segunda-feira, 18 de outubro de 2021

MORRE RADIVAIR MIRANDA MACHADO AOS 81 ANOS - UM GESTOR DE GRANDES OBRAS EM ITUMBIARA

 Nossa homenagem a um dos políticos mais presentes na história política de Itumbiara a partir da década de 1970.


UMA ENTREVISTA COM RADIVAIR

Trechos do Livro: Zé Gomes, o prefeito do centenário de ITUMBIARA

Nascido em 27 de agosto de 1940, o advogado Radivair Miranda Machado[1] formou-se pela Universidade Federal de Uberlândia em 06 de março de 1980, quando já era o prefeito de Itumbiara e tem a carteira da OAB com o registro 8966 de 26 de outubro de 1988. Mas o que marcou a história de um dos mais bem sucedidos políticos da geração da década de 1970, foi sua liderança como prefeito entre 1977 e 1982 e as grandes obras de sua gestão que foram referências para Zé Gomes da Rocha.

Além de padrinho de casamento de Zé Gomes em 1979, Radivair também foi um dos mais fiéis amigos, conselheiro e mestre na política de Itumbiara. Apesar de ter iniciado como bancário no Banco da Lavoura, depois Real e finalmente no Banco do Brasil como fiscal, já lidava com política desde os dezoito anos quando foi eleito em Itumbiara pelo PSD, o ex-prefeito João Rocha.

A primeira participação direta de Radivair em uma eleição foi ao lado de José Seronni, genro do então líder do PSD em 1960, Sebastião Xavier.  Na entrevista feita em 07 de janeiro de 2019, Radivair volta cinquenta anos para relembrar uma disputa que estava praticamente ganha e que teve reviravolta com a vitória de Ataíde Borges da UDN, devido ao episódio das botinas amarelas.[2] Mesmo trabalhando no Banco do Brasil, Radivair gostava muito de política e foi para a primeira disputa como vereador, a qual saiu vencedor pelo MDB em 1970.

Depois de deixar o Banco do Brasil, Radivair Miranda Machado foi participar diretamente do governo Modesto de Carvalho a partir de 1973, quando assumiu pastas como a SEPAI – Superintendência de Pavimentação e por último o DEMES – Departamento Municipal de Esportes, onde se destacou e foi candidato da legenda MDB em 1976 e ganhou a eleição.

Radivair conta que o preferido de Modesto de Carvalho para sucedê-lo era o vice Zé Moisés, que mesmo tendo o apoio do prefeito, no discurso brincava que se fosse para votar em alguém já de idade avançada, que votasse nele, mas se o pessoal preferisse o mais novo e cheio de energia, que escolhesse Radivair. Três nomes figuravam na cédula eleitoral e Radivair foi o mais votado.

Naqueles tempos do final da década de 1970 e início de 1980, Radivair já estudava direito na Universidade Federal de Uberlândia e inicialmente por motivos de saúde quando era secretário e depois que se tornou prefeito, trancou a matricula por um período, mas concluiu o curso em 1980.

O ponto em que se encontram Radivair e Zé Gomes, já vinha desde os tempos da primeira eleição de Zé Gomes em 1976 e por ser fiel e o maior defensor de Radivair, se tornou o líder do prefeito na Câmara Municipal. Radivair e dona Anair contam que esta era a primeira fase de Zé Gomes na política, em que o próprio admitia que era ainda “moleque”, sem responsabilidade, que passaria depois para ser o “alegre” e então chegar a fase de responsabilidade, quando chegou a Prefeitura em 2004.

Para ilustrar o jeito moleque de Zé Gomes, Radivair conta que no último dia de campanha, chegou cansado em casa e foi deitar e quem estava já descansando tranquilamente em sua cama, era justamente o futuro vereador Zé Gomes. Lembra ele que naquele tempo de poucos cabos eleitorais, Zé Gomes fazia sua campanha arrecadando dinheiro para fazer torneios de futebol, em que comprava bola, troféus, medalhas e saia organizando pela cidade.

Alguns pontos marcantes da administração de Zé Gomes vieram da influência de Modesto de Carvalho e Radivair Miranda Machado. A primeira foi a questão da credibilidade conquistada junto a fornecedores, que nos dois governos do MDB entre 1973 e 1982 foram exemplares. Tudo que comprava era pago a vista. Radivair destaca que o planejamento foi o diferencial de seu governo e o fato de contar com recursos do projeto Cura, apresentado ainda por ele próprio e equipe contratada em São Paulo, quando era auxiliar de Modesto de Carvalho. O “Tá compro, tá pago”, certamente veio destes dois governos.

O segundo segredo, também executados por Modesto de Carvalho e Radivair foi a execução direta das obras. Tinha mão de obra pra tudo e assim que foi feito o Estádio JK na gestão de Modesto e mais de um milhão de m2 de asfalto na gestão de Radivair, incluindo a urbanização e paisagismo no início da década de 1980. Radivair  destaca que conseguiu fazer o Hospital Municipal Modesto de Carvalho em dois anos, com parte de recursos do projeto CURA e a maior parte de recursos próprios. “era como se colocasse hoje em uma obra de R$ 22 milhões, R$ 20 milhões de recursos próprios e a contrapartida do projeto CURA.  Já na urbanização, onde gastou parte do projeto de financiamento do governo federal, foram cerca de R$ 20 milhões e a contrapartida do município. Foi assim que também foi construída a Rodoviária. As últimas prestações do financiamento, que não chegava a R$ 4 mil se fosse na moeda atual e foi quitada no governo Celso Santos.

                           

 

                         

Sobre as campanhas eleitorais, nos dias atuais cheia de cabos eleitorais, para Radivair, os tempos de muitos cabos eleitorais em eleições tem origem já nas eleições de 1982, quando foi eleito Waterloo Araújo com sua “Torcida de Deus”.  Naquela eleição que ainda tinha sublegendas[3], seu candidato preferido no MDB era Paulo Fernando, um advogado, que tinha ainda Sebastião Xavier Júnior e o Waterloo, que saiu vitorioso.

Dos tempos de eleições, lembra Radivair que na disputa com doutor Genésio da Arena em 1976, além de seu passado como fiscal do Banco do Brasil ter influenciado muito na zona rural onde ia muito, o fato da construção da Usina Hidrelétrica de Furnas também foi decisivo em sua eleição para prefeito, já que o grande contingente de operários votaram em sua maioria nele como candidato. Até brinca, que seu oponente doutor Genésio da Arena, dava um maço de cigarros para os eleitores, mas eles recusaram votar nele porque o cigarro não era de boa qualidade.

Entende Radivair que o racha provocado por Waterloo Araújo em lançar  o vereador Luiz Moura, que antes era um grande crítico da gestão do prefeito, provocou o enfraquecimento do PMDB e como nos dias atuais, veio uma onda naquelas eleições de 1988 que elegeu Luiz Moura, por ser um grande crítico na tribuna quando foi vereador, por contar com o apoio de Waterloo Araújo e principalmente pela crise  que passava o país no governo de José Sarney que estava no PMDB.

Ainda sobre o Hospital Municipal que construiu, lembra Radivair que  o projeto já pegou pronto e o construtor João Broca fez as adaptações. Com os recursos e a mão de obra própria, conseguiu o feitio de fazer a obra em dois anos, o mesmo prazo que Zé Gomes prometera na última campanha em 2016.

Diferentemente de Zé Gomes, conta Radivair que não contava com maioria na Câmara Municipal, que era da ARENA, mas por ter um orçamento bem feito e neste caso ele elogia o auxiliar João Schitini, praticamente não precisava do Poder Legislativo e gaba-se de ficar dez meses sem fazer o repasse do duodécimo em uma briga jurídica que envolvia o modo da contabilização naquela época.

Além dos recursos, da execução direta, o terceiro segredo contado por Radivair e que serviu de escola para Zé Gomes, foi o de conhecer a máquina pública, os equipamentos e acompanhar diretamente cada obra. Foi assim no governo Modesto de Carvalho, onde realmente mudaram para dentro do estádio JK e semanalmente pagavam os pedreiros. Ressalta ele, que certa vez, pagou do próprio bolso uma semana de mão de obra, já que de vez em quando, o Modesto viajava ou ia tirar um descanso no Rancho, mas ele ficava na obra e se tinha problema, resolvia.

A Usina de Asfalto era peça central do governo e por isso tinha atenção especial. Radivair disse que sabia tudo sobre ela, até o tipo de graxa que podia ou não usar. Se não acompanhasse, a máquina poderia quebrar ou ser quebrada pelo mau uso. Mais uma lição que Zé Gomes também aprendeu com Radivair. Outra característica de seu governo e que também foi copiada por Zé Gomes, era a questão de hierarquia. A prefeitura tinha um só comando e os secretários, diretores e superintendentes obedeciam.

Na mesma entrevista, Dona Anair Goulart, esposa de Radivair, ressalta o respeito que Zé Gomes tinha pela família. Tratava muito bem as pessoas., ressalta ela. Radivair também era o conselheiro, que Zé Gomes recorria para trocar ideias quando de suas decisões. Outra virtude de Zé Gomes que o casal destacou, foi a fidelidade. Da década de 1970 até o último dia de vida, Zé Gomes sempre foi muito fiel ao padrinho político.

Além de advogado, ex-prefeito, ex-deputado, ex-secretário de Transporte de Goiás, Radivair Miranda Machado se destaca em Itumbiara desde o início da década de 1970 como empresário do Rádio, a qual se dedica até os dias atuais. Destaca que o Rádio sempre foi um importante meio de comunicação e que tinha muita influência nas disputas eleitorais, menos hoje em dias de redes sociais. Mas faz questão de ressaltar que não fazia política com a Rádio. Ele era o político e a Rádio, sempre um meio de comunicação.

Sobre a questão da imagem, é consenso na opinião do casal Radivair Miranda e Anair Goulart que Zé Gomes da Rocha mudou a imagem para se tornar prefeito. Realmente passou de “moleque”, que não tinha muita responsabilidade para a fase “alegre”, que era o político extrovertido, até atingir a maturidade e se tornar um político sério e nesta mudança, o casal reforça que foi para as ruas em 2004, para programar por onde passava, que Zé Gomes realmente havia mudado e estava preparado para ser o prefeito de Itumbiara em 2004.

Sobre a última sucessão de Zé Gomes, não participou da decisão e sabia do plano de que se não fosse possível a candidatura do Zé, o substituto seria o médico Marcello Gomes, apesar de Zé Gomes nunca ter admitido que teria um plano B.

 

 

 



[1] Radivair Miranda Machado, nasceu em 27 de agosto de 1940 em Itumbiara, filho de José Machado Sobrinho e Maria Miranda Machado. Casou-se com Anair Goulart Machado e teve quatro filhos: Alessandra, Gisele Gracia, Radivair Filho e Luciana. Formou-se em Direito na Universidade Federal de Uberlância - UFU,. Exerceu as profissões de Empresário, Radialista e Advogado. Fundador e Diretor da "Rádio Paranaíba" de Itumbiara. Iniciou na vida pública no antigo PSD, atuando nas campanhas políticas como locutor e cabo eleitoral. Filiou-se ao MDB e, depois, ao PMDB. Foi dirigente partidário municipal e estadual do Partido. Foi Vereador (MDB) 1970, Prefeito Municipal de Itumbiara (MDB) 1977-1982, Deputado Estadual (PMDB) de 1983-1987 quando licenciou-se em março de 1983 para assumir Secretaria de Estado dos Transportes durante o Governo Íris Rezende (1983 - 1986). Atuou também como Diretor do Banco do Estado de Goiás em 1994.

 

[2] O termo Botinas Amarelas refere-se a uma estratégia usada por Ataides Rodrigues Borges para vencer as eleições atribuindo um boato de autoria de Zé Gozé, um político da esquerda, ao seu opositor  José Seronni de que o mesmo não gostava de gente da roça usando as “botinas” como símbolo de sua campanha revertendo a seu favor o favoritismo do outro candidato.

[3] Figuravam em cada partido três candidatos. O MDB tinha três e a ARENA também três. O mais votado entre as Legendas era o eleito.


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