terça-feira, 1 de abril de 2014

O DIA QUE UM ITUMBIARENSE FOI ELEITO GOVERNADOR DE GOIÁS


FREIRE, N.S. CASAMENTO, EMBATES E ARRANJOS POLÍTICOS EM GOIÁS: uma abordagem das relações de poder na perspectiva de Gênero. Trabalho de conclusão (Curso de História, Poder e Cultura) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Goiânia, 2013.

(...) Na turma dos bacharéis com influência católica e no grupo de José Xavier de Almeida, tem-se o bacharel Hermenegildo Lopes de Moraes, o primeiro filho do segundo casamento de Francisca Carolina de Nazareth Moraes, nascido em Santa Rita do Paranaíba no dia 06/10/1870, com formação em Direito no final de 1890 na Faculdade de Direito em São Paulo e tornado deputado federal em 1894, 1897, 1901, 1905 e 1908. Foi eleito ainda presidente de Goiás em 1909, mas não teve reconhecido o resultado e que acabou com o movimento golpista de 1909, liderado por José Leopoldo de Bulhões Jardim.


Depois da queda do grupo político de José Leopoldo de Bulhões Jardim, o bacharel Hermenegildo Lopes de Moraes retorna em alta com a vitória para o Senado Federal em 1918. Foi o principal articulador político da família após o ano de 1905, com a morte de seu pai, que tinha o mesmo nome. Casado com a também católica Maria Amambini Paranhos, foi o primeiro filho ilustre de Santa Rita do Paranaíba a se tornar deputado e senador federal, além da eleição para presidente do Estado. (...)
3.2 O “GOLPE POLÍTICO” DE 1909 EM GOIÁS
                                        coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, pai do bacharel Hermenegildo, primeiro itumbiarense eleito governador de Goiás e que não assumiu devido a golpe político em 1909
Bacharel Hermenegildo - Deputado Federal e Senador da República - foi eleito governador e nasceu em Santa Rita do Paranaíba
Nas eleições de 1909 José Xavier de Almeida foi eleito senador e o bacharel Hermenegildo Lopes de Moraes foi eleito presidente do Estado de Goiás, mas essas eleições não foram reconhecidas pela Comissão de Verificação dos Poderes, já que nas eleições de deputados e senadores estaduais eleitos em 1908, José Leopoldo de Bulhões fez a maioria, fato que levou à queda da liderança de José Xavier de Almeida e à ascensão no Estado de José Leopoldo de Bulhões e consequentemente à emancipação de Santa Rita do Paranaíba para enfraquecimento do grupo político de Morrinhos, cujas riquezas antes pertencentes ao coronel Hermenegildo Lopes de Moraes neste período eram administradas por Francisca Carolina Nazareth de Moraes e seus filhos.


As eleições de 1909 tiveram os seguintes resultados não reconhecidos pela Comissão de Verificação dos Poderes:

QUADRO 6- RESULTADO DA ELEIÇÃO FEDERAL 30/01/1909 - SENADO


José Xavier de Almeida

Advogado – residente na capital

3.435

José Leopoldo de Bulhões

Diretor Banco – Residente Petrópolis RJ

2.629

Fonte: Semanário Oficial – número 460, 13 de março de 1909



QUADRO 7 - RESULTADO DA ELEIÇÃO FEDERAL 30/01/1909 - DEPUTADO


João Alves de Castro

Advogado – residente na capital

3.739

Hermenegildo Lopes de Moraes

Advogado – residente em Morrinhos

3.655

Eduardo Arthur Socrates

Engenheiro Militar – residente no Rio de Janeiro

3.517

Antônio Ramos Caiado

Fazendeiro – residente na capital

2.469

Fonte – Semmanario Official, número 460, 13 de março de 1909



Na eleição de 1909, novamente o grupo de José Xavier de Almeida saiu vitorioso, mas com o Movimento de 1909 não houve o reconhecimento desse resultado e assumiu a presidência do Estado Urbano Coelho de Gouveia. Desta vez o grupo de José Leopoldo de Bulhões Jardim tinha a maioria dos deputados no Congresso de Goiás.



QUADRO 8 - ELEIÇÃO PARA PRESIDENTE DO ESTADO DE GOIÁS EM 1909

Hermenegildo Lopes de Moraes

Advogado

1.653

Urbano Coelho de Gouveia

Engenheiro

1048

Major Virgílio José de Barros



1

Fonte: Semmanario Official , número 460, 13 de março 1909



QUADRO 9 - ELEIÇÃO PARA VICE PRESIDENTE ESTADO DE GOIÁS 1909

Cel. Francisco Bertoldo de Souza

1640

Cel. Alfredo Paranhos

1.484

Cel. Jacintho Honorato Pinheiro

1.452

Cel. José da Silva Batista

1.225

Cel. Luiz Fleury de Campos Curado

1.217

Cel. Herculano de Souza Lobo

1.166

Fonte: Semmanario Official, numero 460, 13 de março 1909


O processo que se torna o “golpe político” de 1909 em Goiás tem relações que podem estar ligadas ao ano de 1869, em pleno desenrolar da Guerra do Paraguai, com o casamento de Francisca Carolina de Nazareth Moraes, que construiu uma família que mudou os rumos políticos de Goiás. Podem também apontar desdobramentos a partir de 1901, com a chegada de Amélia Augusta de Moraes ao Palácio Conde dos Arcos, na capital do Estado, quando assume a presidência do Estado o bacharel José Xavier de Almeida, até concluir com o evento da emancipação de Santa Rita do Paranaíba, sempre passando pela casa de Francisca Carolina de Nazareth de Moraes, mesmo a partir de 1905 com a morte do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, quando a casa de Morrinhos tem uma mulher como protagonista a partir de seu ambiente privado.

Além dos casamentos, da formatura dos bacharéis, das viagens e da morte do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, outros embates políticos que ocorreram a partir de 1904 fazem parte do processo que vai resultar no golpe político de 1909 e na emancipação de Santa Rita do Paranaíba.

Outras relações além de políticas, religiosas e familiares também fazem parte do processo, como a política fiscal dos governos Xavier de Almeida e Miguel Rocha Lima, que influíram na eclosão do Movimento golpista de 1909, colocando em evidência e ao lado de José Leopoldo de Bulhões Jardim, os fazendeiros descontentes no Estado, responsáveis pela principal atividade da economia goiana entre 1901 e 1909.

A eleição de 1908 para deputados e senadores estaduais também influenciou no Movimento golpista de 1909, já que aliados de José Leopoldo de Bulhões elegeram maioria, fato que possibilitou não reconhecer o presidente eleito, o bacharel Hermenegildo Lopes de Moraes em 1909.

Devido à crise econômica e arrocho fiscal, e tendo ainda o deslocamento do poder da capital para o interior, com o fortalecimento do grupo político de Morrinhos, o bacharel Antônio Ramos Caiado, o Totó Caiado, e o engenheiro e militar Eugênio Jardim lideraram o movimento golpista ao lado de fazendeiros, que cercaram a capital de Goiás em 13 de março de 1909 e forçaram a saída de Miguel da Rocha Lima do governo e a retirada da vida política do bacharel José Xavier de Almeida.

Além de não reconhecer a vitória de Hermenegildo Lopes de Moraes, o filho, como presidente de Goiás a partir de 1909, não foram reconhecidos também deputados e senadores eleitos. O perdedor Urbano Coelho de Gouveia, cunhado de José Leopoldo de Bulhões Jardim, assumiu o poder em julho de 1909, após o golpe político iniciado em março do mesmo ano.

O Congresso Legislativo Estadual, composto por doze senadores e vinte e quatro deputados estaduais, reunia-se duas vezes por ano, entre maio e julho, ocasião em que votou a Lei de emancipação de Santa Rita do Paranaíba, que foi sancionada em 15 de julho de 1909 pelo presidente do Estado em exercício, José Baptista, terceiro vice-presidente.

O enfraquecimento de Morrinhos ocorre entre 13 de março, quando Miguel da Rocha Lima é obrigado a abandonar o governo pelo golpe de 1909, passa pela mudança do poder para o primeiro vice-presidente Francisco Bertoldo e em seguida para o presidente do Senado Joaquim Ruffino Ramos Jubé, chegando até ao coronel anapolino José da Silva Baptista, antes de assumir definitivamente o engenheiro Urbano Coelho de Gouveia em 24 de julho de 1909, derrotado nas urnas e elevado presidente através de golpe político.

Quando parte da família de Francisca Carolina de Nazareth de Moraes está fora da política com a volta para casa do genro José Xavier de Almeida e da filha Amélia Augusta de Moraes, Morrinhos está fora do poder e Santa Rita do Paranaíba está emancipada.

Alguns nomes aparecem na emancipação de Santa Rita do Paranaíba, como do coronel José da Silva Batista, o Zeca Batista, terceiro vice-presidente do Estado, que estava exercendo a presidência até 23 de julho de 1909. Liderou parte do “golpe” de 1909 a partir de Anápolis e assumiu o governo de Goiás a partir de primeiro de maio de 1909. Sancionou a Lei de emancipação de Santa Rita do Paranaíba em 16 de julho de 1909.

Antônio Xavier Guimarães, irmão de Guimarães Natal, ligado aos Bulhões, foi para Santa Rita do Paranaíba para exercer o cargo público de Administrador da Recebedoria. Padrinho de casamento de Jacintho Luiz da Silva Brandão, cedeu sua fazenda para reunião de pessoas que participaram do Movimento golpista de 1909 a partir do norte e fez a intermediação política quando da emancipação entre os políticos de Santa Rita do Paranaíba e o então governo golpista que assumiu em 1909.

Outro líder do Movimento de 1909, Eugênio Rodrigues Jardim, ao se tornar delegado geral de Polícia de Goiás, nomeou o major Militão Pereira de Almeida para delegado em Santa Rita do Paranaíba, dando início a um novo ciclo de poder no município emancipado através golpe político de 1909.

Nas eleições de 1909 a coligação republicana acabou levando ao poder, através do “golpe político”, José Leopoldo de Bulhões para senador federal e Antônio Ramos Caiado, Marcelo Francisco da Silva e Padre Trajano Balduíno como deputados federais, embora não fossem os mais votados. Na mesma eleição para presidente do Estado foi reconhecido o engenheiro Urbano Coelho de Gouvêa, que havia perdido as eleições no voto para o bacharel Hermenegildo Lopes de Moraes.

Na fazenda Quinta, de propriedade de Eugênio Rodrigues Jardim, o Movimento golpista foi organizado entre abril e maio, para derrubada do presidente eleito, quando mais de mil homens foram arregimentados.

Os fazendeiros descontentes com a política fiscal do grupo político de José Xavier de Almeida, no poder desde 1901, uniu até aqueles que estavam separados, como o bacharel e fazendeiro Antônio Ramos Caiado, que se uniu ao grupo de José Leopoldo de Bulhões Jardim para ajudar no Movimento golpista de 1909, mesmo tendo sido companheiro do bacharel José Xavier de Almeida em seu governo.

Até a morte do Presidente Afonso Pena, em 14 de junho de 1909, também ajudou no fortalecimento dos Bulhões, pois tendo como amigo de Nilo Peçanha, o vice que se tornou presidente, levou José Leopoldo de Bulhões Jardim a assumir novamente o cargo de ministro da Fazenda e assim se tornar novamente um dos protagonistas da política em Goiás, pelo menos até 1912, quando será derrotado por outros, até então aliados no golpe político de 1909, como o bacharel Antônio Ramos Caiado.

Derrubado o grupo político da casa de Dona Francisca Carolina de Nazareth de Moraes, a partir de maio de 1909 começou a gestação da emancipação com a votação no Congresso Goiano e que foi concretizada no dia 16 de julho de 1909 pelo então presidente do Estado em Exercício, José da Silva Baptista.



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