Nossa homenagem a um dos políticos mais presentes na história política de Itumbiara a partir da década de 1970.
UMA ENTREVISTA COM RADIVAIR
Trechos do Livro: Zé Gomes, o prefeito do centenário de ITUMBIARA
Nascido
em 27 de agosto de 1940, o advogado Radivair Miranda Machado[1]
formou-se pela Universidade Federal de Uberlândia em 06 de março de 1980,
quando já era o prefeito de Itumbiara e tem a carteira da OAB com o registro
8966 de 26 de outubro de 1988. Mas o que marcou a história de um dos mais bem
sucedidos políticos da geração da década de 1970, foi sua liderança como
prefeito entre 1977 e 1982 e as grandes obras de sua gestão que foram
referências para Zé Gomes da Rocha.
Além de
padrinho de casamento de Zé Gomes em 1979, Radivair também foi um dos mais
fiéis amigos, conselheiro e mestre na política de Itumbiara. Apesar de ter
iniciado como bancário no Banco da Lavoura, depois Real e finalmente no Banco
do Brasil como fiscal, já lidava com política desde os dezoito anos quando foi
eleito em Itumbiara pelo PSD, o ex-prefeito João Rocha.
A
primeira participação direta de Radivair em uma eleição foi ao lado de José
Seronni, genro do então líder do PSD em 1960, Sebastião Xavier. Na entrevista feita em 07 de janeiro de 2019,
Radivair volta cinquenta anos para relembrar uma disputa que estava
praticamente ganha e que teve reviravolta com a vitória de Ataíde Borges da
UDN, devido ao episódio das botinas amarelas.[2]
Mesmo trabalhando no Banco do Brasil, Radivair gostava muito de política e foi
para a primeira disputa como vereador, a qual saiu vencedor pelo MDB em 1970.
Depois de
deixar o Banco do Brasil, Radivair Miranda Machado foi participar diretamente
do governo Modesto de Carvalho a partir de 1973, quando assumiu pastas como a
SEPAI – Superintendência de Pavimentação e por último o DEMES – Departamento
Municipal de Esportes, onde se destacou e foi candidato da legenda MDB em 1976
e ganhou a eleição.
Radivair
conta que o preferido de Modesto de Carvalho para sucedê-lo era o vice Zé
Moisés, que mesmo tendo o apoio do prefeito, no discurso brincava que se fosse
para votar em alguém já de idade avançada, que votasse nele, mas se o pessoal
preferisse o mais novo e cheio de energia, que escolhesse Radivair. Três nomes figuravam
na cédula eleitoral e Radivair foi o mais votado.
Naqueles tempos
do final da década de 1970 e início de 1980, Radivair já estudava direito na
Universidade Federal de Uberlândia e inicialmente por motivos de saúde quando
era secretário e depois que se tornou prefeito, trancou a matricula por um
período, mas concluiu o curso em 1980.
O ponto
em que se encontram Radivair e Zé Gomes, já vinha desde os tempos da primeira
eleição de Zé Gomes em 1976 e por ser fiel e o maior defensor de Radivair, se
tornou o líder do prefeito na Câmara Municipal. Radivair e dona Anair contam
que esta era a primeira fase de Zé Gomes na política, em que o próprio admitia
que era ainda “moleque”, sem responsabilidade, que passaria depois para ser o
“alegre” e então chegar a fase de responsabilidade, quando chegou a Prefeitura
em 2004.
Para ilustrar
o jeito moleque de Zé Gomes, Radivair conta que no último dia de campanha,
chegou cansado em casa e foi deitar e quem estava já descansando tranquilamente
em sua cama, era justamente o futuro vereador Zé Gomes. Lembra ele que naquele
tempo de poucos cabos eleitorais, Zé Gomes fazia sua campanha arrecadando
dinheiro para fazer torneios de futebol, em que comprava bola, troféus,
medalhas e saia organizando pela cidade.
Alguns
pontos marcantes da administração de Zé Gomes vieram da influência de Modesto
de Carvalho e Radivair Miranda Machado. A primeira foi a questão da
credibilidade conquistada junto a fornecedores, que nos dois governos do MDB
entre 1973 e 1982 foram exemplares. Tudo que comprava era pago a vista.
Radivair destaca que o planejamento foi o diferencial de seu governo e o fato
de contar com recursos do projeto Cura, apresentado ainda por ele próprio e
equipe contratada em São Paulo, quando era auxiliar de Modesto de Carvalho. O
“Tá compro, tá pago”, certamente veio destes dois governos.
O segundo
segredo, também executados por Modesto de Carvalho e Radivair foi a execução
direta das obras. Tinha mão de obra pra tudo e assim que foi feito o Estádio JK
na gestão de Modesto e mais de um milhão de m2 de asfalto na gestão de
Radivair, incluindo a urbanização e paisagismo no início da década de 1980.
Radivair destaca que conseguiu fazer o
Hospital Municipal Modesto de Carvalho em dois anos, com parte de recursos do
projeto CURA e a maior parte de recursos próprios. “era como se colocasse hoje
em uma obra de R$ 22 milhões, R$ 20 milhões de recursos próprios e a
contrapartida do projeto CURA. Já na
urbanização, onde gastou parte do projeto de financiamento do governo federal,
foram cerca de R$ 20 milhões e a contrapartida do município. Foi assim que
também foi construída a Rodoviária. As últimas prestações do financiamento, que
não chegava a R$ 4 mil se fosse na moeda atual e foi quitada no governo Celso
Santos.
Sobre as
campanhas eleitorais, nos dias atuais cheia de cabos eleitorais, para Radivair,
os tempos de muitos cabos eleitorais em eleições tem origem já nas eleições de
1982, quando foi eleito Waterloo Araújo com sua “Torcida de Deus”. Naquela eleição que ainda tinha sublegendas[3],
seu candidato preferido no MDB era Paulo Fernando, um advogado, que tinha ainda
Sebastião Xavier Júnior e o Waterloo, que saiu vitorioso.
Dos
tempos de eleições, lembra Radivair que na disputa com doutor Genésio da Arena
em 1976, além de seu passado como fiscal do Banco do Brasil ter influenciado
muito na zona rural onde ia muito, o fato da construção da Usina Hidrelétrica
de Furnas também foi decisivo em sua eleição para prefeito, já que o grande
contingente de operários votaram em sua maioria nele como candidato. Até
brinca, que seu oponente doutor Genésio da Arena, dava um maço de cigarros para
os eleitores, mas eles recusaram votar nele porque o cigarro não era de boa
qualidade.
Entende
Radivair que o racha provocado por Waterloo Araújo em lançar o vereador Luiz Moura, que antes era um
grande crítico da gestão do prefeito, provocou o enfraquecimento do PMDB e como
nos dias atuais, veio uma onda naquelas eleições de 1988 que elegeu Luiz Moura,
por ser um grande crítico na tribuna quando foi vereador, por contar com o
apoio de Waterloo Araújo e principalmente pela crise que passava o país no governo de José Sarney
que estava no PMDB.
Ainda
sobre o Hospital Municipal que construiu, lembra Radivair que o projeto já pegou pronto e o construtor João
Broca fez as adaptações. Com os recursos e a mão de obra própria, conseguiu o
feitio de fazer a obra em dois anos, o mesmo prazo que Zé Gomes prometera na
última campanha em 2016.
Diferentemente
de Zé Gomes, conta Radivair que não contava com maioria na Câmara Municipal,
que era da ARENA, mas por ter um orçamento bem feito e neste caso ele elogia o
auxiliar João Schitini, praticamente não precisava do Poder Legislativo e
gaba-se de ficar dez meses sem fazer o repasse do duodécimo em uma briga
jurídica que envolvia o modo da contabilização naquela época.
Além dos
recursos, da execução direta, o terceiro segredo contado por Radivair e que
serviu de escola para Zé Gomes, foi o de conhecer a máquina pública, os
equipamentos e acompanhar diretamente cada obra. Foi assim no governo Modesto
de Carvalho, onde realmente mudaram para dentro do estádio JK e semanalmente
pagavam os pedreiros. Ressalta ele, que certa vez, pagou do próprio bolso uma
semana de mão de obra, já que de vez em quando, o Modesto viajava ou ia tirar
um descanso no Rancho, mas ele ficava na obra e se tinha problema, resolvia.
A Usina
de Asfalto era peça central do governo e por isso tinha atenção especial. Radivair
disse que sabia tudo sobre ela, até o tipo de graxa que podia ou não usar. Se
não acompanhasse, a máquina poderia quebrar ou ser quebrada pelo mau uso. Mais
uma lição que Zé Gomes também aprendeu com Radivair. Outra característica de
seu governo e que também foi copiada por Zé Gomes, era a questão de hierarquia.
A prefeitura tinha um só comando e os secretários, diretores e superintendentes
obedeciam.
Na mesma
entrevista, Dona Anair Goulart, esposa de Radivair, ressalta o respeito que Zé
Gomes tinha pela família. Tratava muito bem as pessoas., ressalta ela. Radivair
também era o conselheiro, que Zé Gomes recorria para trocar ideias quando de
suas decisões. Outra virtude de Zé Gomes que o casal destacou, foi a
fidelidade. Da década de 1970 até o último dia de vida, Zé Gomes sempre foi
muito fiel ao padrinho político.
Além de
advogado, ex-prefeito, ex-deputado, ex-secretário de Transporte de Goiás,
Radivair Miranda Machado se destaca em Itumbiara desde o início da década de
1970 como empresário do Rádio, a qual se dedica até os dias atuais. Destaca que
o Rádio sempre foi um importante meio de comunicação e que tinha muita
influência nas disputas eleitorais, menos hoje em dias de redes sociais. Mas
faz questão de ressaltar que não fazia política com a Rádio. Ele era o político
e a Rádio, sempre um meio de comunicação.
Sobre a
questão da imagem, é consenso na opinião do casal Radivair Miranda e Anair
Goulart que Zé Gomes da Rocha mudou a imagem para se tornar prefeito. Realmente
passou de “moleque”, que não tinha muita responsabilidade para a fase “alegre”,
que era o político extrovertido, até atingir a maturidade e se tornar um
político sério e nesta mudança, o casal reforça que foi para as ruas em 2004,
para programar por onde passava, que Zé Gomes realmente havia mudado e estava
preparado para ser o prefeito de Itumbiara em 2004.
Sobre a
última sucessão de Zé Gomes, não participou da decisão e sabia do plano de que
se não fosse possível a candidatura do Zé, o substituto seria o médico Marcello
Gomes, apesar de Zé Gomes nunca ter admitido que teria um plano B.
[1]
Radivair
Miranda Machado, nasceu em 27 de agosto de 1940 em Itumbiara, filho
de José Machado Sobrinho e Maria Miranda Machado. Casou-se com Anair Goulart
Machado e teve quatro filhos: Alessandra, Gisele Gracia, Radivair Filho e
Luciana. Formou-se em Direito na Universidade Federal de Uberlância - UFU,.
Exerceu as profissões de Empresário, Radialista e Advogado. Fundador e Diretor
da "Rádio Paranaíba" de Itumbiara. Iniciou
na vida pública no antigo PSD, atuando nas campanhas políticas como locutor e
cabo eleitoral. Filiou-se ao MDB e, depois, ao PMDB. Foi dirigente partidário
municipal e estadual do Partido. Foi Vereador (MDB) 1970, Prefeito Municipal de
Itumbiara (MDB) 1977-1982, Deputado Estadual (PMDB) de 1983-1987 quando
licenciou-se em março de 1983 para assumir Secretaria de Estado dos Transportes
durante o Governo Íris Rezende (1983 - 1986). Atuou também como Diretor do
Banco do Estado de Goiás em 1994.
[2]
O termo Botinas
Amarelas refere-se a uma estratégia usada por Ataides Rodrigues Borges para
vencer as eleições atribuindo um boato de autoria de Zé Gozé, um político da
esquerda, ao seu opositor José Seronni
de que o mesmo não gostava de gente da roça usando as “botinas” como símbolo de
sua campanha revertendo a seu favor o favoritismo do outro candidato.
[3] Figuravam em cada partido três
candidatos. O MDB tinha três e a ARENA também três. O mais votado entre as
Legendas era o eleito.
otima materia.
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