Alberto Borges, presidente Grupo Caramuru
José Márcio Margonari narra uma
passagem durante a escolha do sucessor de Luiz Moura:
Bem ao seu estilo, em março de 92,
numa manhã de sábado, chega à minha residência, no Bairro Nova Aurora, o
prefeito Luiz Moura, que após um rápido café, diz: vamos comigo convidar o
nosso candidato a prefeito. Ao sair perguntei quem seria o convidado e ele
responde, toca para a casa do Alberto da Caramuru, pois ele será o nosso
candidato. Já na avenida Beira Rio, perguntei se eles haviam discutido esse
assunto alguma vez. O prefeito respondeu que não e que seria para o Alberto uma
grata surpresa!!! Estacionado na frente do Edifício Beira Rio, eu disse:
prepare-se para outra surpresa, pois acho que o Alberto não aceitará seu
convite, sabemos que o Grupo Caramuru está em franca expansão, realizando
grandes investimentos... prepare-se para um não. Luiz Moura convicto da
aceitação ainda disse: quem não quer ser prefeito de Itumbiara? Muitos lutam
para ser e poucos conseguem, e o Alberto sabe que com o meu apoio e seu
prestígio, Poderá ser até candidato único...
Subimos até o apartamento do Alberto,
e ele educadamente nos recebeu e após as conversas de praxe, o prefeito Luiz
Moura, falou do processo sucessório e após evidenciar algumas virtudes do
Alberto, fez o convite para que ele fosse candidato a prefeito. De forma
serena, polida e com um sorriso acolhedor, mas com muita segurança e firmeza,
respondeu ao prefeito que não Poderia aceitar o honroso convite, uma vez que
estava muito comprometido com a expansão do Grupo Caramuru, não só em
Itumbiara, mas em outros municípios, que ainda não Poderia afastar do cotidiano
da empresa, e que esse trabalho seria também muito importante para nosso
município e para Goiás.
Luiz Moura tentou novos argumentos,
porém Alberto manteve a mesma calma e decisão de não aceitar o convite.
Cumprida a tarefa, depois de alguns lamentos do prefeito Luiz Moura, nos
despedimos de Alberto que nos acompanhara até o hall de saída do edifício, e ao
chegar ao carro, o prefeito pediu que eu dirigisse para o estacionamento,
próximo à antiga Skalla Pizzaria.
Depois de um breve silêncio, Luiz
Moura iniciou algumas considerações, quando afirmara que o Augustinho Barcelos
e o João Cardoso, estavam trabalhando para que o Celso Cardoso fosse o
candidato e que de maneira precipitada, ele Luiz Moura, havia manifestado
simpatia e que Poderia apoiá-lo para prefeito. Luiz Moura entendia que se o
Alberto aceitasse a candidatura, tudo estaria resolvido, uma vez que ninguém
iria questionar e não haveria disputa interna.
Com a negativa do Alberto, ele ficou
muito preocupado, passando a analisar cada uma das possíveis candidaturas: vejo
a candidatura do Celso Cardoso muito complicada, uma vez que ele não é popular
e falam muito dos “Cardoso”; já o Dr. Celso Santos é como um irmão, porém não é
político, pouco conhecido e é muito teimoso; a Dona Carminha adotaria uma
gestão parcial, direcionada exclusivamente para a educação, esquecendo de
outras áreas importantes para a comunidade, como: saúde e obras de
infraestrutura, dentre outras; o Dr. Ciro tem larga experiência, mas acho que
sua esposa não vai concordar de maneira nenhuma. Fez mais uma breve pausa e
disse, estou pensando que vamos definir como candidato a prefeito, uma pessoa
que atualmente, coordena a gestão, que tem uma família numerosa e de
credibilidade, que nunca foi candidato, mas, terá boa aceitação, tem um apoio
importante da educação e com o apoio da administração não terá dificuldade em
vencer as eleições. E numa afirmação onde jamais pensava ser contestado, disse:
essa pessoa é você, José Márcio... Em poucos segundos, tomei uma das mais
complexas decisões de minha vida, quando disse ao prefeito que estava muito
honrado com a lembrança de meu nome para a perspectiva de exercer duas tarefas
tão desafiadoras, primeiro ser candidato e, em vencendo as eleições,
administrar uma cidade com grandes expectativas e carências.
Porém, desprovido de vaidade e
ambição, disse ao prefeito que não me considerava preparado para o desafio, e
que, Itumbiara precisava de um gestor que conhecesse melhor o setor público,
com maior experiência e grande articulação política local, estadual e nacional.
Foi o segundo Não recebido pelo prefeito Luiz Moura naquela manhã de sábado! Em
sua argumentação, me disse apenas: temos que escolher logo o candidato,
voltamos a falar durante a semana.
Retornamos às atividades da semana com
a tradicional caminhada, às 05h00 da manhã, de Itumbiara até a venda do Sr.
Wilson de Paula, no Bom Jardim, e no caminho ele me perguntou se eu havia
pensado melhor sobre o convite por ele formulado, tendo a ele respondido que
havia confidenciado a minha esposa e que juntos tínhamos a convicção de que eu
não deveria aceitar o convite. Ao passarmos pela ponte do ribeirão Santa Maria,
filosofou: está vendo aquela água? Passa debaixo da ponte e não voltará mais,
você pode estar perdendo a única chance de ser prefeito de sua cidade... Foi um
duradouro silêncio, quebrado bem próximo à Venda, quando em tom grave determinou:
marque um café amanhã, com o Dr. Ciro, precisamos definir logo essa
candidatura. Ao retornar para o Gabinete, liguei para o Dr. Ciro marcando o
café para a tarde do
dia seguinte, no que fora de pronto aceito. Ao chegarmos a sua residência no
Village Beira Rio, Dr. Ciro nos recebeu e Dona Aninha preparou um café muito
especial com variadas e apetitosas quitandas. Tomamos o café e o prefeito Luiz
Moura falou do processo sucessório, e que, a cidade precisaria de um candidato
com o perfil do Dr. Ciro e que ele estava ali para convidá-lo para ser o candidato
a prefeito..., Dr. Ciro respondeu que ficava honrado com o convite, mas, que o
prefeito deveria saber a opinião da sua esposa..., ato contínuo Dona Aninha
disse, “fico feliz em recebê-los para um amigável café, porém assunto de
candidatura não teria jamais minha concordância, sugerindo que procurássemos
outra pessoa porque não existia argumento que a fizesse concordar”.
A partir dessa realidade o prefeito
Luiz Moura procurou o Dr. Celso Santos e o convidou para ser o candidato, e
esse sem muito entusiasmo aceitou o desafio. Sem maior convicção, Luiz Moura
passou a divulgar a possível candidatura de seu Secretário da Saúde. Sabedores
da insegurança demonstrada pelo prefeito, o grupo que pensava lançar Celso
Cardoso voltou a pressionar e articulou o pré-lançamento da sua candidatura,
sugerindo que Celso Santos fosse o candidato a vice-prefeito na chapa de Celso
Cardoso. O prefeito Luiz Moura concordou, conversou com seu grupo político que
em parte foi resistente, porém diante da “aceitação” do candidato Celso Santos
em ser vice de Celso Cardoso, o grupo concordou em fazer o lançamento das
pré-candidaturas. Essa chapa durou uma semana, isso porque à medida que os
candidatos passaram a visitar os órgãos públicos, a sociedade civil
organizada... ficou nítida a resistência à candidatura de Celso Cardoso. Diante
dessa realidade, foi organizada sob a liderança de aliados como, Dona Carminha,
Sidney Pereira, Duílio Amaral, Japão, dentre outros uma manifestação na frente
da residência do prefeito Luiz Moura, exigindo que o candidato a prefeito fosse
o Dr. Celso Santos, que segundo o grupo era muito mais preparado para o
exercício do mandato de prefeito.
No dia seguinte Luiz Moura discutiu o
assunto com alguns aliados políticos e anunciou que o candidato a prefeito por
ele apoiado seria de forma definitiva, seu Secretário de Saúde, Dr. Celso
Santos. Magoados com a mudança, o grupo que defendia a candidatura de Celso
Cardoso afastou das articulações e decidiram que ele não aceitaria compor a
chapa majoritária. Depois de algumas consultas, foi apresentado o nome do
funcionário do Banco do Brasil, Mozart Fialho para ocupar o cargo de candidato
a vice-prefeito na chapa com Celso Santos.
Em 92, a disputa para prefeito contou
com as candidaturas de Celso Santos, Radivair Miranda, Waterloo Araújo e
Marquinho Durão. Numa época de campanha com grandes comícios, shows artísticos
(presença diária do Grupo Nordestino “Manoel do Coco e sua Gente”), programa
eleitoral no rádio e voto em cédula de papel, com o apoio da máquina municipal
e com a enorme aprovação do Governo Luiz Moura, o povo elegeu, com uma
diferença de aproximadamente 5.000 votos, para o mandato de 93 a 96, os
candidatos da Coligação “A cidade em boas mãos”, Dr. Celso Santos e Mozart
Fialho.
Identificado como Governo de
continuidade, Dr. Celso manteve quase toda equipe de assessorava o ex-prefeito
Luiz Moura, procurando, também manter a rotina de trabalho do governo anterior.
Passados alguns meses, o prefeito
Celso Santos implementou algumas mudanças na equipe e que objetivava
estabelecer algumas marcas na sua maneira de administrar, passou também a
estabelecer um diálogo com o Governador Íris Rezende, principalmente através do
seu irmão, Secretário de Governo Otoniel Machado. Tais atitudes levaram a um
descontentamento do ex-prefeito Luiz Moura, provocando inicialmente um
distanciamento e posteriormente, com a filiação do prefeito ao PMDB do
Governador Íris Rezende, ao rompimento político entre o prefeito e o
ex-prefeito.
Nas eleições de 1994, Luiz Moura saiu
candidato a Deputado Federal, sendo agora seus aliados e como candidatos a
Deputado Estadual, Waterloo Araújo e Paulo Serrano. Todos apoiavam Fernando
Henrique para presidente e Lúcia Vânia a Governadora. O prefeito Celso Santos
apoiou Fernando Henrique, Maguito Vilela para Governador, Íris Rezende para
Senador e José Gomes para Deputado Federal.
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