Livro em construção - Titulo provisório
Formatação da equipe - dezembro 2004
3 – NINGUÉM ACIMA DO REI
Antes de assumir o governo municipal em 2005, Zé Gomes da Rocha já
avisara nos meios de comunicação que teria uma equipe enxuta para recuperar as
finanças do município e assim começar a investir e construir as obras que
planejava.
Zé não convidava o secretário diretamente e mandava um enviado para
sondar o futuro membro da equipe. Já ouvira que seria convidado para compor o
grupo de secretários na área de finanças e a sondagem veio por meio do hoje
deputado estadual Alvaro Guimarães, aliado do grupo político na época. Disse
que sim e já comecei a conhecer a máquina da Prefeitura em dezembro, pois com a
entrada de Ivan do Raio X como prefeito a partir de 28 de outubro de 2004,
ficou mais fácil o diagnóstico.
Como estratégia de governo, Zé Gomes tinha um esqueleto de gestão que
seria muito próximo dele nos anos de governo. Na primeira linha estavam as
áreas de Finanças, a diretoria de compras, que embora ligada a Administração,
na prática era diretamente ligada ao prefeito e Infraestrutura que englobava
obras, habitação, iluminação pública e pavimentação. A área de Ação Urbana que
cuidava da limpeza pública, embora não tenha sido ocupada a secretaria no
primeiro momento por economia, em forma de diretoria funcionava muito perto do
prefeito. Forte e estratégica também era
a área de comunicação e o interlocutor direto era o próprio prefeito com TV,
Jornais, Rádios e revistas. A internet ainda não tinha a importância que hoje
tem.
Saúde e Educação era áreas intocáveis de influências políticas
partidárias. A amiga pessoal e quase irmã Ione Guimarães que perdera as
eleições de 2000 com Zé Gomes, foi a escolhida para gerir a área, onde ficou
até abril de 2006. Embora nunca revelado, é possível que saíra para
desincompatibilizar e disputar algum cargo político, fato que não aconteceu.
Dos quadros do antigo adversário PSDB, professor Alfredo Araújo deixou a
subsecretaria estadual de educação e coordenou a área de Zé Gomes entre 2005 e 2007.
Tinha sonhos políticos e empresariais, então cedeu o lugar para Maria
Auxiliadora a partir de 2008.
A área social que era da Administração indireta, teve nos anos iniciais
a gestão de Darci Borges, que viera dos quadros do antigo PFL. Era uma área
importante politicamente e também tinhas
suas decisões que passavam pela análise de Zé Gomes da Rocha.
As áreas de Controle Interno com Ronaldo Vieira, ex-vereador e contador,
assim como a Procuradoria Juridica no comando de Aparício Vasconcelos, eram atividades meios de orientar e encontrar
os caminhos legais para a realização dos projetos de Zé Gomes da Rocha.
Administração e Recursos Humanos com Adriano Martins, praticamente só cuidava
da folha dos servidores. Era uma indicação que atendia o segmento da Igreja
Católica e do PMDB, pelo qual foi candidato a vereador na eleição anterior. A
área de governo não era preenchida, pois Zé Gomes decidia diretamente todos
assuntos de governo.
A área de Turismo seria comandada pela ex-vereador Isbéria Toledo, que
também ocuparia a área da diretoria de Iluminação pública. Com sua experiência
de arquiteta e ex-funcionária da Celg, comandaria todo o processo da troca do
Parque de Iluminação Pública e da realização do primeiro Arraiá em 2005.
Faleceu no final do ano de 2005, por complicações da Asma.
As demais áreas, parte foram ocupadas ao longo do governo e outras
jamais tiveram titulares. No ano de 2006 chegou ao governo, Zé Humberto para
Indústria e Comércio e também cuidar do Gabinete de Governo. Representavam o
segmento empresarial, pois fora presidente da Associação Comercial. Era do
antigo grupo politico do PSB. Não ficou muito tempo. Cultura, esportes,
Turismo, Meio Ambiente, Agricultura, Governo e Convênios, estavam entre as
áreas que eram ocupadas por interinos ou para acomodação política, sem
importância estratégica.
Com estrutura enxuta no primeiro escalão, algumas áreas eram
fortalecidas por diretorias, como Pavimentação com Formigão no comando,
Habitação com o Futrica, Iluminação Pública com Públio. Joselir Soares,
ex-prefeito de Cachoeira Dourada e compadre do Zé Gomes, auxiliava as obras e foram nomeado secretário de Agricultura.
Danilo Borges era o diretor de compras e outro compadre do Zé, o Célio Rezende,
foi nomeado na diretoria de Comunicação. O engenheiro Esio David, sozinho,
praticamente em uma diretoria fazia todos os projetos de engenharia. O
Planejamento tinha como titular o vice-prefeito Chico Balla, que também comandava Obras.
- As regras de sucesso da gestão do Zé
Nas campanhas anteriores, Zé Gomes da Rocha não tinha boa imagem em
relação a responsabilidade para cumprir os compromissos e para o político, a
boa imagem era fundamental. Era bom de voto, vencedor, mas a imagem não o
credenciava como bom gestor.
Por isto a área de Finanças era fundamental para construir esta imagem.
O primeiro compromisso foi pagar em dia o servidor dentro do mês trabalhado e o
décimo terceiro no dia do aniversário.
No começo do governo Zé Gomes procurava se inteirar de todos os
pagamentos. Assinava todos os cheques e entregava pessoalmente o décimo
terceiro do servidor. A regra era simples e nem o Zé descumpria: 15 primeiros
dias do mês pagava-se fornecedores e nos últimos 15 dias toda a arrecadação era
destinada ao pagamento dos servidores. O Tesouro fechava para qualquer outro
compromisso. E assim, Zé Gomes construiu a imagem de bom pagador para o
servidor.
Com os demais segmentos não foi diferente. Por exemplo, se fazia um
compromisso com as entidades sociais de pagar 12 parcelas de subvenções em um
ano e falhava com o compromisso em alguns meses, no ano seguinte, pagava o
débito passado e todo o novo compromisso.
Criou e fotografou a imagem do bom pagador, com a mensagem: “Tá compro,
tá pago”.
Na área de comunicação, alguns pactos foram importantes. Se apoiava o
deputado Alvaro em suas campanhas, significava economia com gastos na rádio,
pois um aliado não falaria mal de seu governo. Como chegou ao governo pelo
PMDB, o amigo Radivair Miranda Machado da outra rádio, também não falaria mal
do governo do Zé. A TV dava trabalho e as vezes, Zé Gomes ia diretamente no
comando em Goiânia fazer suas reclamações. As vezes resolvia, as vezes não. Com
os jornais, Foram criadas cotas de publicações, que era respeitada
pontualmente. Problemas nas relações com comunicações surgiram no governo, a
começar nas disputas de agências, mas Zé Gomes administrava bem o setor, por
saber de sua importância. Achar defeito em uma administração é fácil.
A diretoria de compras era estratégica, pois para um projeto se
transformar rápido em obras, precisa passar pela Licitação. Se o setor
demorasse, quatros anos de mandato voava, por isso sua importância no governo.
Zé Gomes da Rocha não era governante de lidar com papéis. Não tinha
arquivos e assinavam os documentos em qualquer lugar. Podia ser no banheiro, no
Aeroporto e até no leito do Rio Paranaíba uma vez em uma expedição. Eu e o Teixeira,
já falecido, fomos pegar sua assinatura em documentos dentro do Barco já
chegando em Mato Grosso. Papel não parava em sua mesa. Se era sim a resposta,
assinava na hora, se era não, dizia que iria analisar e colocava na gaveta.
Se não preocupava com papel, Zé Gomes preocupava com a prefeitura
organizada na área de tecnologia de informação e contabilidade, para ter um bom
controle e aprovação de sua gestão no Tribunal de Contas, tanto que contratou
bons serviços de assessoria nestas áreas e deu liberdade para sua equipe
investir em equipamentos e tecnologia. Mudou-se do controle em livro de papel
para controle eletrônico e tecnológico. Administrava a saúde de sua sala, por
meio de câmeras. Teve todos balanças de sua gestão aprovados no TCM. Só um com
ressalvas, o do ano de 2012, que não participei no fechamento das contas.
A vocação integral de Zé Gomes era pela realização de obras. Era capaz
de transformar um cenário da noite para o dia, como fez da destruição da cadeia
pública em 2009, que funcionava no centro da cidade. Asfaltar, iluminar,
construir saneamento básico, moradias era sua vida.
Saúde e Educação eram intocáveis a uso partidário. Foi assim com Doutora
Iones até abril de 2006, comigo entre 2006 a 2008 e com os demais secretários,
cuja escolha o Zé deixou comigo, com exceção do Roberto Marques em 2008. Alguns
deram trabalho e logo saíram. Outros foi por meio de diálogo com o segmento dos
médicos em 2009. Nenhum sucesso me amava.
Em um governo sempre existe a rede de intrigas. E sempre tinha algum secretário que achava
que se levasse algo para o Zé ficava bem com ele. O efeito era o contrário,
pois não gostava que ninguém falasse mal de membros de sua equipe.
- Organizações Sociais
A relação com as organizações não governamentais ganharam importância desde
o primeiro ano de governo e a aproximação veio já no Primeiro Arraiá. A então
Secretária de Turismo Isbéria de Toledo tinha grande relacionamento com as
áreas sociais e facilitou a interlocução. Mais de duas dezenas de entidades
foram chamadas para participação no Primeiro Arraiá, onde faziam comidas típicas
e comercializavam com os visitantes, obtendo rendas para suas atividades de
filantropia.
Zé Gomes criou o modelo de subvenções financeiras com cessão de
servidores e veículos. Cumpria rigorosamente os compromissos assumidos e assim
obteve uma parceria fundamental em sua gestão no social.
As organizações sociais foram parceiras também na gestão da campanha contribuinte
premiado a partir de 2008, já que eram premiadas e controlava e distribuía os
ingressos. A campanha tem sucesso até
hoje, devido a credibilidade das entidades sociais que fazem o controle social.
- Doutora, presidente, chefe e meu rei.
Era fácil decifrar o humor do Zé Gomes como chefe no dia a dia. Como não
tinha um bom controle de horários para dormir e alimentar, sofria com problemas
de gastrites. Vivia prefeitura 24 horas por dia. Tomava café, almoçava, jantava
e dormia pouco. Quando chamava alguém de “chefe”, estava com gastrite ou mal
humorado. Naquele dia, a sua resposta para qualquer coisa era não.
A melhor amiga era doutora Ione e o melhor amigo e conselheiro, o
presidente e advogado Nicomedes Borges, a quem ouvia e tinha muita gratidão.
Doutora Ione sofrera com ele a derrota de 2000 e ele desejavam que ela ocupasse
um cargo de destaque no futuro. Conseguiu a eleição como primeira suplente de
senadora, mas morreu sem ver o sonho concretizado, pois a titular não cedeu
nenhum um dia para a médica ocupar o cargo. Nicomedes foi o conselheiro que
conseguiu domar o Zé Gomes para que não fizesse nenhum exagero, já que tinha um
temperamento forte, capaz de reagir de modo que atrapalharia sua imagem, agora
construída como bom gestor. Comigo me tratava de “ministro” que bem humorado,
mas quando a gastrite atacava ou estava insatisfeito com algo. Era “meu chefe”
mesmo. Meu Rei foi o tratamento criado em relação com o chefe da Ação Urbana,
Dalminho.
- O não de Zé Gomes
Era um chefe que tinha dificuldades de demitir pessoas. Tinha dificuldades
de dizer “não” .
Mudou pouco sua equipe no primeiro ano. Isbéria faleceu e a Secretaria
de Turismo não teve novo titular. A diretoria de Iluminação que Isbéria tomava
conta também, foi ocupada por Públio, que comandou toda a troca de de13.000
pontos de iluminação na cidade até o ano de 2012.
Chamou Zé Humberto que ficou um tempo na Indústria e Comercio e no
Gabinete de Governo e depois foi substituído por Ronaldo Vieira que deixou a
Secretaria de Controle Interno. Ronaldinho era o “fio desencapado” do Zé Gomes.
Bom conhecedor da máquina pública, tinha também temperamento explosivo, mas
contribuiu com a administração por mais de quatro anos.
Com a saída de Ronaldo Vieira do Controle Interno, abriu-se uma vaga
para a área. Um servidor efetivo do município que tinha um certo parentesco com
o Zé, foi cotado, mas tivera problemas comigo no inicio do governo, pela
dificuldade de se comunicar e relacionar. Queria fazer a contabilidade dos
fundos do município, mas como Zé Gomes me dera liberdade de escolher toda
equipe, achei por bem deixar para a empresa de consultoria contratada fazer a contabilidade.
Não vetei a ocupação do cargo de Secretário de Controle Interno pelo servidor
efetivo.
Alfredo Araujo com outros planos empresariais e políticos, deixou o
governo em 2007 e foi substituído pela professora Maria Auxiliadora, que ficou
no cargo até 2017. No início, Auxiliadora que veio de uma escola privada, tinha
dificuldades de entender as regras da área pública, mas logo se adaptou e
tornou-se uma das melhores secretárias que o município já teve na área.
O Vice-prefeito
Chico Balla que havia sido candidato a deputado estadual em 2002 pelo
PP, já entrou na equipe trabalhando com responsabilidade por duas áreas: Obras
e Planejamento. Já havia ocupado o cargo no governo Luiz Moura no passado.
Tinha sonhos de ser deputado estadual, tanto é que saiu em 2006 para ficar
desincompatibilizado, mas soube ter paciência e esperar, até virar prefeito em
2012, depois da reeleição em 2008.
Certa vez em 2008, o Zé chamou eu e o Chico Balla em sua sala e disse
que havia dois cargos a serem preenchidos por amigos: o de vice prefeito e o de presidente da
Saneago. Desde 2006, o advogado Nicomedes Borges, conceituado na cidade,
ex-presidente da subseção local, ocupava o presidente da estatal goiana com
sucesso, onde ficou até o final de 2010. Zé Gomes sabia que doutor Nicomedes,
pelo prestígio na classe de advogados, um dia alcançaria o sonho de ser
desembargador e então já preparava o sucessor na Saneago, que seria eu ou o
Chico Balla. Zé Gomes desejavam que seu melhor amigo e irmão doutor Nicomedes,
fosse o seu sucessor como prefeito, mas “Ni”, como era carinhosamente chamado,
não tinha a vocação de ser prefeito. Amava mesmo seu ofício na área jurídica.
Então, certo dia, o Zé perguntou: “Chico, você que é meu vice tem a preferência
de escolher – quer ser presidente da Saneago ou vice prefeito novamente?”. O
Chico parou um instante, pensou e respondeu: quero continuar vice. No futuro,
Chico continuou vice, eu fui para a
presidência da Saneago e o doutor Nicomedes se tornou desembargador de justiça.
Como ser essencialmente político, Zé Gomes que tivera professores como Modesto
de Carvalho, Iris Rezende e Marconi Perillo, cumpria rigorosamente as regras do
poder e sua equipe deveria conhecer e agir dentro das mesmas. Quem assim
procedia, não tiveram qualquer problema com o Zé e ficaram no seu grupo
político por todo o governo. Sobre a tal regra, que é a primeira e já ensinada
por Maquiavel desde os idos da Idade Média era simples: “Nenhum de seus
auxiliares deveria comportar o agir acima do prefeito”.
- A Centralização
Na teoria, a Administração pública é dividida em Direta e Indireta,
conforme classificação do Decreto Lei 200 de 1967, mas para Zé Gomes da Rocha,
tudo passava e era decidido por ele. A princípio, discordei, mas depois entendi
suas razões e porque deveria ser centralizado.
A capacidade dos secretários e diretores para fazer despesas e
contratações é infinita, por isso, nenhuma despesa, nenhuma contratação era
feita sem a assinatura de Zé Gomes.
Inicialmente composta por 15 secretarias, mas apenas a metade ocupada na
administração direta, cresceu com a
criação da Secretaria extraordinária de Convênios, que nasceu para prestar
contas do grande número que surgiam devido a recursos concedidos nos governos
estadual e federal. Ronaldo Vieira foi o primeiro ocupante da pasta.
Na Administração Indireta, que tinha o IPASMI , órgão da Previdência
Municipal criado como Autarquia e a Fipas, cujo nome Zé Gomes mudaria em 2007
para Funsol, era a Fundação que cuidava do social e cuja maioria de ações era
custeada com recursos federais, é o que funcionava no início. Em 2009, foi
criada a autarquia da AMMAI para cuidar do meio ambiente e politicamente
ocupada pelo professor José Márcio Margonaria.
Outras duas autarquias ganharam vida com Zé Gomes, a SUMUTRA, ligada ao
trânsito e que foi comandada por Luiz Carlos Alves e o Procon Municipal, que
ganhou a condição de Autarquia em 2011. Nenhum dos órgãos contava com autonomia
e todos os pagamentos centralizados e autorização de compras controladas.
Tinha-se um teto de custo para cada área e ninguém estava autorizada a
gastar mais do que planejado. Essa centralização possibilitava controlar todas
as despesas do município e pagar em dia.
- Novos secretários
No segundo governo de Zé Gomes, a partir de 2009, ganhou característica
mais política, mas a base com Finanças, Compras, Ação urbana e obras, seguiam
com as mesmas características. Saúde e Educação também continuavam sem qualquer
interferência política partidária.
O PMDB ganhou espaços com a chegada de Cairo Batista na Indústria e
Comércio de de Samir Dahas como secretário de Planejamento. Ficaram por algum
tempo e deixaram os órgãos. Não terminaram com o segundo governo.
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