Urbano Gouveia, presidente (governador) do estado de Goiás em 1909
Foi publicado hoje (25/09/1909), o decreto do presidente Urbano Gouveia que nomeou o Conselho Provisório de Intendência e marcou para 12 de outubro a instalação do município, que foi emancipado em 16 de julho por meio da Lei número 349. O conselheiro provisório Jacintho Brandão vai comandar a instalação e comanda o Conselho até dezembro, quando ocorrerá a eleição no novo Intendente de Santa Rita do Paranaíba.
Veja lei, Decretos e Ata de Instalação do município de Santa Rita do Paranaíba
Autógrafo
de Lei nº 12
CONGRESSO LEGISLATIVO DO
ESTADO DE GOIÁS
O Arraial de Santa Rita do Paranaíba
foi elevado à categoria de Villa
Art. 1º - Fica elevada à categoria de Villa, o Arrayal
de Santa Rita do Paranahyba, constituindo município autônomo com as atuais
linhas de seu território.
Art. 2º - A Villa será
instalada tão logo seus habitantes provem estarem preenchidas as condições
essenciais de que acata a Lei Orgânica dos Municípios sob nº 205 de 7 de agosto
de 1908.
Art. 3º - Revogão-se as
disposições em contrário.
Paço
do Senado do Estado de Goiás, 15 de julho de 1909.
Joaquim Ruffino Ramos Jubé
Luiz Medeiros – 1º
secretário
Sanciono. Publique-se
Goyas, 16 de julho de 1909
José da Silva Baptista
(Presidente do Estado em exercício)
Carta de Lei em 16 de julho
de 1909.
Decreto 2518 de 18 de
setembro de 1909
O Presidente do Estado, considerando que, pela
Lei 349, de 16 de julho findo,
foi o distrito de Santa Rita do Paranaíba elevado a município. DECRETA:
Art. 1 – Fica nomeada uma Intendência composta
dos cidadãos coronel Jacintho
Brandão, capitão Joaquim Thimóteo de Paula, Antônio J oaquim da Silva, Francisco
Carneiro de Castro, Joaquim Firmo de Velasco, Olegário
Herculano de Aquino e Josino Antônio de Gusmão, o primeiro como
presidente e os demais como membros, para instalar o município de Santa Rita do Paranaíba
e administra-lo provisoriamente.
§ único. O presidente e os membros da
Intendência prestação o compromisso
de seus cargos e exercerão as suas funções e, de acordo com a Lei n. 129, de 23 de junho de 1897;
Art. 2 – É designado o dia 12 de outubro, para
ter lugar a instalação do município
e o dia 16 de dezembro, tudo do corrente ano,
a fim de se proceder a
eleição de intendente, vice-intendentes e conselheiros municipais.
Art. 3 – Revogam-se as disposições em
contrário.
O
Secretário do Interior, Justiça e Segurança Pública expeça as necessárias
comunicações.
Palácio
da Presidência do Estado de Goiás, 18 de setembro de 1909. 21º da República.
Urbano
Coelho de Gouvea.
Semanário
Oficial, 25 de setembro de 1909. Número 479
Decreto 2.527, de 4 de outubro de 1909
Nomeia o cidadão Sidney Pereira de Almeida para
o cargo de membro da Intendência
Provisória do município de Santa Rita do Paranaíba, na vaga aberta em
consequência do falecimento do cidadão Francisco Carneiro de Castro.
Semanario Oficial – ANO XII – 9 de outubro de
1909 n. 481
A instalação do Município vai ocorrer em 12 de outubro de 1909, conforme
a ATA.... FERREIRA apud (ALMEIDA NETO, 1997 – 10-11)
ATA DE INSTALAÇÃO DE
SANTA RITA DO PARANAÍBA
Aos doze dias do mês
de outubro do ano de Um mil, novecentos e nove, 21º da República dos Estados Unidos do Brasil, neste arraial de Santa Rita
do Paranaíba, pelas doze horas do dia, na sala das sessões do Conselho
Municipal, ali presentes os cidadãos: Coronel Jacintho Brandão, Joaquim Timóteo
de Paula, Joaquim Firmo de Velasco, Antonio Joaquim da Silva, Olegário
Herculano de Aquino, Josino de Gusmão e Coronel Sidney Pereira de Almeida, o
primeiro como presidente e os demais como membros
do Conselho Municipal Provisório de Santa Rita do Paranaíba, nomeados por
Decreto nº 2.518 de 18 de setembro de 1909, para instalar o município e
administrá-lo provisoriamente. O Sr.
Presidente levantou-se e deferiu o compromisso e os demais membros,
conforme consta no termo lavrado em livro especial da seguinte forma: “por minha
honra e pela Pátria, prometo solenemente preencher com toda exatidão e
escrúpulo os deveres inerentes do cargo de conselheiros provisórios (…) nesse
desempenho quando em mim couber a bem do Município, do Estado e de seus
concidadãos.” Este compromisso foi
prestado por todos os membros do Conselho Munici pal perante o Presidente. Declarando em seguida o Sr. Presidente
em voz alta: “instalo o Município de Santa Rita do Paranaíba, criado pela Lei
nº 349 de 16 de julho de 1909.” Após estas palavras do Senhor Presidente, a banda local ai presente
executou o Hino Nacional que foi ouvido com o devido respeito. Em seguida
tomando a palavra, produziu em nome do diretório do Partido Democrata local,
brilhante oração alusiva ao ato, o cidadão Joaquim Firmo de Velasco ao terminar
brindou o Dr. Urbano Coelho de Gouveia, DD. Presidente do Estado. O Sr. Coronel
Antonio Xavier Guimarães em nome do Sr. Presidente do Estado agradeceu a
saudação. O Revmo Padre Teófilo José de Paiva, ai presente orou (…) O Sr.
Pretextato Marques da Silva fez um belo discurso mostrando que a prosperidade e o engradecimento que ora se
instalava, devia somente ter por base a união de todo o povo. Também fez uma
pequena locução, a interessante menina Gersomilda Santos, sendo em seguida
cantado por um grupo de senhoritas o Hino Nacional. Terminando desta forma o
ato de instalação da Vila de Santa Rita do Paranaíba ao qual assistiu grande
número de populares, o Sr.
Presidente mandou lavrar esta ata que assina comigo Coronel Sidney Pereira de
Almeida, secretário e demais membros do Conselho,como todas as pessoas
presentes, que quiserem. Coronel Jacintho Brandão, Presidente, Coronel Sidney
Pereira de Almeida, Secretário, Josino Antonio de Gusmão, Joaquim Firmo de
Velasco, Joaquim Timótheo de Paula, Olegário
Herculano de Aquino e Antonio Joaquim da Silva.
A HISTÓRIA DE EMANCIPAÇÃO DE SANTA RITA DO PARANAÍBA
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3.2 A EMANCIPAÇÃO DE SANTA RITA DO
PARANAÍBA
Até
culminar com a emancipação de Santa Rita do Paranaíba, ocorreram várias
relações políticas e acontecimentos, que têm início quarenta e seis anos antes,
com a chegada de Hermenegildo Lopes de Moraes a Santa Rita do Paranaíba como
funcionário público da Recebedoria em 1863.
A
construção da riqueza e da família que deram origem ao poder político exercido
por Morrinhos na Primeira República tem seu início no Arraial de Santa Rita do
Paranaíba, quando o coronel Hermenegildo, possuidor de tropas de burros e de um
comércio no povoado, consegue abastecer as tropas que iam para a Guerra do
Paraguai, período em que também casou-se com Francisca Carolina de Nazareth
Moraes, cuja família era de fazendeiros bem sucedidos em Santa Rita do
Paranaíba. É ainda em Santa Rita do Paranaíba que nasce o primogênito de
Hermenegildo Lopes de Moraes, em 1870, e que irá sucedê-lo na liderança das
relações de poder a partir de 1905 com a morte do pai coronel.
Morrinhos
aparece nessas relações de poder a partir de 1871, quando Hermenegildo Lopes de
Moraes se muda para o município, que logo se emancipa em 1872. Para alguns, o
motivo da mudança seria uma doença de Francisca Carolina de Nazareth, mas
Hermenegildo sempre antecipava as grandes mudanças e foi para Morrinhos, onde
foi o primeiro intendente e consolidou-se como fazendeiro adquirindo mais de
vinte e sete fazendas, consolidando o comércio entre Santa Rita do Paranaíba,
Morrinhos, Pouso Alto e outras vilas com o sudeste do Brasil.
Inicialmente chamada de Vila Bela de Morrinhos em
1845, quando então era distrito da Vila
de Santa Cruz, Morrinhos conseguiu sua primeira emancipação em 05 de novembro
de 1855 com a denominação de Vila Bela do Paranaíba, tendo como distrito Santa
Rita do Paranaíba. Após quatro anos,
retorna à condição de Distrito de Santa Cruz, tendo sido suprimida sua condição
de Vila independente administrativamente. Em 1871 o município é restabelecido
com o nome de Vila Bela de Morrinhos e reinstalado em 03 de fevereiro de 1872. No ano de 1882 é
elevado à categoria de cidade, com o nome de Morrinhos, que prevalece até os
dias atuais.
Nascimentos,
casamentos e mortes foram eventos que antecederam os principais embates que
resultaram na emancipação de Santa Rita do Paranaíba em julho de 1909.
Os nascimentos das jovens primeiras-damas de Santa Rita do Paranaíba e
do Estado de Goiás se deram no início da década de 1880, sendo que Amélia Augusta de Moraes nasceu em Morrinhos,
no dia 27 de agosto de 1884, e Messias Alexandrina Marquez em Santa Rita do Paranaíba, no dia 13 de
outubro de 1883. A mesma sequência foi observada em relação aos casamentos,
sendo que ambas contraíram matrimônio ainda menores de dezoito anos, sendo a
primeira em 27 de julho de 1901, quando tinha dezessete anos e a outra em
outubro de 1900, com apenas dezesseis anos.
A
morte do coronel Hermenegildo Lopes de Moraes, em maio 1905, também foi um
acontecimento que antecedeu a emancipação de Santa Rita do Paranaíba e
consolidou a presença da mulher e herdeira Francisca Cândida de Nazareth
Moraes, cuidando dos netos e dos bens.
A morte do presidente Afonso Pena, em junho de 1909, também influenciou
a emancipação de Santa Rita do Paranaíba, fato que possibilitou mais poder a
José Leopoldo de Bulhões, que voltou a ser ministro da Fazenda do sucessor Nilo
Peçanha.
Enfim, as relações de poder que levaram à emancipação de Santa Rita do
Paranaíba e que se deram através de nascimentos, casamentos e mortes, estiveram
sempre ligadas a uma série de processos políticos, que vão desde a eleição de
José Xavier de Almeida, em 1901, para presidente do Estado, ao seu rompimento
com Leopoldo de Bulhões, em 1904, o que levou ao pedido de intervenção por
Leopoldo de Bulhões em 1905. Passaram pelas vitórias de José Xavier de Almeida,
que homologou as eleições de 1904, mas que começou a se inverter em 1908,
ocasião que o grupo de José Leopoldo de Bulhões fez a maioria de deputados e
senadores, condição que levaria ao não reconhecimento das eleições para
deputados federais, senador e presidente do Estado para 1909, e que dá origem
ao Movimento de 1909, que tem como
primeiro resultado a emancipação de Santa Rita do Paranaíba.
A imagem que se tem do
sul de Goiás no início do século XX é de
um espaço de carência geral de seus moradores, diferenciando-se em poucas
coisas os homens que tinham comércio e cargos públicos, em especial os
coletores, que trabalhavam nas recebedorias fiscais de Santa Rita do Paranaíba.
O quadro da vida, das casas, das
vestimentas e da própria alimentação, narrado por (FRANCO, 1997 p. 119), mostra
um lugar onde predominavam moradias simples, e alimentação à base de feijão
preto, farinha de mandioca e um pedacinho de carne salgada ou toucinho para
todos os moradores.
Uma das características marcantes da
região é o seu destaque como posto de fiscalização do Estado, em um período em
que se travou um grande arrocho fiscal provocado pelo grupo dominante do
período no Estado, que estava bastante ligado à cidade de Morrinhos, cidade-mãe
de Santa Rita do Paranaíba, que teve sua fundação ligada a um porto e
criação da Recebedoria tributária no
período anterior à República, por volta de 1834, quando se consolidava a
primeira organização fiscal do Brasil Independente de Portugal.
As atividades comerciais predominantes
no período estavam ligadas à pecuária e em especial ao comércio, que eram as
principais fontes de tributação na região.
Relacionando à cidade pesquisada, é
possível imaginar a mistura que se fazia
através de uma administração pública deficiente, com funcionários
desqualificados, que misturava o público com o privado e que estava mais
sujeita ao controle dos costumes locais e do mando de seus coronéis, do que aos
regulamentos tributários, como pode ser notado nos embates entre o Ministério
Público e coletores públicos, que faziam uso particular dos recursos
arrecadados dos impostos.
Com a ausência do Estado, uma
justiça sem poder e dominada pelas autoridades locais, municípios pobres e sem
fonte de recursos, o local vai se
constituir em um espaço perfeito para o domínio dos coronéis e seu
fortalecimento, o que pode ter ocorrido com o coronel Hermenegildo Lopes de
Moraes, que fez fortuna com a Guerra do Paraguai e ocupou cargos públicos,
chegando no início do século XX com condições
de fazer aliança com os governos devido sua situação econômica abastada.
O período de emancipação mostra um
Estado com estruturas arcaicas, com os grupos dominantes dos coronéis detendo
os meios de administração na nomeação de delegados, coletores e outras
autoridades, proporcionando um desencontro entre as aspirações dos cidadãos e a
possibilidade do Estado de provê-las.
As cidades não tinham recursos para
investimentos menores, como cuidar de suas ruas, ocorrendo em muitos casos o
investimento privado com posterior indenização do Estado, quando era possível,
e assim foi se institucionalizando o poder dos coronéis nas cidades.
Cabe aos que têm recursos
econômicos, como os fazendeiros e comerciantes, exercerem funções do Estado
ausente, como as policiais e judiciárias, o que se faz através de capangas, já
que tais funções não eram supridas por pessoas especializadas.
É dentro desse quadro de pobreza do
poder público local, de uso do aparelho do governo como propriedade privada e
de dominação pessoal sem separação do público com o privado, com o grupo de
coronéis locais ligados aos presidentes da província que vai ocorrer a
emancipação de Santa Rita do Paranaíba.
É a imagem de uma cidade que vai ter
dono por muitos anos, desde sua fundação, onde o coletor, o delegado, o
conselho de Intendência e a própria intendência vão ser uma extensão das
famílias de comerciantes locais, o que vai ocorrer pela escassez de
funcionários qualificados e ausência do exercício despersonalizado das funções
públicas, com o grupo dominante utilizando o aparelho estatal para atingir
interesses particulares.
A formação dos coronéis de Santa
Rita do Paranaíba a partir da Primeira República pode ser vislumbrada nas obras
“Os donos do Poder” (FAORO, 1989), assim como a maneira como funcionava o sistema
eleitoral, baseado na política dos governadores que sustenta todo o período.
Nas palavras de Rui Barbosa (apud FAORO, 1989, p.569), “substitui-se
os principais interesses, o povo pelas facções e os Estados pelos seus
governos.”
A política dos governadores tinha
como características o apoio dos presidentes dos Estados ao Governo Federal,
recebendo poderes e privilégios, que por sua vez formavam suas bases nos
municípios, que deviam obediência aos coronéis que governavam o Estado.
Enquanto fossem aliados, poderiam utilizar as estruturas no Estado no exercício
dos poderes locais.
Verifica-se na Primeira República
uma pequena participação política da população, como se observa nos números
apresentados entre 1870 e 1890, quando o percentual de votantes no período
variava de 2,3% a 3.4% da população, que girava em torno de 10 milhões em 1872
e que atingiu 14 milhões em 1889, sendo que apenas 24% moravam na zona urbana.
A República Velha, período em que
nasceu Santa Rita do Paranaíba caracteriza-se pela pouca participação da
população na vida política, que era para poucos, decorrente do sistema
eleitoral altamente restritivo, com uma população pouco alfabetizada, contando
com cerca de 14,8% por volta de 1890, e um sistema eleitoral viciado, que dava
sustentação à política dos governadores e
à afirmação do coronelismo.
O sistema eleitoral permitia a
qualificação dos eleitores, que era feita pelos coronéis ou por seus indicados,
assim como a tomada e apuração dos votos, tendo o presidente do conselho de intendência
ou o intendente municipal a supremacia do controle, às vezes feito nas próprias
casas das autoridades.
Era utilizada uma forma de controle
que ficava na mão do coronel do Estado e para o comando eleitoral ser efetivo,
o sistema deveria ser estrangulado no município e tudo isso era garantido pelas
milícias estaduais e por instrumentos financeiros.
Prevalecia o sistema de partido
único, do presidente da província ao coronel no município, e as despesas
eleitorais locais cabiam ao coronel local que, em troca, tinha os empregos na
sua região, que seriam ocupados por pessoas indicadas por ele. É um sistema de
reciprocidade, onde o Estado dá os empregos, os favores, tendo a força policial
através de seus capangas, nomeando o delegado, o coletor de impostos, o juiz, o
promotor, e prevalecendo os laços de amizade e compadrio.
A obra de Faoro (1989), permite
entender a figura do coronel que assume o poder local, onde alguns receberam o
nome da antiga Guarda Nacional criada em 1831 e que recaiu também sobre pessoas
detentoras de riquezas, que podiam comprar as patentes.
O coronelismo penetra de tal maneira
nas atividades políticas, constituindo-se no primeiro degrau dessa estrutura.
Ele não manda só porque tem a riqueza, mas há pela população um reconhecimento
de seu poder, sem necessidade de um pacto escrito. É um poder que se consolida
com o aliciamento e preparo de seus eleitores, bem como o amplo número de
cargos locais que terá a sua disposição para fazer suas indicações.
A política dos governadores e seu
criador, Campos Sales, aconselhando aos presidentes dos Estados a dissolverem
as câmaras municipais e nomear os intendentes, são reflexões tratadas por
Faoro, (1989), que permitem entender os primeiros embates e arranjos que
ocorrem em Santa Rita do Paranaíba. É a política que atrelará os chefes
políticos ao governo estadual, atrofiando os núcleos locais, como ocorreu com
Santa Rita do Paranaíba.
Nos capítulos estudados é possível
entender o uso do poder político como extensão da família e o coronel Sidney
Pereira de Almeida é fruto dessa construção política, havendo historicamente
uma mistura do particular com os bens do Estado.
Nessa obra têm-se os fundamentos do
sistema coronelista que já está imposto desde a fundação da cidade e manifesta-se
com intensidade em sua emancipação, prevalecendo as escolhas e indicações de
cargos públicos de acordo com a confiança e o compadrio, e não com a capacidade
dos escolhidos.
As oligarquias que nascem no século
XIX, o jeito personalista de governar e a própria impregnação do coronelismo
como forma de governo vêm dos tempos da
fundação da cidade.
Este estudo permite uma reflexão
sobre as origens da população que formaria a cidade de Santa Rita do Paranaíba,
onde prevalecia o comércio e a pecuária. No trabalho percebem-se as raízes dos
trabalhadores, que se dá através de aventureiros que vieram em maior parte de
Minas Gerais e dos próprios coronéis que vão governar a cidade em seus
primeiros anos de existência.
Enfim,
essa obra permite refletir sobre o urbano e o rural no período de emancipação,
o funcionamento do poder público nas mãos dos coronéis, a emancipação da cidade
como instrumento de dominação e um povo constituído por aventureiros assentados
em sua maioria na zona rural e os poucos que habitavam o centro urbano, numa
cidade com forte influência ibérica na sua arquitetura, com uma praça central,
duas grandes ruas em duas direções e uma Igreja em sua parte central. Essas são
as raízes dessa cidade do interior do Estado de Goiás, com seu povo, seus
costumes, seus governantes e suas práticas políticas.
O primeiro documento localizado no primeiro ofício da cidade de Goiás e
que trata de Santa Rita do Paranaíba descreve a arrematação do Porto da Fazenda
Nacional por Cândido Rodrigues de Paiva, em 1835, que fazia parte de uma
estrada nova construída até Uberaba-MG (FERREIRA e PINHEIRO, 2009, p.23).
Inicialmente o Distrito do Arraial de Santa Rita do Paranaíba foi criado
como parte da Vila de Santa Cruz, em 1849, perdurando essa situação até 1855,
quando então passa a pertencer a Morrinhos, que na época se denominava Vila
Bela do Paranaíba. De 1859, quando é suprimida Vila Bela do Paranaíba, até 1871
quando novamente ocorre a emancipação de Vila Bela de Morrinhos, Santa Rita do
Paranaíba fez parte da Vila de Santa Cruz (FERREIRA e PINHEIRO, 2009, p.
25-29).
Nas relações de poder em Santa Rita do Paranaíba, destacam-se Jacintho
Luiz da Silva Brandão, casado com Messias Alexandrina Marquez, em 1900, e que
não teve nenhum filho; Major Militão Pereira de Almeida, casado pela primeira
vez com Ermelinda Borges de Almeida, em 1883, tendo 10 filhos, sendo o primeiro
o coronel Sidney Pereira de Almeida.
Viúvo em 1903, Major Militão casou-se pela segunda vez em 1905 com
Laudelina Mendes de Almeida, com quem teve nove filhos. Filho de Major Militão,
o coronel Sidney Pereira de Almeida casou-se em 1909 com Maria Clarinda Cotrim,
com quem teve seis filhos.
Qual a relação de Messias Alexandrina Marquez, Laudelina Mendes de
Almeida e Maria Clarinda Cotrim com a emancipação de Santa Rita do Paranaíba?
São as mulheres presentes na vida privada dos homens que faziam política quando da emancipação de Santa Rita do
Paranaíba e depois nos primeiros anos da Vila emancipada.
Como Villa Bela de Morrinhos exercia um poder político na região sul do
Estado de Goiás, desde 1895, quando Hermenegildo Lopes de Moraes era
vice-presidente do Estado, até 1905 com sua morte, e após este período, o poder
continuou a ser exercido por José Xavier de Almeida, genro de Hermenegildo
Lopes de Moraes, ex-presidente do Estado e deputado federal em exercício,
entrava na cena política outro filho de Hermenegildo Lopes, também deputado
federal e homônimo do pai, Santa Rita do
Paranaíba não tinha nenhuma esperança de emancipação.
O
principal líder local, Jacintho Luiz da Silva Brandão era do grupo de
Morrinhos, tanto é que assumia os principais postos no Arraial de Santa Rita do
Paranaíba, como Administrador da Recebedoria.
Como
principal oponente de Jacintho Luiz da Silva Brandão, apareceu a figura do coronel Sidney Pereira de Almeida, filho do maior
comerciante do Arraial em 1909.
O
sistema político local tinha no comando o intendente geral, que era figura
escolhida pelo presidente do Estado. O poder legislativo, escolhido pelo povo,
era o conselho Municipal de Intendência.
Nos primeiros anos de governo, os membros do primeiro Conselho Municipal
vão se revezar no poder como intendentes, ora aderindo aos Bulhões, que
mandavam no Estado, quando da emancipação, e depois com o alinhamento do grupo
de Sidney Pereira de Almeida com os Caiado, até 1927.
A Lei de emancipação é o principal documento que corrobora a hipótese de
que a emancipação de Santa Rita do Paranaíba foi o primeiro ato do grupo dos
Bulhões, que assumiu o governo do Estado de Goiás a partir do Movimento de
1909, no mês de maio, quando o poder foi passado ao primeiro vice-presidente e
após ao segundo vice-presidente, que sancionou a lei de emancipação de Santa
Rita do Paranaíba em julho de 1909.
Da
publicação da lei de emancipação à efetiva instalação do município levaram
cerca de dois meses. No mês de setembro, foi nomeado o Conselho Municipal
Provisório, tendo Jacintho Luiz da Silva Brandão sido escolhido presidente
provisório e a missão também de governar o município até a escolha do Intendente
Geral, que ocorreu em dezembro de 1909.
Existiam em Santa Rita do Paranaíba cercam de 83 estabelecimentos
comerciais, figurando como maior, segundo pagamento de impostos, o comerciante
Jacintho Luiz da Silva Brandão, com sete unidades e pagamento de 360$000 réis
(FERREIRA e PINHEIRO, 2009).
Havia uma escola com cerca de sessenta alunos. Enquanto o chefe político
de Morrinhos mandou os filhos para estudar em São Paulo, os filhos da família
de Militão estudavam em Santa Rita do Paranaíba. Mas os primeiros anos iniciais
das filhas de Francisca foram feitos na escola da Vila de Morrinhos, conforme
aparece na relação de alunas matriculadas por volta de 1873.
Enquanto as crianças da família de Francisca Carolina de Nazareth de
Moraes estudavam e viajavam, as crianças das famílias que moravam na zona rural
viviam do pastoreio e de vigiar plantações (FERREIRA e PINHEIRO, 2009, p 117).
O então Arraial de Santa Rita do Paranaíba se destacava por algumas
casas comerciais e a família de Major Militão Pereira de Almeida era a segunda
maior comerciante, com dois estabelecimentos, enquanto o filho de Francisca
Carolina de Nazareth de Moraes, o Major Galdino da Silveira Marquez também
tinha comércio no Arraial. No ano da emancipação, em 1909, a família de Major
Militão era a maior pagadora de impostos no então Arraial de Santa Rita do
Paranaíba.
O ano de 1909 vai marcar o aparecimento da família do coronel Sidney
Pereira de Almeida e o afastamento do coronel Jacintho Luiz da Silva Brandão,
então aliado da família de Francisca Carolina de Nazareth Moraes. O que segurou
alguns dias a presença de Jacintho Brandão na política da emancipada Santa Rita
do Paranaíba foi a presença de Antônio Xavier Guimarães, padrinho de casamento
e aliado do grupo vencedor do golpe político de 1909.
O Arraial de Santa Rita do
Paranaíba começou com um porto e uma estrada, cresceu com a família de
Francisca Carolina de Nazareth Moraes, emancipou-se com o golpe político de
1909 em Goiás e tem na Ponte Afonso Pena o símbolo desse momento, que marcou a
passagem da família pela política de Goiás como protagonistas das relações de
poder que colocaram a região sul em evidência.