Livro em construção - título provisório
2 – Na Lista do Zé
Após perder a eleição para prefeito em 2000, Zé Gomes da Rocha terminou
o mandato de deputado federal e ganhou a eleição em 2002 para deputado estadual
e assim preparou o caminho para disputar novamente a cadeira do Palácio Castelo
Branco em 2004, seu maior sonho politico, desde que iniciou a carreira em 1976.
Como deputado estadual aproximou-se do governador Marconi Perillo – PSDB
para ganhar isenção do governo estadual
na disputa de 2004. Nas eleições para prefeito em 2000, sentiu o quanto era
difícil lutar contra um candidato em Itumbiara que tivesse o apoio de Marconi.
O governador, primeiro, era amigo pessoal de Luiz Moura, um dos poucos que o
apoiou na primeira campanha vitoriosa ao governo goiano em 1998 e segundo, o
apoio do governador influencia nas eleições locais. Mas, a má gestão do prefeito Luiz Moura – PSDB,
neste segundo governo de 2000 a 2004,
diferente da boa avaliação que teve entre 1989 e 1992, facilitou o
caminho da vitória de Zé Gomes.
Sem Luiz Moura no processo eleitoral, cassado em outubro de 2004, com
grupo político fragilizado, Zé Gomes teve como adversário o empresário Dione
Araújo que se juntou ao grupo do PT no município e alcançou pouco mais de 17
mil votos. Até então, forte no município,
após derrotar o PMDB e o próprio Zé Gomes nas eleições de 2000, o grupo
político de Luiz Moura, desintegrou com a saída de cena do seu líder. O
promotor Kleiton Korb disputou pela legenda do PSDB e Paulo Serrano, vice de
Luiz Moura, por outra legenda, mas tiveram pouca votação no processo eleitoral.
As articulações políticas na Câmara Municipal começaram ainda em outubro
de 2004, quando Zé Gomes aproximou-se do grupo de vereadores ligados a Luiz
Moura e articulou pela cassação do prefeito, pela retirada do caminho do vice
Paulo Serrano e assim abriu espaço para eleição do então presidente da Câmara
Municipal, Ivan do Raio X para assumir a cadeira de prefeito na transição entre
28 de outubro de 2004 e 31 de dezembro de 2004. Foi neste intervalo que Zé
Gomes conseguiu aprovar a Taxa de Iluminação Pública no Município.
Uma mudança na Constituição para as eleições de 2004, proporcionou a
redução de sete cadeiras no Legislativo de Itumbiara e esta mudança levou a uma economia de R$ 6 milhões no primeiro mandato
de Zé Gomes entre 2005 e 2008. É justamente o valor estimado de devolução do
Poder Legislativo ao Poder Executivo no Período.
Diante deste contexto, foi desenhada a campanha vitoriosa de Zé Gomes
para a Prefeitura de Itumbiara e construída a lista de vitoriosos em todos os
cargos e eleições no município. Fazer parte da lista do Zé, que era escrita em
um rascunho de papel em branco nas madrugadas de articulações. As vezes para
colocar alguém em um partido, Zé nem consultava. Comigo também aconteceu.
Cheguei ao grupo de governo no ano de 2005, por duas credenciais:
conhecia bem o direito tributário e tivera mais de 7.500 votos em 2002 pelo PT
em uma disputa para deputado federal. Dei muito trabalho ao candidato Barbosa
Neto que era apoiado por Zé Gomes. Cheguei sem filiação, mas em um dia de 2006
estava na presidência do PSB local e em outro de 2007, já tinha uma ficha de
filiação ao PTB, do qual me desfiliei em 2013. Aos amigos, Zé nem perguntava
para onde deveria ir, simplesmente colocava o nome em um papel rascunho e assim
nascia a Lista do Zé.
Entre 2004 e o dia da morte em agosto de 2016, Zé Gomes da Rocha
influenciou na eleição de sete presidentes da Câmara Municipal, e iniciou com a
onda PMDB de 2004, fazendo presidente seu concunhado João Batista de Oliveira
em 2005, reeleito em 2006. Um erro estratégico de João Batista em 2006, quando
se lançou candidato a deputado estadual sem o aval de Zé Gomes, praticamente
colocou fim a carreira política e o deixou fora das listas futuras. Foi bem
votado com mais de 17 mil votos para a Assembleia Legislativa, mas não venceu
nem aquela nem novas eleições. Zé Gomes não pedia, mas indicava a seus amigos,
que na lista para deputado estadual em 2006, estava Alvaro Guimarães, que foi
eleito com um empurrão dos amigos do Zé Gomes. Nunca forçou ninguém a votar em
seus candidatos, mas era “sedutor” nos pedidos. A gente seguia-o sem
questionar.
O segundo presidente com influenciada lista de Zé Gomes foi Fernando
Andrade – PL/PR, que no quinto mandato como vereador, chegou a presidência da
Câmara Municipal. Por influência de Zé
Gomes, foi alterado para dois anos o mandato de presidente do Legislativo e
assim se reelegeu Fernando Andrade na Câmara Municipal na presidência da casa.
Na primeira legislatura que coincidiu com o mandato de Zé Gomes como
prefeito, o PMDB, sigla de Zé Gomes tinha na lista o ex-prefeito Cairo Batista, eleito com 2.164
votos, Samir Dahas, também eleito com 1866 e João Batista com 1.385. Apesar de
estar no PTB, Zé Gomes deu uma força para a chegada do atual vice-prefeito Gugu
Nader ao Legislativo, quando obteve 1266 votos. Aliados do grupo político de Zé
Gomes, por meio de Alvaro Guimarães, o PL fez a maior quantidade de eleitos
entre os dez. O médico Ricardo Hoshino com
2.556 votos liderou geral e foi acompanhado por Ivan do Raio X com 1.768, Fernando Andrade com 1.635, o médico
já falecido, Alexandre Pacheco teve 1.548
votos. Fora do grupo PMDB e PL, André Marinho pelo PSDB com 1529 votos, Jonh
Pastori com 1.485 pelo PSB. Nilson Linguiça com 865 do grupo do vice prefeito
Chico Balla, também aliado nas coligações de Zé Gomes, completou o placar de 8
a 2 para as coligações que faziam parte da lista de Zé Gomes.
Foi a relação mais tranquila entre Legislativo e Executivo em todos os
anos de governo de Zé Gomes em Itumbiara e apenas dois acidentes de percursos
foram administrados: o fato de João Batista disputar a eleição para deputado
estadual em 2006 e o vereador Jonh Pastori, que contrariou Zé Gomes. Ambos não
foram reeleitos. Não constavam da lista de 2008.
Com a aliança entre o grupo
político de Zé Gomes e de Alvaro Guimarães, que foi eleito deputado com a ajuda
do prefeito, tudo correu na maior tranquilidade com devolução anual de recursos
do Legislativo que superou a R$ 1,5 mi por ano. Na lista de 2006, que Zé Gomes
mostrava aos amigos, figurava Alvaro Guimarães- PL para deputado estadual e
Jovair Arantes para deputado federal pelo PTB.
Para o governo do estado, Zé Gomes encheu o Centro de Convenções e
iniciou a caminhada da vitória de Alcides Rodrigues – PP para suceder Marconi
Perillo – PSDB contra Maguito Vilela - PMDB, que em 1996 vetou a candidatura de
Zé Gomes a prefeito de Itumbiara e preferiu Cairo Batista que foi vencedor.
Marconi Perillo disputou e conquistou a vaga para o Senado Federal.
Em 2008, a mão de Zé Gomes nas articulações chega com maior força e na
sua lista constava ter o vereador mais votado na história de Itumbiara, e
assim, o primeiro na relação era Zé Antônio, que concretizou os planos e foi eleito
pelo PMDB com 2.934 votos, quando abriu o caminho do jovem político para se
tornar vice-prefeito em 2012, deputado estadual em 2014 e prefeito em 2016. A
força da lista do Zé tornou mais fácil a reeleição de Cairo Batista com 1970
votos e Gugu Nader com 2405, ambos pelo
PMDB. A partir desta eleição, Zé Antônio seguiria sempre figurando no topo da
lista de Zé Gomes, como vice-prefeito, deputado estadual, até chegar a
prefeito. Gugu Nader seguiu caminho oposto e mesmo em crescimento de votos,
perdeu para prefeito e deputado estadual. Não figurava na lista do Zé.
Nestes primeiros anos do governo de Zé Gomes, marcou também a passagem
de fidelidade do vereador Bengala, eleito em 2008 com 1.758 votos para o
terceiro mandato. Nos dois primeiros mandatos, foi o mais fiel defensor do
grupo de Luiz Moura, amparando o mesmo até os últimos instantes da carreira
política. A partir de 2008, esta fidelidade foi transferida a Zé Gomes, que
veio como recompensa dois mandatos de presidente da Câmara para Bengala entre 2011
e 2014.
No grupo da segunda lista em 2008, que coligava e votava a favor de Zé
Gomes com relativa independência, reelegeu pelo PR, Ricardo Hosinho com 2.275
votos, Fernando Andrade com 2.175 ( sétimo mandato), e pela primeira vez,
Bacada, com 1.966 votos. Nilson Linguiça
do PP foi reeleito com 2009 votos. O PC do B, que tem o comando nos bastidores
do advogado Cleuber Cardoso, que sempre fez as campanhas de Zé Gomes, também
foi bem e elegeu Valdeir Enfermeiro com 1918 votos e Ednon Fio com 1.624 votos.
Em raia própria, Marcelo do Sacolão chegou ao legislativo com 1.583 votos.
Nenhum dos dez fazia oposição ao governo de Zé Gomes.
Alguns incidentes ocorreram nesta segunda legislatura, um com Ricardo
Hoshino, que demorava a dar parecer em uma das comissões, contrariando Zé Gomes
e outro com o advogado Cleuber Cardoso, que articulou em uma das eleições da
mesa diretora do Legislativo, sem as bênçãos de Zé Gomes. O vereador Ricardo
Hoshino, faleceu em 2011 e o advogado Cleuber Cardoso voltou as pazes com o
líder político Zé Gomes e fez até sua
última campanha em 2016. Contrariar Zé Gomes, significava ir para a “geladeira”
por um certo período de tempo. Era a pena máxima que o Zé aplicava aos amigos.
Zé Gomes, com suas listas controlava as coligações que disputariam as
eleições em seu grupo político e o advogado Cleuber Cardoso, fazia a gestão até
o registro. O último “não” que recebi do Zé Gomes, foi ainda em agosto de 2016.
Eu faria um pedido para que um irmão fosse candidato por um partido, mas a
lista estava pronta, disse Cleuber que não seria mudada e não. Tentei falar com
o Zé para incluir meu irmão, mas não deu tempo encontra-lo para fazer o pedido.
Mas o advogado Cleuber Cardoso já dizia
que não seria mudada.
Os quarenta anos de atuação política com pesquisas confiáveis em mãos,
permitia fazer a previsão da eleição de três novos vereadores em uma das
chapas. A primeira lista do Zé nunca
falhava, desde 2008. A formatação das coligações e as eleições para presidente
da Câmara sempre tiveram a influência de Zé Gomes da Rocha, que fazia a lista,
fazia a conta dos votos e não errava em seu planejamento político.
Outra estratégia que ajudou muito o município, foi segurar o processo de
aumento do número de vereador que poderia voltar a ser de dezessete, como foi
em 2000. Cada vereador custa nos dias atuais cerca de R$ 500 mil por ano. Só em
2017, foi economizado cerca de R$ 2,5 mi, já que Zé Gomes articulou que a
Legislação permitisse apenas 12 vagas nas eleições de 2016. Quatro vereadores
via decisão do Poder Judiciário chegaram a assumir em 2016, já que houve um
erro no processo legislativo anterior que reduziu para treze cadeiras, mas a
briga na justiça durou cerca de três anos e economizou para o município cerca
de R$ 6 mi.
Na lista de sucessores de Zé Gomes, foram rascunhados alguns nomes. O
meu esteve em 2008, quando recebi uma ligação do prefeito e do deputado federal
Jovair Arantes para se descompatibilizar e ficar de sobreaviso. Se desse algo
errado no processo de improbidade administrativa de 1996,quando ainda era
deputado federal e transitaria em julgado antes das eleições de 2016, que
tornaria o prefeito inelegível, meu nome
seria lançado prefeito. Em 2016, Zé Gomes conseguiria um efeito suspensivo com
Ação Rescisória e disputaria as eleições, se não fosse assassinado.
Em 2011, Zé Gomes incentivava o
amigo advogado Nicomedes Borges a ser seu sucessor, mas “Ni”, cuja relação era como de família com o Zé,
disse que não tinha esta vocação. Gostava da área de direito. Assim, Chico
Balla, que foi discreto nos dois mandatos de Zé Gomes, foi para o topo da lista
e foi eleito em 2012.
Zé Gomes tinha na lista de 2012 seu sucessor Chico Balla, Marcelo Gomes,
o vereador mais votado com 2.792 votos pelo PTB e deu seu apoio moral para
Silviano Campos com 2.284 votos, além de Expedito Costa com 2087 votos também
pelo PTB. Outro que contou com o moral de Zé Gomes, foi Bengala pelo PPS que
chegou a 1969 votos. Bengala e Dalminho se tornaram presidentes do Legislativo
com a influência também de Zé Gomes, mesmo quando já não era prefeito. Só
Valdeir Enfermeiro voltou pelo PC do B com 972 votos na segunda lista e mesmo
na oposição, mas simpático ao grupo político de Zé Gomes, Flausininho foi
eleito pelo PMDB com 1586 votos.
A oposição em 2012, que ficou dois mandatos na hibernação, renasceu com Alcides Pacheco pelo DEM, eleito com 1958
votos, Bacada pelo PL com 1750, Eliane do Samir PMDB com 1669 votos, Marcelo do
Sacolão foi reeleito pelo PSC com 1603 votos, Cristiano pelo PT com 881 votos,
Ednon Fio PSD com 1352 votos, que assumiu a vaga de Fernando Andrade que teve
1386 votos e teve o mandato extinto.
A última eleição em que se mantiveram unidos os grupos de Alvaro
Guimarães e Zé Gomes, foi no ano de 2010 e foi se fragilizando as relações, crescendo
as divergências partir de 2013, ficando clara em 2014 e tornando mais acirrada
em 2016. O deputado estadual e seu grupo político já não fazia mais parte da
lista de Zé Gomes a partir de 2014. Zé Gomes já procurava o substituto na lista
desde 2011 e chegou a me convidar três vezes para entrar n sua lista de
deputado estadual. Disse não, porque não tinha vocação. Então Zé Antônio foi
para o topo da lista para virar deputado estadual e abrir o caminho natural
para se tornar prefeito de Itumbiara.
Foi no governo Chico Balla – PTB, entre 2013 e 2016, que Zé Gomes
afastou-se um pouco das articulações diretas,
referente ao governo municipal, mas influenciou na escolha do vice Zé
Antônio, que seria eleito deputado estadual em 2014. Estrategicamente, Zé Gomes
colocou na lista como prioridade a eleição de Dalminho como presidente da
Câmara, o primeiro na linha sucessória como vice prefeito de Chico Balla, com a saída de Zé Antônio,
que ser tornaria deputado estadual. Se algo desse errado no mandato de Chico Balla,
Zé Gomes tinha um aliado fiel como vice prefeito para assumir.
As eleições de 2016, ano da sua morte, foi o último que Zé Gomes
influenciou e mesmo morto, foi como sua vontade se tornasse realidade. Não sem
razão que quatro apareceram como possíveis candidatos a prefeito no lugar de Zé
Gomes, mas o quinto já tinha o destino traçado na lista do Zé, figurava em
primeiro Zé Antônio, a quem Zé Gomes ajudou a se tornar vereador em 2008,
indicou vice prefeito em 2012, foi decisivo na eleição de deputado estadual em
2014. O que estava sendo preparado para 2020, foi antecipado pela tragédia de
2016. O primo do Zé, Marcelo Gomes estava na lista e seria o presidente da Câmara,
como foi concretizado e mais votado do grupo político de Zé Gomes com 2.792
votos. Sargento Azevedo com 1584 votos,
professora Noêmia com 1322 e Formigão com 1535 pelo PTB tiveram as bênçãos de
Zé Gomes para as campanhas vitoriosas de 2016. Zé Gomes colocou em sua lista
todos no PTB e sabia com antecedência quantos e quem seriam os eleitos. Flausiniho, mesmo pelo PMDB, com 2.118 votos
foi reeleito, pois sempre foi querido por Zé Gomes pela fidelidade e assim também
estava na lsita. O grupo do organizador
da campanha, Cleuber Cardoso elegeu
professor Amauri pelo PROS com 1536 votos e Zezé Preto do PC do B com
1284.
Mesmo antes das eleições, Daniel que havia tomado posse em 2016, foi
reeleito em 2016 com 1861 votos e tinha a simpatia de Zé Gomes, fator que o
apoiaria em um futuro governo. Neto Karfan
com 2110 votos pelo PR foi uma das novidades da eleição, além do outro vereador mais
votado, também da oposição e do PR.
O ano de 2014 marcou o divisor de águas na união que foi feita em 2004.
Em 2016, depois de apoiar Alvaro Guimarães em 2006 e 2010, as águas tomaram o
caminho natural e novamente a antiga ARENA foi para um lado com Alvaro
Guimarães e os adversários para o outro. Como no passado com Modesto, Radivair
e Waterloo, as criações do MDB, venceram mais uma vez, até com a morte do maior
líder que Itumbiara conheceu, ao lado de Menezes Junior e Hermenegildo Lopes de
Morais.