quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O CINEMA GOIANO E A HISTÓRIA CULTURAL

RESUMO






Este trabalho procura relacionar as principais ideias que foram debatidas através de seminários e apresentações de filmes relacionados a História e Estudos Culturais. O conceito de cultura é refletido a partir do cinema documental e sua relação com a realidade social. Inicialmente trata da argumentação do cineasta e professor Luiz Eduardo Jorge para a realização do curto metragem sobre o acidente radiológico com o Césio 137 em 1987 na cidade de Goiânia, que procurou representar a realidade social das pessoas envolvidas e as ações inadequadas do Poder Público ao lidar com o problema. Mostra como o cinema documental, através das representações e da imagem aproxima-se do cotidiano das pessoas. O trabalho também procura mostrar o método da pesquisa e a posição que o pesquisador deve tomar, agindo de maneira ética para alertar os órgãos públicos sobre a política social brasileira no tratamento dos excluídos. Seu método de pesquisa e seu papel social de dar voz a estes excluídos está presente em mais cinco seminários que abordam temas relacionados as etnias tradicionais, as instituições manicomiais, ao meio ambiente, ao regime militar, ao submundo dos lixões e exclusão social.







Palavras-chave: História, Cultura, Cinema Documental, Realidade Social.



INTRODUÇÃO



Inicialmente neste trabalho, procura-se mostrar a argumentação do autor da obra sobre o acidente radiológico com o Césio 137 em Goiânia no ano de 1987, que o levou a fazer uma curta metragem.

Procura-se também demonstrar como o cinema documental está ligado a história cultural, com as representações da realidade social.

Trata ainda de como surgiu o cinema documental e como ele deu voz ao mundo, e aponta ao pesquisador como portar-se diante de problemas sociais onde estão pessoas discriminadas e abandonadas pelo poder público, servindo assim como filme denúncia das ações mal desenvolvidas e até das omissões deste poder em relação as pessoas.

O primeiro filme retrata a exclusão e discriminação através de relatos orais de pessoas envolvidas no acidente radiológico com o Césio 137 em Goiânia, conta ainda com documentos oriundos de processos judiciais, que trataram do assunto na época e finaliza o debate através de um seminário.

Com a mesma metodologia de trabalho, são ainda debatidos o tema que liga a história, a cultura e Etnias tradicionais através do filme “Bubula, o Cara Vermelha” . Em seguida prossegue esta relação da História e cultura com as Instituições manicomiais quando entra em cena o filme “Passageiros de Segunda Classe.” O debate sobre o Meio Ambiente entra em debate com o filme “Vermelho Negro”, denunciando a devastação de matas nativas do cerrado no Planalto Central Brasileiro.

Os debates através dos seminários são finalizados com a discussão sobre o Regime Militar no Brasil, quando é apresentado o filme “Rosa, Uma História Brasileira” e enfim, a temática exclusão social continua a ser retratada, através do filme Subpapéis, que mergulha nas profundezas de um lixão em Goiânia.

Todas as apresentações foram acompanhadas de debates, sempre com um texto fundamentando estas discussões.



1.1 O Cinema Documental e a Realidade Social

O Cinema que nasce documental, social e silencioso, porque se origina de uma realidade social com a concepção de que uma máquina, permite ao homem retratar a imagem de sua realidade, ligando assim o tema a história cultural com suas imagens e interpretações e possibilitando a observação e representação da vida social.

Embora nos dias atuais, com os avanços tecnológicos, os espetáculos cinematográficos e televisivos trouxeram dificuldades para o expectador discernir realidade e ficção, fato que impossibilita uma reflexão e análise do conteúdo, acabou nos levando a perder a condição de críticos, tornando-nos meros expectadores e criando um véu que esconde o mundo real. (JORGE, 2010, p. 2).

Alerta Luiz Eduardo Jorge (JORGE, 2010), que para se tornar útil a história cultural, é preciso analisar a produção cinematográfica numa posição além do veículo que está fazendo a divulgação, levando em consideração principalmente a composição imagética, que permite distinguir na obra a intencionalidade de quem a produziu, uma vez que ela se desgarra do autor e ganha autonomia.

O Cinema documental, ora estudado, é considerado um recorte da realidade, representado por meio da imagem, e que torna-se uma forma de comunicação que revela uma determinada compreensão do contexto histórico e social (JORGE,2010, p.3)

A principal ligação com a história cultural está no fato do cinema ser representação, na forma de conhecimentos elaborados e compartilhados que contribuem para a construção de uma realidade comum, possibilitando comunicação entre os indivíduos.

Outra característica que liga o cinema a História, com seu gênero documental é a condição de registrar por meio das imagens o pensamento e as ideias, que gestam embates e conflitos, convergências e divergências dos sujeitos que movimentam a história. Ele se faz num registro imagético da história e seu acúmulo torna-se um registro histórico da vida social; (2010, p. 3)

Com o caráter documental, o Cinema tem a intenção de mostrar a realidade, conjugando a ideologia do autor e sua proposta forma de representar esta realidade, num equilíbrio da subjetividade e objetividade, provocada pela interação com os sujeitos da cultura.

A Pesquisa que antecede o Cinema documental deve ser feita com respeito a este processo interativo que ocorre entre o pesquisador cineasta e os sujeitos culturais, devendo ser conduzido pela consciência da função social e política, orientado por uma ética que aponta para responsabilidade e rigor, e ainda fidelidade e veracidades do conteúdo da obra cinematográfica que nasce desta pesquisa, ressalva o cineasta Luiz Eduardo Jorge. (2010, p. 4)

Assim, o cinema documental, que pode ser conceituado como: “obras cinematográficas que se propõem a apreender temas da realidade através de uma elaboração criativa, que faz em seu ritmo original, alinha a produção audiovisual a criatividade e a realidade (JORGE, 2010 ).

Foi dentro deste contexto que o Professor e Cineasta Luiz Eduardo Jorge elaborou a pesquisa e criou a obra cinematográfica sobre o acidente radiológico ocorrido com o Césio 137 em Goiânia no ano de 1987.



1.2 - História, Cultura e Etnias Tradicionais



Através do antropólogo Roque de Barros Laraia, faz-se uma discussão antropológica sobre o conceito de cultura, analisando as sociedades culturais e especificamente como o homem lida com a cultura, influenciando e sendo influenciado. “A natureza de todos os homens é idêntica e a cultura é praticada por eles é que o separam e tornam estranhos” (LARAIA, 2011).

Ainda segundo LARAIA, embora os aspectos biológicos e geográficos possam influenciar na cultura dos homens, eles não são determinantes, mas é justamente a cultura que diferencia os homens dos animais.

Um dos conceitos que é dado a cultura é de Edward Tylor: “todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade de hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (LARAIA apud TYLOR, 2001).

Defende LARAIA ainda que a cultura é todo comportamento aprendido e que independe de uma transmissão genética. Ele mostra finalmente, que a cultura possui uma lógica própria e dá o exemplo ligado a uma tribo indígena sobre a explicação que doenças teriam como origens os germes, já que eles não possuem microscópios, então fazem isto através de seus mitos.

O texto traz a reflexão para evitar choques de cultura, entendendo a diversidade para aprender a preservar e proteger.





1.3 – História, Cultura e Instituições Manicomiais

No seminário em que se debate o filme “Passageiros de Segunda Classe”, utilizando o texto base de Foucault, mais uma vez vai se verificar a exclusão de um grupo social, considerados loucos, utilizando-se o internamento como única solução para lidar com a loucura.

Há um crítica explicita no uso daquela instituição manicomial, que não pode ser considerada um estabelecimento médico, mas mais do que isso, uma espaço quase que jurídico, que decide, julga e executa sobre a vidas daquelas pessoas consideradas loucas.



1.4 – O Regime Militar no Brasil

Mais uma vez Luiz Eduardo Jorge trabalha com uma obra cinematográfica para mostrar a realidade social no Brasil, quando quer tratar do regime Militar através do filme “Rosa – Uma História Brasileira”, que nas palavras do professor, assim pode ser explicado:

É um documentário mosaico que se estrutura a partir da memória histórica de uma mulher goiana, Rosemary Reis Teixeira, membro da Ação Popular (AP), uma organização política de esquerda, buscando registrar através de suas histórias de vida a militância política clandestina como educadora no sertão alagoano na resistência à ditadura militar, tendo como consequência a sua prisão, de seu marido Gilberto e de sua filha Rita nos cárceres de Alagoas, juntamente com camponeses e camponesas em maio de 1969 (JORGE e BUENO, 2010)



A realidade tratada na forma cinematográfica como representação ao improviso indo ao encontro dos acontecimentos do cotidiano para apreendê-los e compô-los dentro de uma lógica da montagem dialética para serem afirmados ou negados. A vida representa-se a si mesma no cinema.

O professor nos fala da dificuldade em localizar os documentos que existiam e que não se tinha noção da existência destes. Primeira etapa foi o levantamento dos documentos históricos em acervos em museus como: Museu da Imagem e do Som de Goiás, Museu da Imagem e do Som de Alagoas, o Acervo fotográfico do Hélio de Oliveira, documentos pessoais dos entrevistados, mapeamento do percurso de Rosa no momento da clandestinidade.









1.5 – História, Cultura e Meio Ambiente

Como a globalização afetou o meio ambiente. Utilizando a obra de Octávio Ianni, que trata da Globalização (IANNI, 1996), este tema que refletido a partir do filme “Vermelho Negro”, quando se mostra a realidade dos trabalhadores em carvoarias, em situação de excluídos, a degradação do meio ambiente através da devastação do cerrado e mais uma vez a omissão do poder público em resolver este tipo que questão.

Mais uma vez as pessoas ganham voz e a partir de seus lugares de representações falam de suas angústias, de seus problemas e de esperança que as coisas melhorem.

Como resolver a questão da sustentabilidade com o desenvolvimento econômico, já que o atual estágio de globalização exigem respostas para a garantia deste equilíbrio. Octávio Ianni ao abordar esta questão assim se manifestou:

O que ocorre no fim do século XX com o desenvolvimento intensivo e extensivo do capitalismo pelo mundo, abrindo ou reabrindo fronteiras, é a emergência de uma configuração geoistórica original, dotada de peculiaridades especiais e de movimentos próprios, que se pode denominar de global, globalizante, globalizada ou globalismo. Trata-se de uma realidade social, econômica, política e cultural de âmbito transnacional. Pode recobrir, impregnar, mutilar ou recriar as mais diversas formas de nacionalismos, assim como de localismos, provincianismos, regionalismos e internalismos, bem como de colonialismos e imperialismos. Nem sempre anula o que preexiste, mas em geral, modifica o lugar e o significado do que preexiste. O globalismo modifica as condições e as possibilidades de espaço e tempo que se haviam construído e codificado, com base no parâmetro geoistórico e mental representado pelo nacionalismo (IANNI, 1996, p. 41-42).



Enfim, o estudo desta temática mostra como o desenvolvimento econômico nas cidades mudar a realidade dos trabalhadores e da necessidade de pensar este desenvolvimento agregando as pessoas que tiveram suas vidas mudadas pela chegada do mundo globalizado.









1.6 – História, Cultura e Exclusão Social

O Trabalho desumano, a exploração capitalista e o meio ambiente fazem parte do trama central que cuida da exclusão social dos trabalhadores que trabalhavam em um dos lixões de Goiânia..

Os personagens do filme cientes da exploração capitalista a que são submetidos, ganham voz com o filme para manifestar de forma coletiva o seus entendimentos sobre esta situação.

Os conflitos de ideias entre os catadores, os atravessadores e os empresários que ganham em cima da exploração dos trabalhadores da área do lixão. Assim, Concita, uma das personagens do filme manifesta sobre a exploração a que são submetidos, conforme relata Maria Elena Covem Queiroz:

Esse ciclo, eu costumo falar que é que nem uma cadeia produ­tiva, entendeu? Quer dizer, isso aí vem passando. Daqui passa para a mão do atravessador, do atravessador vai lá para a mão do segundo. E sabe o que eu fico assim analisando, eles não fazem nada, simplesmente nada, enquanto a gente banca com tudo. Porque a gente dá o material para eles limpo. Eles não colocam a mão na massa. Quando a gente vê de cinco centavos, chega lá para eles muito mais. Chega de três reais. Enquanto nós trabalha (sic) um mês, a gente tem uma base, aquilo ali não vai dar cinquenta reais para cada. Hoje nós vendemos o material bruto sem prensar, sem nada. Mas a partir do momento que nós tivermos uma estrutura, nós não vamos mais vender, não precisamos mais, nós poderemos entrar em contato direto com a indústria, quer dizer que já elimina o atravessador. Ele vai ser eliminado. Nós tivermos um caminhão, nós acumulamos, agregamos valor, porque a indústria, ela não compra toneladi­nha, é milhões e milhões de toneladas. E a partir do momento em que tivermos a prensa, nós vamos eliminar o problema, mas enquanto isso não acontecer, a exploração do catador, ela vai continuar. Não sei até quando (Concita de Jesus transcrito do documentário subpapéis, 2008) (QUEIROZ, 2011)



2 – Os filmes



Todos os filmes do autor utilizam o cinema documental para tratar da realidade social com seus problemas e um grande número de excluídos, que ganham voz através do cinema.







2.1 -Césio 137. O Brilho da Morte



O curta metragem que ganhou este nome devido a uma frase pronunciada por uma vítima do acidente, que havia dito que tinha se apaixonado pelo brilho da morte (JORGE, 2010, p 5), tem origem na discussão das consequências do acidente radiológico ocorrido em setembro de 1987 na cidade de Goiânia, quando um grupo de pessoas entrou em contato com o metal pesado Césio-137, que tem a cor azul quando suas partículas são expostas em ambientes escuros e que penetra silenciosamente no corpo humano, contaminando também o meio ambiente (JORGE, 2010, p 6).

Tudo tem início quando uma Clínica Radiológica abandona a cápsula radiotiva do Césio 137 no local onde está situado hoje o Centro de Convenções de Goiânia, e este material é recolhido por catadores de papéis, que desconhecendo o perigo leva o material para suas casas e destroem a proteção de chumbo, começando a contaminar as pessoas e o meio ambiente.

Produzido entre 2003 e 2004, o filme por um lado trata do universo psicológico dos envolvidos, mostrando suas dores, medos, dúvidas, isolamento, discriminação e consequentemente a morte de mais de um dezena de pessoas contaminadas; e por outro lado o despreparo do Poder Público em lidar com a questão tão importante e a falta de uma política Nuclear responsável.

O Documentário procura identificar na diversidade de narrativas sociais das pessoas envolvidas, afetadas pelo acidente e com suas consequências , contrapondo ao que foi exposto pelo poder político local e nacional, que deveria ter evitado o acidente que se mostrou naquele momento não está preparado para tratar adequadamente o assunto.

Descortinar mistérios nas vidas das pessoas envolvidas, assim como as ações e omissões, descortinando a politica nuclear no país na década de 80 é um dos méritos do filme.

Quem foram os protagonistas que ganharam voz no filme, sua realidade, mostrando onde moravam e como eram suas vidas e como ficou depois, são respostas que o filme deixa documentado através das imagens e representações.

Enfim, além de um alerta ao Poder público, é uma forma de dar voz aos excluídos em sua realidade social através do cinema documental. É o que se propõe o cineasta ao fazer esta premiada obra.



2.2 – Bubula, O Cara Vermelha.

Rui Oliveira ao comentar sobre este filme, diz que “ trata a trajetória histórica de documentação do cineasta e fotógrafo Wolf Jesco von Puttkamer, através de um texto em que o autor revisita sua obra cinematográfica, realizada durante quatro décadas, junto aos diversos grupos indígenas da Bacia Amazônica Brasileira. Ao mesmo tempo em que Jesco rememora seu trabalho como documentarista, analisa sua filosofia, metodologia e técnica de pesquisa audiovisual, narrando em detalhes sua experiência pessoal, que resulta em milhares de páginas escritas em diários.

A fase indigenista da carreira e da vida de Jesco, teve início com as viagens que realizou pelo interior do país e os encontros com os índios, no início da década de 1960. Juntamente com os irmãos Villas Boas, Francisco Meireles e outros, participou das frentes de atração aos índios Txukahamãe, Txicão, Suruí, Cinta-Larga, Marúbu, Kámpa, Kaxináwa, Waimiri-Atroarí, Yanomami, Hixkaryana, Urueuwau-wau e outros. Dedicou-se, por quase 40 anos, à arte de fotografar, filmar, gravar e registrar em seus diários o cotidiano de grupos indígenas.

À partir da “Marcha para Oeste”, promovida pelo Estado Novo, a Fundação Brasil Central (FBC) se instalou na região atual Parque Indígena do Xingu em 1946, como o trabalho indigenista dos irmãos Villas Boas, que compartilhavam com Jesco Puttkamer a mesma concepção de “pureza” cultural atribuída aos povos xinguanos. Convidado pelos Villas Boas para acompanhar as expedições enquanto documentarista, ao longo de toda a década de 1960, Jesco buscou eternizar, com sua câmera fotográfica, esta “pureza” atribuída aos xinguanos, ameaçada pelo avanço das frentes de expansão.

O contexto do encontro do Jesco com os Índios - que, segundo ele, marcou

definitivamente sua vida para melhor – foi o da implantação de projetos de desenvolvimento e da abertura de estradas, como a rodovia Cuiabá-Santarém, que impactaram profundamente aqueles povos então vulneráveis às epidemias e ondas de violência, capazes de dizimá-los.

Apesar da proteção do indigenismo praticado pela Fundação Brasil Central na região do Parque do Xingu, em 1954 ocorreu um surto de sarampo que, de uma só vez, levou 114 pessoas à morte. O decréscimo populacional logo se fez notar na população do alto Xingu, que atingiu seu ponto mínimo em 1965, quando declinou para o montante de 542 pessoas.

Naquela época, as populações que, de alguma forma, representassem obstáculos à abertura de estradas e à colonização, passaram a ser buscadas pelas equipes de atração também em áreas vizinhas ao Parque, sendo para lá transferidas.

O filme busca prestar uma homenagem a Jesco, que doou todo o seu acervo de fotos e peças indígenas ao Instituto Goiano de Antropologia da Puc Goiás, e que é referência para o mundo. Com o Acervo a Universidade montou um museu instalado no Setor Bueno, em Goiânia.

O filme provoca reflexões em sua narrativa da invasão branca, a destruição nas terras indígenas e mais uma vez a falta do poder público, através da FUNAI, quando esta deveria cuidar da preservação da natureza e da Cultura Indígena.


2.3 -Passageiros da Segunda Classe



Passageiros da Segunda Classe apresenta com minúcias o estado de deterioração a que são submetidos os internos do antigo Hospital Psiquiátrico Prof.° Adauto Botelho em Goiânia.

Os pacientes segregados são submetidos ao abandono, a eletrochoques e à miséria absoluta, sendo transformados em verdadeiros lixos urbanos.
O filme foi rodado em 1986, e finalizado apenas em 2001, quatro anos após a demolição do hospital. A narração, em tom observacional, mostra que o interesse fundamental dos manicômios é excluir o louco do convívio em sociedade, jamais curá-lo.

Um olhar cinematográfico humanizado no interior de um espaço manicomial, onde os pacientes segregados são submetidos ao abandono, a eletrochoques e à miséria absoluta, sendo transformados em verdadeiros lixos humano.

O filme foi gravado no manicômio Adalto Botelho, que ficava localizado na 5ª. Avenida logo abaixo do Parque Agro-pecuário de Goiânia, o manicômio foi destruído e no local foi construído o Hospital CRER pelo governador Henrique Santillo.

O manicômio era um lugar de excluídos da sociedade, de esquecidos pelos próprios familiares. Os internos não tinham direito a nada, higiene um ítem básico, era negado. Todas as vezes que íamos ao local nos deparávamos com pacientes nús, outros sujos defecados no pátio. Na década de 1970 nos anos 1976 e 1977, estive no local visitando os internos algumas vezes – passa pela memória aqueles momento quando a doente canta uma música espírita “Irmã Sheila - com a mocidade espírita que fazia parte. Aqueles domingos eram para nós ricos para reflexões acerca dos valores da família.

O filme revela um grito de indignação pela forma com que são tratados os doentes mentais no Brasil.







2.4 – Subpapéis

É um mergulho nas profundezas do ciclo do lixo reciclado para resgatar a humanidade de personagens sociais reais que, através do trabalho desumano, dão vida ao mundo do consumo.

Em novembro de 2007, a Prefeitura Municipal removeu as famílias que viviam em condições degradantes na trilha da rede ferroviária para casas que havia construído na região norte da cidade, onde foram realizadas as filmagens de Subpapéis. “O maior prêmio que recebi”, diz o professor Luiz Eduardo Jorge, entusiasmado em relação à ação.





2.5 – Vermelho Negro



O filme Vermelho Negro (2005) apresenta o processo devastador da utilização de carvão oriundo da vegetação do cerrado goiano para a produção das matérias primas utilizadas na construção civil e a condição sub-humana das pessoas envolvidas neste trabalho.



2.6 - Rosa – Uma História Brasileira



O filme retrata um personagem que sofreu a perseguição da ditadura, após o golpe de 1964. À memória de Rosemary Reis Teixeira, militante de esquerda desde os seus 18 anos de idade contra o regime ditatorial, movida por justiça e igualdade social e pela ânsia de transformação da sociedade brasileira. Rosa mudou de identidade e com seu trabalho deu voz às camponesas - a partir abril de 1967 - de Pariconha no Estado de Alagoas (JORGE e BUENO, 2010).

Rosa era esposa de Gilberto Franco Teixeira, cognominado Juarez Etcheverria.

O filme busca fazer três abordagens:

1- uma leitura do contexto político da época;

2- a visão da mulher, mãe e militante política;

3- a sua trajetória pessoal no trabalho no campo de criação do Clube da Mães de Pariconha e da Escola de Alfabetização de Adultos: o primeiro como instrumento de politização das camponesas do Pajeú.

Com a implantação do AI-5, ROSA foi presa, porém o seu projeto sobreviveu.

Rosemary é o quarto discurso com Gilberto, Rita e os camponeses de Pariconha.

Uma das etapas do filme constituiu-se com a captação em vídeo das entrevistas de Rosimeiry, Rita sua filha que ficou encarcerada juntamente com sua mãe na sede da DOPS em Maceió-AL: -“Quando peguei a ficha da Rosa no DOOPS em Maceió eu confesso que chorei.”

Algo marcante no filme é a citação sua filha Rita – presa juntamente com sua mãe - era considerada um perigo pra a nação –“subversiva “- quando contava apenas sete anos de idade.

Outro fato digno de nota é que Rosa conseguiu ser inclusa na lista de perseguidos pelo regime ditatorial e através do filme receber uma indenização do Governo Brasileiro.



3 - O Método de pesquisa no cinema documental



Luiz Eduardo Jorge (JORGE, 2010, p. 14) fala sobre o método de pesquisa utilizado para apreender um determinado contexto social. Segundo ele, na medida em que o pesquisador se propõe a representar uma realidade cultural ou social, ele deverá interpretar a partir dos códigos do próprio grupo. A sintaxe e a gramática audiovisual devem ser construídas a partir de resultados e análises dos conteúdos dos episódios, utilizando a linguagem dos próprios sobreviventes do acidente.

No caso estudado, envolvendo o o acidente radiológico com o Césio 137, o desenvolvimento da pesquisa se deu com base em narrativas orais, imagens de arquivos disponíveis sobre o acidente e ainda documentos sobre um processo judicial relativo ao caso, mostrado pelo Ministério Público e investigado pela Polícia Federal.

Ensina Luiz Eduardo Jorge, que o pesquisador deve estar atento ao contexto histórico e social, analisando e conhecendo a ordem dos elementos das representações vigentes. Deve ainda atingir a essência e a morfologia das expressões artísticas. (JORGE, 2010, p. 14)

Durante o processo de criação, deve ser aplicada uma análise critica com a intenção de alcançar os segredos que estão por trás dos fenômenos sociais e culturais investigados.

Destaca ainda o cineasta e professor, que o pesquisador deve ter uma postura militante em sua investigação, no sentido de realizar uma leitura critica da obra como objeto e peça de intervenção pública e em defesa de um grupo social, que foi atingido, e estava desprotegido de seus direitos, excluídos dos cuidados de responsabilidade do poder público (2010, p. 15 ).



Conclusão



Em nosso trabalho, que contou com a apresentação e análise do curta metragem “Césio 137, O Brilho da Morte” ancorado por um texto do cineasta e professor Luiz Eduardo Jorge, mostrou como o Cinema nasceu social, documental e silencioso e deu voz ao mundo, pois possibilitou documentar o cotidiano do homem e suas especificidades e fez ligação com a história cultural, através das imagens e representações.

Foi mostrada a evolução do cinema, que colocou em evidência o gênero documental e que possibilitou mostrar a vida cotidiana e seus valores através de imagens e representações.

Concluiu pela necessidade de uma postura ética e de militância social do pesquisador, a fim de interferir na realidade social, denunciando e cobrando ações do poder público, tornando possível a mudança da realidade social a partir do resultado de sua pesquisa, que no caso foi transformada em um filme retratando a realidade social das vítimas do acidente radioativo Césio 137.

Nos outros filmes mantém se o mesmo propósito de mostrar os excluídos em seu cotidiano e fazer uma crítica as instituições públicas que não cumprem os seus papéis e quando fazer, não são competentes no exercício destas funções, seja na proteção das etnias, do meio ambiente, das pessoas acometidas de loucura e aqueles privativos do mínimo para sobrevivência nas cidades.

Todos os documentários dão vozes aos excluídos através do cinema e acabam provocando transformações positivas na sociedade, quando os órgãos públicos são questionados.













REFERÊNCIAS



FILMES



Bubula, o Cara Vermelha (filme-vídeo). Direção Luiz Eduardo Jorge. Goiânia, 1999. DVD 29 min



Césio 137. O Brilho da Morte (filme-vídeo). Direção Luiz Eduardo Jorge. Goiânia, 2003. DVD 24 min



Passageiros da Segunda Classe. (filme-vídeo). Direção Luiz Eduardo Jorge. Goiânia, 2001. DVD 21 min



Subpapéis. (Filme-vídeo). Direção Luiz Eduardo Jorge. Goiânia, 2008. DVD



Rosa, Uma História Brasileira. Direção Luiz Eduardo Jorge. Goiânia, 2009. DVD, 25 mim



Vermelho Negro. Direção Luiz Eduardo Jorge. Goiânia, 2004. DVD



TEXTOS DE APOIO



FOUCAULT, Michel. A História da Loucura. A grande internação, perspectiva, 7ª edição, 2004.



GERMANO, José Willington. Estado Militar e Sociedade no Brasil. Cortez Editora, 5ª Ed., 2011.



IANNI, Octávio. Observações sobre o “Globalismo”. In: Modernidade, Globalização e Exclusão. Ed. Imaginário, São Paulo. 1996.



JORGE, Luiz Eduardo. Cinema Documental e Realidade Social. Iluminuras, Revista Eletrônica UFSC, Vol. 11, n. 26, 2010.



JORGE, Luiz Eduardo. BUENO, Frederico Mael Silva Marques Da Idéia ao Filme. Fragmentos de Cultura, Goiânia, v. 20, n. 7/8, p. 531-538, jul./ago. 2010.



LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Segunda parte: como opera a cultura. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 14 ed. 2001.



QUEIROZ, Eliane de Fátima Covem. Estudos, Goiânia, v. 38, n 4, p. 585-599, out-dez, 2011.



SINGER, Paulo I. Um mapa da exclusão social no Brasil. In. Modernidade, Globalização e Exclusão. Ed. Imaginário, SP, 1996.



































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