. O trabalho  procura diferenciar-se de algumas abordagens descritivas que se tornaram preponderantes na historiografia goiana  que atribuem aos coronéis o papel de protagonistas das relações de poder na primeira República em Goiás, oferecendo como resultado um novo documento histórico com novas questões, hipóteses e um método que utiliza a categoria Gênero para analisar e compreender como se deram as relações sociais e políticas entre homens e mulheres que configuraram novas instituições do período republicano,  relações de dominação, elaboração das normas eleitorais,  papéis sociais e  práticas que foram contestadas, transformadas ou legitimadas nestas relações de poder.



Palavras-chave: Política, Mulheres, Poder, Gênero, Emancipação.     INTRODUÇÃO



Durante os primeiros anos da República em Goiás, ocorreram vários embates e arranjos políticos com relações de poder, os quais foram descritos pela historiografia goiana com a abordagem tradicional da história política. Foram considerados como protagonistas os coronéis que se organizaram em grupos para obtenção do poder no Estado.

Na descrição dos embates ocorridos no período aparecem como principais articuladores os bacharéis em direito formados pela Faculdade do Largo do São Francisco em São Paulo, José Leopoldo de Bulhões Jardim e José Xavier de Almeida.

Bulhões se tornou ministro da fazenda no governo Rodrigues Alves, entre 1902 e 1906, e depois entre 14/06/1909 e 15/11/1910, no governo Nilo Peçanha. Além de ministro, foi diretor do Banco do Brasil, deputado federal e senador da República. Sua base de atuação política foi a capital federal nos primeiros anos da República.

O principal opositor, José Xavier de Almeida, aliado de Bulhões nos primeiros anos da República, tornou-se presidente do Estado de Goiás entre 1901 e 1905, figura que corresponde a governador nos dias atuais. Foi ainda Secretário de Estado, deputado federal e eleito senador federal em 1909, sem, entretanto, assumir a cadeira. Iniciou a política na capital do Estado e transferiu sua base política para a cidade de Morrinhos, no sul de Goiás.

Após várias disputas, ambos os bacharéis foram sucedidos no poder por outra personalidade formada na área de direito na mesma faculdade paulista: Antônio Ramos Caiado, fazendeiro, deputado federal e também antigo aliado tanto de Bulhões como de Xavier de Almeida. Ajudou a liderar o movimento político de 1909, que tirou o comando político de Morrinhos no governo do Estado e após 1912, tornou-se a liderança política que coordenou as relações de poder no Estado de Goiás até o ano de 1930.

Nessas relações de poder foi excluída a presença de mulheres na política, reforçando assim o discurso universal de dominação dos homens sobre as mulheres, que se fazia presente na Igreja, na família, na imprensa, nas legislações, nos cargos públicos, nos governos e nos parlamentos.

As disputas políticas e conquistas das instituições em que o poder se concentrava no Estado nesses primeiros anos da República foram descritas na historiografia goiana como um sistema protagonizado pelos coronéis, termo utilizado tanto no sentido dado aos antigos titulares de patentes da antiga Guarda Nacional criada em 1831, como no atribuído à política comandada por fazendeiros, comerciantes, bacharéis e capitalistas de Goiás, que dominaram todo o sistema eleitoral no período.

Ao ampliar a historiografia política sobre este processo, almeja-se dar visibilidade às mulheres a partir de casamentos que tiveram origem na casa de Dona Francisca Carolina de Nazareth Moraes, que deixou Santa Rita do Paranaíba em 1871 e mudou-se para Morrinhos, após ter contraído o segundo matrimônio com o coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, no ano de 1869.

Santa Rita do Paranaíba, até julho de 1909 era um pequeno distrito com cerca de dois mil habitantes, localizado no sul de Goiás e ligado administrativamente ao município de Morrinhos, que na época possuía cerca de treze mil habitantes. Essa região servia como principal ponto de ligação do Estado de Goiás com a região sudeste do Brasil, através da cidade mineira de Uberaba.

Morrinhos tornou-se referência comercial na região sul de Goiás, através da estrada do sul e da ponte Afonso Pena em Santa Rita do Paranaíba, que foi inaugurada em novembro de 1909. Situada no ponto de divisa de Goiás com Minas Gerais, por essa ponte havia intenso comércio e transporte, ligando o sul do Estado a cidades como Uberlândia e Uberaba no Estado mineiro, ponto final por onde chegava a linha ferroviária vinda de São Paulo e eram transportadas pessoas e mercadorias.

Em todos os capítulos, os estudos procuram dar visibilidade à participação de mulheres de uma família que se fez presente nas relações de poder em Goiás na Primeira República, com destaque para a figura e a casa de Dona Francisca Carolina de Nazareth Moraes. Essa mulher, nascida em Santa Rita do Paranaíba por volta de 1843, mãe de sete filhos, católica, fazendeira, primeira-dama de Morrinhos e viúva por duas vezes, teve como origem uma família mineira de Uberaba, Minas Gerais, que na década de 1840 havia se mudado para o povoado de Santa Rita do Paranaíba. Esse povoado se tornou distrito por volta de agosto de 1852.

Uma referência à emancipação da mulher dá-se quando Dona Francisca se torna herdeira, em 1905, de grande fortuna em fazendas, créditos, comércios e depósitos, tornando-se administradora da casa que foi o centro do poder político em Goiás entre os anos de 1901 e 1909, período marcado pelo processo de deslocamento provisório das decisões políticas da capital para o interior de Goiás.

Esta é uma oportunidade de se refletir sobre os casamentos, arranjos e embates políticos através de análise das relações de poder que resultaram na emancipação de Santa Rita do Paranaíba em 1909, tendo as mulheres como foco central nas suas relações de poder e com a política, com abordagem nos moldes da nova história política.

A construção da obra se faz com a utilização do método de pesquisa bibliográfica, auxiliado pelo paradigma indiciário para observação de sinais e vestígios presentes em figuras, quadros, pinturas, documentos e jornais, fontes que tornam atraentes os caminhos a serem percorridos e assim proporciona desvendar a participação das mulheres em acontecimentos que marcaram os primeiros anos da República em Goiás.

A proposta inova nas conclusões, quando oferece como resultado um novo documento histórico com novas questões, hipóteses e um método que utiliza a categoria Gênero para analisar e compreender como se deram as relações sociais e políticas entre homens e mulheres que configuraram novas instituições do período republicano, modos de dominação, elaboração das normas eleitorais, papéis sociais e práticas que foram contestadas, transformadas ou legitimadas nessas relações de poder.

Descobrir a presença das mulheres nas relações de poder na Primeira República em um contexto de dominação dos homens na política é um desafio que se verifica com a politização dos espaços privados, como na família, nas viagens, nas igrejas e nos palácios. Esta é a principal novidade que se pretende acrescentar à historiografia da política goiana existente sobre o período estudado.

Em relação aos espaços ocupados pelas mulheres, procuram-se adotar os conceitos de público e privado como algo histórico, levando em consideração as constantes mudanças que ocorreram ao longo do tempo. As linhas de demarcação são tratadas de modos distintos, havendo momentos em que as atividades familiares e as públicas se mesclaram e em outras ocasiões em que foram explicitamente diferenciadas.

Entender como as mulheres agiram para contestar ou legitimar um discurso de dominação e ainda descobrir os fatores que levaram a região sul de Goiás a ter um papel importante no destino do Estado e assim, acrescentar algo novo na historiografia goiana para se juntar aos trabalhos existentes, são fatores de motivação para a realização do trabalho.

O percurso da pesquisa é de constante interrogação e formulação de hipóteses, com o questionamento sobre como as mulheres, através do casamento, influenciaram nos embates e arranjos políticos, mesmo que excluídas dos processos eleitorais, dos partidos políticos e da ocupação de cargos públicos.

Com base nessas relações de poder, procura-se responder como foi possível a essas mulheres ir além dos papéis de mãe, esposa e filha a elas reservados pela sociedade, assim como descobrir o processo da politização dos espaços privados que possibilitaram a visibilidade e protagonismo em um momento em que tudo foi atribuído aos homens.

Questiona-se também se as mulheres teriam conseguido a emancipação na Primeira República ou se teriam concordado com o discurso de dominação dos homens. Teriam elas rompido o discurso de dominação nas relações de poder em Goiás? E quais fatores influenciaram na emancipação de Santa Rita do Paranaíba a partir da casa de Francisca Carolina de Nazareth Moraes? A todas estas questões se propõe responder ao final do trabalho.

A pesquisa está estruturada na observação da participação das mulheres nas relações familiares, na política e na sociedade em geral, com análise baseada na definição de Gênero feita pela americana Joan W. Scott, quando utiliza o termo na concepção de forma primária de relações significantes de poder (SCOTT, 1995, p. 12).

A questão do poder é vista como relações de poder, discutidas na visão de Michel Foucault (1979, p. 248), que o descreve como feixes mais ou menos organizados, sem estar centralizado em uma única instância das organizações sociais.

A política é abordada dentro do contexto da nova história politica, com um deslocamento do poder de instituições públicas e do Estado para a vida privada e cotidiana de homens e mulheres. O eixo da pesquisa está na parte que privilegia a perspectiva de Gênero para analisar e dar visibilidade às mulheres.

A definição de Política está embasada no pensamento também de Joan W. Scott, que faz uma reflexão crítica sobre a conexão histórica das mulheres com a política e a própria disciplina História, destacando os vários sentidos desta categoria levados em consideração na análise do cotidiano das mulheres (SCOTT, 2011, p. 68-69).

Trazem-se novas interpretações e significados aos eventos políticos ocorridos nesse período, com estratégias metodológicas que permitem encontrar, através de vestígios e sinais, algo ainda não revelado nas pesquisas anteriores sobre o assunto.

Observa-se a participação das mulheres que, embora não pudessem participar das eleições e dos partidos políticos, conseguiram influenciar nas relações de poder a partir de outros ambientes privados, com atuação alternativa que levou a política para o cotidiano familiar, religioso e social.

Como essas mulheres agiram e que influências tiveram na política, num período em que todas as realizações eram atribuídas aos homens? O que fizeram para legitimar ou contestar essa situação de dominação dos homens manifestada nas instituições como Família, Igreja, Estado, Imprensa e Escola?

Avança-se nos questionamentos para alcançar a resposta sobre qual foi o papel dessas mulheres no processo de emancipação de Santa Rita do Paranaíba, mesmo não podendo fazer parte dos cargos públicos, dos partidos políticos e das eleições.

Quais foram as relações entre bacharéis, políticos e funcionários públicos que ajudaram na emancipação de Santa Rita do Paranaíba? São questões sobre as quais se pretende refletir e responder.

Ao utilizar a categoria Gênero para análise histórica do período, além de dar visibilidade às mulheres nas relações de poder, o trabalho procura abordar de maneira diferenciada os protagonistas desse período, analisando os papéis atribuídos aos bacharéis em Direito no lugar que a historiografia goiana sempre reservou aos coronéis, quando tratou dos embates e arranjos políticos da Primeira República.

Ao se abordar a figura dos coronéis, não se colocam os mesmos como protagonistas e trabalha-se com a concepção relacionada às pessoas detentoras de patentes criadas com a Guarda Nacional a partir de 1831 e não com a concepção do típico coronel goiano tratado pela historiografia, que o vê como aquele detentor de terra ou comerciante, que utiliza a força para dominar e controlar os processos eleitorais.

A partir da casa comandada pelo coronel Hermenegildo Lopes de Moraes até 1905 e depois por Dona Francisca Carolina de Nazareth Moraes, analisam-se várias relações de poder, não se faz apenas relato de ações políticas e econômicas já citadas em várias outras obras.

Na primeira parte do trabalho trabalha-se com a nova história política, com abordagem técnico-metodológica da história política renovada, em que os comportamentos coletivos são mais destacados do que as iniciativas individuais, ocasião em que se interroga sobre o sentido dos fatos e formulam-se hipóteses, entre as quais se destacam a da participação efetiva das mulheres nas relações de poder.

O perfil das mulheres é destacado através das presenças e relações a partir da casa de Francisca Carolina de Nazareth Moraes e suas filhas, todas primeiras-damas, desde a própria dona da casa, sua filha mais jovem, Amélia Augusta de Moraes, que se casou com o presidente do Estado, bacharel José Xavier de Almeida, em julho de 1901, até as duas filhas do primeiro casamento.

As filhas de Francisca, com origem no primeiro casamento em Santa Rita do Paranaíba, estão presentes neste estudo. Maria Carolina da Silveira Nunes, que se casou com o tenente Pedro Nunes Silva, de Morrinhos, e com quem teve seis filhos, assim como Anna Theodora da Silveira Amorim, que foi casada com o major Pacifico do Amorim, cuja união resultou em treze filhos. Ambas seguiram ainda crianças para Morrinhos, onde estudaram, e após os casamentos com os sócios e aliados políticos do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, tornaram-se primeiras-damas em Morrinhos e Piracanjuba.

Na segunda parte do trabalho, quando se abordam as relações entre homens e mulheres no casamento, procura-se fazer um estudo das mulheres no período, sem adotar a concepção da realização de casamentos arranjados nas relações políticas, como tratada em outras obras. Faz-se análise das formas como os relacionamentos se iniciaram, foram construídos e como se concretizaram em núpcias, para se chegar assim a outras conclusões diferentes das existentes atualmente.

Ao se fazer ainda a análise da vida das mulheres, vai se perceber que essa família vivia bem diferente da maioria no período, quando as mulheres com poucos recursos econômicos ocupavam-se de serviços domésticos e como costureiras e lavradoras.

As mulheres oriundas da casa do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes podiam avançar com o conhecimento em atividades culturais, religiosas e escolares, e assim alcançar a formação do curso normal, como ocorreu com Amélia Augusta de Moraes, que estudou até o segundo ano na cidade mineira de Uberaba.

A figura de Amélia Augusta de Moraes será utilizada como uma das referências de superação do papel das mulheres atribuído pela sociedade, a partir do momento que se torna a mais jovem primeira-dama do Estado de Goiás desde a Primeira República. Seu casamento se deu por ato civil na casa de Dona Francisca e por ato religioso na Igreja local em Morrinhos.

Assim, Amélia Augusta de Moraes esteve junto em todos os momentos de ascensão e queda do marido na política goiana nos primeiros dez anos do século XX, percorrendo os caminhos entre a capital do Estado e a capital federal, sempre tendo como ponto de partida ou chegada a cidade de Morrinhos no sul de Goiás.

A terceira parte do trabalho tratará dos acontecimentos políticos de 1909 a partir do deslocamento do centro do poder político da cidade de Goiás, então capital do Estado, para a cidade de Morrinhos. Destaca-se inicialmente o papel dos bacharéis nesses movimentos políticos, reflete-se sobre os acontecimentos políticos e conclui-se com a participação das mulheres nesse momento importante da política goiana.

O casamento ocupa um lugar de destaque nos embates e arranjos políticos, cujas relações retratadas começaram com o matrimônio de Francisca Carolina de Nazareth Moraes com Hermenegildo Lopes de Moraes em 1869, no então povoado de Santa Rita do Paranaíba, e se ampliaram para Morrinhos em razão de outros casamentos, como o de José Xavier de Almeida e Amélia Augusta de Moraes em 1901.

Ainda em Morrinhos são tratados outros casamentos, como das enteadas do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, Maria Carolina Nunes, com o tenente Pedro Nunes da Silva, e Anna Theodora Silveira do Amorim, com Pacífico Alves do Amorim. Nesses dois casos, as relações que começaram comerciais foram além, para a política, tendo em vista que os homens eram sócios e pessoas da confiança do coronel Hermenegildo em alguns estabelecimentos comerciais.

As relações que envolvem o casamento como entrada completa-se com o enlace de Messias Alexandrina Marquez com o coronel Jacintho Luiz da Silva Brandão em 1900, unindo o chefe político local com a família de Dona Francisca Carolina de Nazareth Moraes em Morrinhos, já que Messias era sua sobrinha.

Assim, casamento, embates e arranjos políticos são tratados de maneira analítica na terceira parte do trabalho, quando se discute como ocorreu o processo do deslocamento do poder político da capital de Goiás para Morrinhos.

Esse processo tem início com a chegada ao governo de Goiás, em 1901, de José Xavier de Almeida e termina com o Movimento político de 1909. Esse período é precedido de uma década, quando José Leopoldo de Bulhões Jardim foi o comandante da política goiana desde a Proclamação da República, sempre através de seus cunhados, já que ficava na capital federal no Rio de Janeiro, ora como deputado federal ou senador, ora como ministro da fazenda ou diretor de banco público.

A abordagem das relações de poder na perspectiva de Gênero, com análise dos vários embates e arranjos políticos em Goiás, inova na historiografia goiana, pois além de considerar as mulheres como sujeitos participantes desses acontecimentos políticos, também irá considerar a nova história política, procurando observar a participação e a presença delas através de instituições que vão além da figura do Estado, como os partidos políticos, o sistema eleitoral, a Igreja, as famílias a Escola e a Imprensa.

Na última parte reflete-se propriamente sobre os diversos embates e arranjos políticos a partir de comportamentos coletivos e relações de Gênero que se desenvolveram nos primeiros anos da República em Goiás a partir de novos sujeitos como os bacharéis e suas mulheres, o clero católico, os bacharéis liberais e propõe-se uma hipótese de como se deu o processo da emancipação de Santa Rita do Paranaíba, que seria a medida primeira do retorno do poder político à capital de Goiás, depois de quase uma década de deslocamento para Morrinhos.

Colocam-se em evidências novos protagonistas nos embates e arranjos políticos, com a presença e visibilidade das mulheres nas relações que vão além dos espaços públicos que foram demarcados para os homens na política, para chegar à politização dos espaços privados na casa de Dona Francisca Carolina de Nazareth Moraes.



DEZOITO CACHORROS GANHARAM NOVA CASA EM FEIRA DE ADOÇÃO

PRIMEIRA FEIRA DA ADOÇÃO REALIZADA POR VOLUNTÁRIOS NA PRAÇA SEBASTIÃO XAVIER JUNIOR ALCANÇOU RESULTADO POSITIVO

Canil Quatro Patas - Bairro Santa Rita
Vários voluntários realizaram no último dia 16 na Praça Sebastião Xavier a Primeira Feira de Adoção de Animais, organizada pelo Canil Quatro Patas de Itumbiara, Organização Não Governamental.
Atualmente a casa de Recepção e acolhimento de animais em situação de rua conta com cerca de sessenta animais, que recebem cuidados de veterinários parceiros que realizam os serviços com  custos reduzidos, além de alimentação adquirida com valores subsidiados pelos voluntários, limpeza diária e vacinação periódica. Algumas castrações são feitas também com valores reduzidos.
A Casa de Recepção localizada no Bairro Santa Rita tem custeio mensal superior a R$ 1 mil, sem contar a mão de obra de voluntários e não conta com recursos de órgãos públicos.  O local é mantido por doações voluntárias e o aluguel  é custeado por um doador de Goiânia.

 A FEIRA
Pelo menos vinte animais foram encaminhados para a  Feira de Adoação que começou na manhã do sábado e em pouco mais de duas horas, cerca de dezoito animais foram adotados. Somente o cãozinho chamado "Leão" que foi retirado da rua com ferimentos em uma das patas e que acabou sofrendo amputação não conseguiu ser adotado. Outro animal, após adotado, acabou fugindo e das duas dezenas adotados, dezoito tem nova casa.
O grupo de voluntários que organizaram a feira, acompanham por um período o animal adotado, observando se os mesmo estão sendo bem cuidados.

A ORGANIZAÇÃO DA ENTIDADE
Nos próximos dias, os voluntários deverão organizar uma assembléia para formalizar a constituição de uma organização não governamental com Estatuto próprio registrado em Cartório e posterior aprovação de utilidade pública, tornando possível obter a conquista de um local para reduzir os custos de mantenção.