quinta-feira, 21 de setembro de 2017

MARECHAL CUNHA MATTOS NEGA CRIAÇÃO DE ESTRADA EM SANTA RITA DO PARANAÍBA NO ANO DE 1824

EM ENTREVISTA AO DIÁRIO DE ITUMBIARA, O GENERAL DISSE QUE EM 1824 NEM ERA DEPUTADO PROVINCIAL. A ELE É ATRIBUÍDA CRIAÇÃO DE ESTRADA QUE DEU ORIGEM A SANTA RITA DO PARANAÍBA
                                           Marechal Raimundo José da Cunha Matos




Declarado como fundador de Santa Rita do Paranaíba,  foi atribuído ao Marechal Cunha Mattos  quando governador das Armas em Goiás,  a sugestão da criação de uma estrada no sul do estado, que nasceria em Uberaba e chegaria até Anicuns. Por volta de 1830, na divisa de Goiás com Minas Gerais, foi criado um porto pelo governo imperial e a partir dele, teria começado já antes em 1824, o povoado de Santa Rita do Paranaíba, que teria crescido a partir desta estrada, que na época ligava ao sertão da Farinha Podre, hoje Triângulo mineiro a Goiás. Era ainda por picadas. Como o General,  só foi deputado provincial a partir de 1825, o Diário entrevistou Cunha Mattos para esclarecer sobre o assunto:

Diário de Itumbiara - Documentos do IBGE, a bandeira de Itumbiara, o brasão e em relatos históricos da cidade, colocam o senhor como criador de uma estrada que passava por Santa Rita do Paranaíba em 1824 e então originou a cidade. É verdade esta criação em 1824?

Marechal Cunha Mattos - Fui nomeado governador das armas em Goiás no ano de 1823 e cheguei a capital goiana em 15 de julho. Foram dois meses de viagem com uma tropa com meus auxiliares e alguns escravos. A função de governador de armas foi criada em 1821, pois havia uma separação entre o governo civil na província que tinha uma junta de governo e o militar, que era feito por meio do governador das armas. Eu cuidava da ordem da disciplina e da execução da justiça. A situação na província não estava tranquila, pois parte do Norte criou um governo separado, enquanto o Sul era governado pela Junta Civil. No dia seguinte a minha chegada, tomei posse no Palácio Conde dos Arcos como governador das armas. Não foi fácil nos primeiros três anos o convívio com o governo civil. Já em agosto de 1823 arregimentei uma tropa para ir combater no Norte do Estado, que teria formado um grupo contra o governo imperial. No dia 20 de setembro de 1823, depois de muitas discussões com a Junta Civil, parti com uma tropa rumo ao Norte de Goiás. Como as coisas se tranquilizaram no Norte, aproveitei para começar um estudo sobre a comunicação dentro das regiões e a estudar estradas para Goiás a partir desta viagem para o Norte. A partir de 20 de outubro de 1823, a Assembleia Constituinte determinou a criação de um governo para cada província e Goiás não seria mais comandado pela Junta Civil. Eu fiquei sabendo desta lei só em fevereiro de 1824, quando estava em Cavalcante. Só em setembro de 1824, a junta civil foi substituída pelo governado Caetano Maria Lopes Gama. Continuava muito ruim o relacionamento entre o chefe militar e o governo civil Lopes Gama. Em fevereiro, o governo da Província ainda queria saber qual era o papel do governador das armas em Goiás. A situação continuava feia. A coisa só mudou para melhor, quando meu nome foi aceito em fevereiro de 1825 para ser deputado provincial por Goiás, que tinha duas vagas no império. Então, em 1824, eu não tinha passado perto do Sul de Goiás. Fiquei preocupado com o Norte e com as desavenças com o governo civil

Diário de Itumbiara - Então o senhor poderia ter sugerido a criação da estrada em 1825?

Marechal - Voltei para o Rio de Janeiro em abril de 1825 e a primeira reunião seria em maio, mas quando cheguei na capital do Império me avisaram que naquele ano não teriam reunião da Assembleia provincial. Logo, também não foi em 1825. Mas esta viagem em 1825 foi boa, pois pedi uma promoção e voltei para Goiás com o titulo de Brigadeiro efetivo do Exército Brasileiro. Falei para meus chefes de meus trabalhos anteriores em Goiás como Geógrafo, historiador... e fui recompensado. Se tem uma obra que ajudei, foi na criação do Hospital da Misericórdia em Goiás. Mas os problemas com Lopes Gama voltaram novamente em Junho de 1825. Em minha carta ao Conselho de Governo da Província em 27 de setembro de 1825, relatei a situação caótica de Goiás, com um povo preguiçoso, atrasado... O governador ficou uma fera comigo. No ano anterior em 1824, eu tinha escrito o livro Compêndio Histórico de Goiás e relatava este atraso. Lopes Gama não gostou. Em 1826, voltei para o Rio de Janeiro e fui reeleito para novo mandato de deputado provincial por Goiás entre 1830 e 1833. Então, entre 1823 e 1826, não sugeri nada de criar estrada passando pelo Porto de Santa Rita do Paranaíba. O governador da província não se dava bem comigo.

Diário de Itumbiara - Pode ser então que a partir de 1826, quando o senhor volta para o Rio de Janeiro e assume o mandato de deputado e depois reeleito em 1830, pode ter sugerido a criação de tal estrada do Sul, ligando Uberaba a Anicuns em Goiás?

Pode ser, mas como já faz muito tempo e eu não escrevi esta parte em minhas obras, não tenho certeza. Mas se alguém falou que criei esta estrada, deixa assim. Só tenho certeza que não foi em 1824, porque nem deputado eu era.

Adaptação
Da obra de Neuma Brilhante Rodrigues
Tese de doutorado pela UNB - 2008
Nos caminhos do Império: Trajetória de Raimundo José da Cunha Mattos


A CRIAÇÃO DA ESTRADA POR VOLTA DE 1830
Padre Florentino Bermejo

"I - A cidade de Santa Rita do Paranahyba é situada á margem direita do Rio Paranahyba que a separa do estado de Minas Gerais é banhada pelos córregos das pombas, da Trindade e da água Suja.
No ano de 1824 foi por estas paragens passou o primeiro ser humano civilizado Antônio José Leite embarcou no Rio dos Bois, perto da capital de Goyaz, descendo até a sua foz no Paranahyba, subio por Esse em viagem de exploração, tocando no local onde se acha hoje situada esta florescente cidade.
Em 1830 o deputado Cunha Mattos repr
esentado Goyaz na Camara Federal propôs que o governo fizesse abrir uma estrada que partindo da Farinha Podre (hoje Uberaba) em Minas, viesse em direção a Anicuns, Goyaz, atravessando o Paranahyba entre as emborcaduras dos Rios Corumbá e Meia Ponte no ponto mais conveniente. O governo imperial mandou abrir a referida estrada e o porto escolhido na passagem do Paranahyba, foi justamente onde se acha colocada a cidade de Santa Rita, por esta estrada transitaram forças imperiais com demanda o Theatro da Guerra do Brasil com o Paraguai (1865 a 1870)."

A versão da fundação a partir desta estrada e do ano de 1824, poderia ter sido criado pelo jornalista Moisés Augusto de Santana, que esteve em Santa Rita do Paranaíba entre 1918 e 1920 e tinha uma revista chamada "Paranaíba" - Revista de Letras, artes, ciências, Economia e jurisprudência. Ele teria servido de fonte para o IBGE registrar a versão de fundação de Santa Rita do Paranaíba a partir desta estrada construída pelo governo imperial.

Marechal Cunha Matos nasceu em 02 de novembro de 1776
faleceu no Rio de Janeiro em 1839
Autor do Livro: Mapa Itinerário de Raimundo José da Cunha Mattos desde o Rio de Janeiro até os confins da província de Goiás, com os do Pará, Maranhão, Piauí, Mato Grosso, São Paulo, Pernambuco e Minas Gerais.

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