domingo, 24 de setembro de 2017

ZÉ GOMES DA ROCHA, HUMANO E POLÍTICO – 59 ANOS

         
   Maio de 2008 - aos 50 anos de vida - Itumbiara campeão - uma das maiores alegrias do Zé Gomes                                  

O sonho de ser prefeito  se tornou possível em 2004

     Durante 40 anos de atuação política e 58 anos de vida,  Zé Gomes da Rocha conheceu inúmeras vitórias e outras tantas derrotas até alcançar o maior sonho de ser prefeito de Itumbiara. Foi humano como todos nós nas alegrias e dores do dia a dia e político como ninguém na cidade, na arte de construir e transformar o lugar em que nasceu. Se é possível separar as duas dimensões, humana e política e pela vivência compartilhada com ele em cerca de oito anos de sua vida, acho que elas coexistem em momentos e se separam em outros, ele viveu plenamente as duas e caminhava sempre em busca de novas vitórias. Foi assim que construiu uma legião de apaixonados seguidores que se tornaram eleitores fiéis, ao mesmo tempo em que as vitórias faziam surgir adversários e até inimigos mortais.
Candidato com 18 anos em 1976 - eleito vereador
                            Começou como aprendiz de Modesto de Carvalho, apaixonado pelo Vasco da Gama e pelo Itumbiara. Em Modesto se espelhava em tudo que ia fazer. Se o mestre fez a Beira Rio, a primeira coisa que fez foi arrumar uma emenda da bancada goiana em mais de R$ 9 milhões, contratar arquitetos renomados para transformar a avenida no centenário. Se o professor fez o JK, Zé Gomes construiu o Centro de Treinamento e levou o time a conquista do campeonato goiano. Mas Modesto fez a melhor escola Municipal que era o Floriano de Carvalho, então o Zé deu o nome de seu avô a nova escola que custou mais de R$ 12 milhões. Se começou a vida política aprendendo com Modesto de Carvalho na arte das grandes construções, morreu na Avenida que deu o nome ao mestre, já nos últimos minutos daquela tarde de 28 de setembro do ano em que se tornaria o único prefeito a ser eleito três vezes pelo voto popular em 2016.

                   Zé Gomes da Rocha pelos dez anos a mais que teve na vida em relação a Modesto de Carvalho, trabalhou fisicamente como o professor e foi além na arte política de ampliar horizonte, que não foi possível ao seu mestre, como de aliar a presidente, como a Collor de Mello em 1989 e a governadores como a Marconi Perillo em 2004, pois sabia que era impossível ser prefeito sem ter ao lado o homem da camisa azul, a quem teve como adversário em 2000 e sofreu uma dolorida derrota que só foi curada com a vitória em 2004.  Depois ajudou Alcides Rodrigues a ser governador reeleito em 2006 e daria votação expressiva a Marconi Perillo em 2010 e 2014. Sempre aliava aos grandes em nome de sua cidade e teve até que abandonar seu padrinho de casamento Iris Resende em busca da sonhada vitória de um dia ser prefeito de Itumbiara. Foi além da relação política com Cidinho e Marconi, para fazer parte do cotidiano do Palácio das Esmeraldas.
Segundo suplente de deputado federal em 1986 - deputado federal em 1989
                   O lado político que sempre vem em primeiro plano, já quem milita na área, tem a vida privada aberta, sempre foi conhecido por todos, mas quase ninguém via seu lado humano.  Um ponto forte foi preservar a família em primeiro lugar. Criou os filhos longe do ambiente político partidário, que conhecia como ninguém. Se julgava uma “carne moída”, como dizia em seus discursos e não queria aquilo que vivia para o futuro de seus filhos. Por uma cidade são sofridas muitas dores, como aquela crônica que o impedia de jogar futebol no campinho da ilha e que fazia tratamento fisioterápico ali mesmo no Castelo Branco, onde almoçava, jantava, cortava o cabelo e passava as madrugadas sempre planejando o que construiria no dia seguinte. Nos últimos dias de vida, era coluna que lhe provocava maiores dores.
                                O time de futebol sempre foi a maior paixão de Zé Gomes
                   Nunca chorou uma lágrima em público e quando um dos parceiros ameaçava ser abatido pela tristeza, dizia para não fraquejar. Política não é para os fracos. Era facilmente decifrado pelas palavras, quando o humor mudava. Se alegres, os companheiros de trabalho eram “meu rei, ministro, presidente...”, mas se o dia não fora bem, quando nos chamavam por “chefe”, era melhor ficar longe, porque naquele dia seria explosivo.
                    Além dos parentes sanguíneos, adotou dois irmãos, a quem sempre ouvia os conselhos. Na médica Ione Borges Guimarães, que foi para o sacrifício em 2000 numa disputa impossível de ganhar contra Luiz Moura, o mais forte adversário político que enfrentou,  era sempre o ombro amigo a quem buscava nas horas tristes. O então advogado Nicomedes Borges era o seu conselheiro, o paizão capaz de conter qualquer excesso, de acalmar e indicar os melhores caminhos políticos, sempre usando a razão. Zé Gomes tinha outros amigos, mas esses dois eram irmãos. Naquele fatídico dia 28 de setembro de 2016, Doutora Ione estava mais uma vez ao lado do Zé Gomes, que caiu já sem vida na última carreata que fizeram juntos.
                                             Votos de Zé Gomes em eleições vitoriosas
                            As disputas políticas começaram já em 1976, quando Modesto de Carvalho passaria o governo municipal para o então aliado Radivair Miranda Machado. Morria o mestre Modesto de Carvalho em 1977 e nascia o aprendiz Zé Gomes da Rocha, que já no governo de Radivair mostraria a lealdade de defender o prefeito de uma CPI que lhe poderia custar o governo. Em uma das últimas viagens que fizemos juntos a Brasília em 2016, ele me contou como acabou a CPI contra Radivair. Quando a sessão iniciou, seu irmão Saul foi encarregado de apagar as luzes e com um revolver atirando para o teto da Câmara no escuro não sobrou ninguém para votar na sessão. Teve que ficar uns dias escondido, mas terminou tudo bem a história e Radivair concluiu o governo.
                                                         Deputado Federal reeleito em 1989
Com Waterloo e Iris Resende a partir de 1982, aprimorou a arte da oratória que já era inata em tempos colegiais e começou a alcançar os maiores lugares na política local. Foi presidente da Câmara Municipal e do time Itumbiara. Por obra do acaso, já que pretendia disputar o cargo de deputado estadual, debaixo de uma árvore na casa de Waterloo, seu destino mudou. Alvaro Guimarães, mais velho na política pediu e levou a vaga na disputa e depois seria eleito deputado estadual e sobrou a Zé Gomes disputar uma vaga para deputado federal.
                                           Presidente da Câmara Municipal - 1985
 A Assembleia Constituinte de 1988 cria o Estado do Tocantins e um dos deputados federais eleitos por sua coligação assume no novo estado. Outra vaga surge com a eleição de Paulo Roberto Cunha em Rio Verde e então Zé Gomes da Rocha se tornou deputado federal, para o qual se reelegeria em 1990, 1994 e 1998.
                                           Amigo do presidente Collor eleito em 1989
Uma das maiores frustações da vida, foi a derrota política que sofreu em 1996, quando quis pela primeira vez disputar o cargo de prefeito de Itumbiara. O então governador Maguito Vilela preferiu bancar o jovem Cairo Batista e Zé Gomes teve que adiar o sonho. Nunca esqueceu. Como humano, levou consigo esta tristeza. Pelo PMDB chegou sua vez de disputar em 2000, mas sofreu outra grande derrota e ele já sabia que perderia, pelas pesquisas que tinha em mãos. Cairo Batista não faria o sucessor e Luiz Moura que tinha ao lado Marconi Perillo era imbatível. Mais uma derrota que doeu muito, mas trouxe o aprendizado. Sem o governador ao lado, era impossível vencer a eleição em Itumbiara. 
Os filhos e amigos - vida em Brasília
O jogo político na maioria das vezes não é humano. Adversários se tornam 
inimigos e  como regra só não vale perder eleições. Nos finais de eleições, sempre ficavam feridos enquanto um grupo comemorava a vitória. Luiz Moura foi o mais forte adversário na vida política de Zé Gomes e as disputas ficaram só no campo da batalha pelo voto. Em 1988, Luiz Moura foi o novo na política e elegeria quem quisesse para seu sucessor e assim construiu Celso Santos. Mas Luiz Moura conheceu a derrota para Cairo Batista, o jovem moço do Bairro Novo Horizonte. Ainda não era o tempo de Zé Gomes, que perdeu em 2000 para Luiz Moura. O troco veio com a cassação do ex-prefeito em 2004. Foram grandes disputas com derrotas e vitórias para os dois lados.
                        A última carreata em 28 de setembro de 2016
Além da aprendizagem de fazer obras com Modesto de Carvalho, aprendeu outra arte que mestre ensinou. Unir adversários em um governo para a cidade. Se Modesto conseguiu unir Arena e MDB, assim como o pai Floriano de Carvalho no passado fizera com UDN e PSD, Zé Gomes ao ganhar a primeira eleição para prefeito, buscou em todos os partidos e até em grupos adversários, gente para governar junto e o resultado foi 95% de aprovação segundo pesquisa Serpes. Em dois mandatos de prefeito, morreu a oposição na cidade.
Outro diferencial foi por meio do Arraiá, agregar todas as entidades filantrópicas e assistenciais da cidade em evento anual. Fez convênios de subvenções com todas e honrava anualmente o compromisso. Se atrasava em um ano, no outro recomponha tudo. A ex-vereador Isbéria Toledo foi grande parceira neste projeto de aproximação com as entidades sociais.
A maior paixão da vida, não fazia questão de esconder. O time do Itumbiara vinha sempre em primeiro lugar. Era capaz de fazer loucuras, como a que lhe custou um processo em 1996 e que lhe matava aos poucos a cada eleição. Sofreu com ele em 2000, quando os grandes jornais diziam que não seria candidato, conseguiu passar por 2004 e em 2008 chegou a me deixar como primeiro reserva para disputar o governo se algo desse errado com este processo, que lhe corroía os dias de vida até o dia da última carreata. Os adversários não imaginavam que seria candidato em 2016 e mais uma vez ele estava ali em uma carreata, mesmo que fosse a última.
Como não aceitava interferência em sua administração e ás vezes, não conseguia controlar a paixão pelo time de futebol, sofreu outro processo, que poderia lhe causar a perda do terceiro mandato que não alcançou. Mas sofreu muito com estes e outros processos que respondia por defender sua cidade. Sempre dizia, não quer ser processado em Prefeitura, é muito fácil. É só não fazer nada, passar os quatro anos sem fazer nada. Mas ele aprendeu com Modesto de Carvalho a não ficar um dia parado. As ideias nasciam em um rascunho de papel nas madrugadas mal dormidas e se transformavam em obras quando já era dia.
Quem via sua militância política, suas batalhas, não imaginaria que o lado humano também tinha muita fé. Em uma das visitas que fiz a seu apartamento no ano de 2016, mostrou-me o fenômeno da queima de papéis no oratório, onde ficava a santa de sua devoção e o título de eleitor. Só este não foi queimado e o fogo não teve uma origem física, segundo ele. Contratava bons advogados para sua defesa, mas não deixava de fazer suas orações no dia a dia.  
Era implacável com seus adversários políticos, pois no meio, ensinava que eles ressurgem das cinzas, mas era capaz de perdoá-los quando antigos aliados se tornaram adversários e depois voltavam a procura-lo, principalmente quando a questão envolvia saúde. Não gostava de receber um “não”, e ficava emburrado até com o governador quando era contrariado. Quando amigos, se bebiam os melhores vinhos com ele, mas se adversários, a regra que valia era vencer sempre, mesmo que isso nem sempre fosse possível.
Com os amigos sempre cumpriu todos os compromissos que fizera e tinha enorme dificuldade em falar não ou demitir algum parceiro de governo. Certo dia me chamou a sua sala junto com o Chico Balla, seu vice prefeito e que se tornaria prefeito e disse: Eu tenho direito a escolher alguém para presidente da Saneago e meu próximo vice prefeito e vocês dois ocuparão estes cargos. O Chico, que já era vice teve o direito de responder primeiro e então escolheu continuar como companheiro de chapa.
Se na política era temido, corajoso e enfrentava qualquer batalha, no lado humano tinha seus medos. Seu compadre Joselir, gabava quando falava do Zé Gomês. Quando alguém falava que era amigo do prefeito ele dizia, que era mais, pois até dormia no mesmo quarto do compadre. Era o modo simples do Joselir se expressar, mas realmente o Zé não dormia sem alguém por perto.  
A construção de três mil casas populares, troca de toda iluminação, universalização de saneamento básico, pavimentação dos bairro habitados, compra de uma frota completa, escolas, clinicas populares, ocupação de espaços importantes nos poderes da república e tantas outras obras custaram muitos processos e a própria vida de Zé Gomes que teve abreviada sua passagem na terra. Queria concluir o Hospital que era o maior anseio da população. Ele sempre sabia o que a população queria, pois confiava muito nas pesquisas do senhor Antônio Lorenzo do Serpes e por isso queria voltar a prefeitura pela terceira vez, apesar do apelos de muitos amigos que era hora de deixar a política e viver mais o humano com a família, os amigos e os netos. Mas ele sempre tinha uma obra a mais a fazer e o hospital era o último rascunho que construíra na madrugada.
Pelo tempo que convivi com Zé Gomes da Rocha, acredito que ele não desejava morrer de forma violenta, mas se fosse inevitável, seria como um vencedor, com foguetes, com uma carreata gigante, ao lado dos irmãos e com um povo feliz seguindo seus passos com seus carros, suas motos, bicicletas e acenando das calçadas, como foi naquele 28 de setembro. Foi se o político que deixou aliados, adversários e até inimigos, mas foi o humano que possibilitou muitas famílias uma casa para morar sem aluguel, um tratamento que parecia impossível e amparo nas grandes causas que todos enfrentam no dia a dia.

O dia de sua morte não será um dia de tristeza ou de más recordações, mas de celebrar alguém que foi um dos maiores políticos de Itumbiara, com seus erros, suas fraquezas, vitórias e derrotas, mas acima de tudo, alguém humano que também construiu o bem e fez muitas pessoas felizes, nas quais permanecerá em suas mentes como o eterno companheiro, amigo e irmão.
                           Album de família - Zé Gomes Filho, Carolina, Zé Gomes, Adjaína e Doutora Alcione
                               Com o filho Arthur em 2011
                               Luis Augusto - filho de Zé Gomes

Nenhum comentário:

Postar um comentário