NILO PEÇANHA E URBANO COELHO GOUVEIA NÃO MARCARAM PRESENÇA NA INAUGURAÇÃO DO PONTE AFONSO PENA EM SANTA RITA DO PARANAÍBA
SEM A PRESENÇA DE AUTORIDADES FEDERAL E ESTADUAL, PONTE AFONSO PENA É INAUGURADA
Depois de vários anos de reivindicações do grupo político da cidade de Morrinhos, liderados pelo ex-presidente do Estado (atual figura do governador) Xavier de Almeida e do deputado federal Hermenegildo Lopes de Morais Filho, em 1908, o então presidente Afonso Pena resolveu atender os amigos também formados na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco e mandou construir a ponte na Estrada Nova do Sul, que começou por picadas em 1830 e transporte por Balsa durante 79 anos, a pouco mais de 1,6 km do Porto de Santa Rita do Paranaíba (início da Rua Paranaíba).
A grande festa que era esperada para o ano de 1909, com a presença de Afonso Pena e também do presidente eleito em março de 1909, nascido em Santa Rita do Paranaíba em 1870, Hermenegildo Lopes de Morais Filho, mudou completamente a partir de maio com o golpe político patrocinado por Leopoldo de Bulhões, Totó Caiado e mais alguns fazendeiros, que inconformados com mais uma derrota eleitoral, não deixaram o Santarritense assumir o posto. As coisas pioraram com a morte de Afonso Pena em 14 de junho de 1909. Nilo Peçanha assumiu o governo, chamou Leopoldo de Bulhões para ministro da fazenda e Santa Rita do Paranaíba emancipou-se em 16 de julho de 1909. A turma de Totó Caiado e Leopoldo de Bulhões assumiram o poder em Goiás e a presidência do Estado de Goiás, mesmo tendo perdido as eleições. Santa Rita do Paranaíba foi instalada em 12 de outubro de 1909 e em 15 de novembro de 1909, quando o comando provisório do município estava com Jacintho Brandão, aconteceu a inauguração da Ponte Afonso Pena, esvaziada de autoridades pelo golpe político em curso.
"A crônica do Jornal "Correio de Uberlândia" intitulada - A inauguração da ponte Afonso Pena - assim descreve o grande acontecimento do século em Santa Rita do Paranahyba:
As gerações mais novas e os desinteressados não conhecem a importância da velha ponte Afonso Pena sobre o rio Paranaíba para o desenvolvimento de Uberlândia. A estrada de ferro chegou a Uberabinha em 1895. Constituiu-se no meio mais rápido de encontrar-se o Brasil Central com o eixo manufatureiro do país, mais o porto internacional de Santos.
Antes da estrada de ferro, viajantes e mercadores que demandavam a Província de Goyas, de Uberaba desviavam para Indianópolis ou para Santa Maria e não passavam por aqui. A chegada da Mogiana forçou essa passagem. No dia 15 de novembro de 1909, inaugurou-se a Ponte Afonso Pena sobre o rio Paranaíba por onde passou a escoar dois terços da produção do estado de Goiás.
Conheço duas versões que justificam sua construção. O historiador Hildebrando Pontes afirma que a ponte foi construída para arrefecer o ânimo dos triangulinos que estavam em intensa campanha para a emancipação da região, ou sua reanexação ao estado de São Paulo. Outra é a versão tradicional, oral, que diz que a sua instalação foi resultado de sugestão e empenho do Tenente Coronel da Guarda Nacional, José Theóphilo Carneiro junto ao seu compadre, o Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca.
Em 1912, Fernando Vilela fez a ligação desses dois pontos estratégicos por meio de uma pioneira estrada de rodagem. A primeira no Brasil Central e a primeira no país rumo ao oeste. Sobre esses três pontos assentaram-se os fundamentos da economia uberlandense.
A Ponte Afonso Pena, no entanto, esteve em vias de ser instalada em outro local, jogando diretamente no estado de São Paulo toda a produção goiana. Os empenhos dos deputados Afrânio de Mello Franco (de Minas Gerais) e José Xavier de Almeida (de Goiás), apoiados por uma campanha insistente do vereador João Severiano Rodrigues da Cunha (Joanico), por correspondência e artigos em jornais, conseguiriam definir que ela fosse montada em Santa Rita do Paranahyba (Itumbiara), num lugar conhecido como “Caídor”, a 1600 metros da Vila. Nesse local, antes, havia uma balsa. Para a travessia de uma boiada, esperava-se de sete a oito dias. Muitas reses se perdiam por afogamento. Por ocasião das enchentes, o trânsito se atrasava mais. As balsas desse tempo eram perigosas, constavam de algumas canoas sobre as quais se amarravam algumas pranchas de madeira.
Segundo um cronista da época, Santa Rita era um entreposto de considerável importância para o Sul de Goiás; com a construção da ponte, passava a ser um ponto de passagem obrigatória para pelo menos 70% dos produtos mercantilizados em e por Goiás. É de se pensar, hoje em dia, o que seria de Uberlândia se não houvessem instalado essa ponte em Itumbiara.
Compreendendo o valor da obra, Uberabinha ficou empolgada quando se anunciou a sua inauguração. Faltando alguns dias para a festa, o vereador João Severiano Rodrigues da Cunha, representando a Câmara, mais os empresários capitão Custódio Pereira, Carmo Giffoni e Antônio Custódio Pereira seguiram, a cavalo, para a Vila de Santa Rita acompanhando Nicodemos Macedo que era o representante do governador mineiro, Wenceslau Braz. Antes da inauguração, o Joanico visitou a obra e telegrafou orgulhoso para o jornal “O Progresso” dizendo apenas que atravessara a ponte, a pé, em companhia do dr. Diniz.
A festa começou cedo. Às cinco horas da manhã, os galos cantores de Itumbiara se espantaram com a salva de vinte e um tiros. Às quinze horas, imensa massa popular, mais duas bandas de música, foram até o escritório da comissão que construiu a ponte e de lá voltou com o dr. João Luiz Mendes Diniz à frente (homenageado com a avenida Engenheiro Diniz, no Bairro Martins). Foram para a Ponte. No meio dela, onde se separam os Estados, o cônego Theóphilo de Paiva (de Santa Rita), auxiliado pelo padre Francisco (de Monte Alegre), procedeu à bênção. Foram padrinhos do ato: João Severiano Rodrigues da Cunha, Custódio Pereira, Arlindo Soares Parreira, Antônio José Carlos Peixoto, Antônio Xavier Guimarães, Nicodemos de Macedo, Militão de Almeida, Jacinto Brandão e Francisco Olímpio de Paiva. Terminada a bênção, o engenheiro Diniz acabou de atravessar a Ponte seguido por autoridades e o povo numa soma aproximada de duas mil pessoas. Do lado mineiro, o dr. Diniz fez longo discurso.
Em seguida um escriturário da comissão de construção da ponte, Colombo Vasques, leu a ata da inauguração. Dada a palavra livre, o primeiro a usá-la foi o representante da Câmara uberabinhense, o Joanico (João Severiano). Em seguida, em nome do governo mineiro, falou o dr. Francisco Vieira de Oliveira e Silva. E mais o capitão e poeta Felizardo Fontoura e o major Olympio de Vasconcel.os (representando a Câmara e o povo de Monte Alegre). O governo goiano foi representado pelo coronel Antônio Xavier Guimarães e a Vila de Santa Rita pelo capitão Sidney de Almeida.
Diniz recebeu vários telegramas de Morrinhos, de Goiás, de São Francisco, de Monte Alegre e de Uberabinha. Os de Uberabinha vieram assinados um por empresários, líderes políticos e autoridades, e outro pelos empregados do comércio. No rancho onde se abrigaram as bandas de música, logo após a inauguração oficial, foi servido um “profuso copo de cerveja”, como se dizia na época, com vários brindes erguidos.
Curiosidades sobre a ponte: foi construída no sistema pênsil rígido com um vão livre central de 124m. Tinha o apoio de dois pilares com 2.000m3 de alvenaria que sustentavam 8 torres medindo 17,8m de altura, cada. Estes, sustentavam 14 cabos de aço com 221m cada e cada cabo sustentava 125 toneladas. Para testar a sua capacidade de sustentação, foi mantida uma carga de duzentas toneladas durante 24 horas sobre o estrado do vão livre. A ponte custou quinhentos contos de réis, cem só de carreto.
Após a inauguração, para comprovar sua resistência, transitaram ininterruptamente pela ponte 1.850 bois e 6 carros de bois carregados.
29. www.correiodeuberlandia.com.br/.../cronica_da_cidade.html – Antônio Pereira da Silva, do IAT – apis.silva@terra.com.br
Balsa que transportava animais, mercadorias e pessoas até o Porto de Santa Rita do Paranaíba
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