Foto da Igreja de Santa Rita de Cássia - Santa Rita do Paranaíba - década de 1930
Como se verifica por documentos disponíveis sobre os anos iniciais de Santa Rita do Paranaíba, entre o ano 1824 atribuído pela tradição como data da fundação e 1840 com o voto de João Rodrigues pela cura do irmão enfermo, resgistrado em relatos documentais da Igreja Católica, teve-se na futura Itumbiara, uma estrada com regulamentação de criação a partir de 1828, um Porto de Arrecadação, criado pelo governo imperial por volta de 1830 e que após, concedido a fazendeiros, com o primeiro registro de arrematação em 1835. Posteriormente, a partir de 1840, a Igreja Católica chega à região, recebe uma doação de terras e começa a geração da primeira autoridade do município, que certamente foi padre Félix a partir de 1856. A existência formal de Santa Rita do Paranaíba se dá quando ela se torna freguesia e distrito da Vila de Santa Cruz em 1852. O governo da Província de Goyaz só se fará presente região a partir de 1853, quando assume a direção do Porto do Paranaíba e instala a Estação Fiscal. Após conhecer os relatos iniciais sobre a estrada nova de Uberaba a Anicuns e o Porto do Paranaíba nesta série sobre a história recontada de Itumbiara, hoje é dia de saber sobre a chegada da Igreja Católica em Santa Rita do Paranaíba.
Uma
das narrações mais ricas em detalhes foi escrita por Padre Florentino Bermejo – um religioso que esteve nas terras
de Santa Rita do Paranahyba de 1917 até
sua morte em 1965 – como se vê a seguir, em texto que faz parte da obra Santa Rita do Paranahyba: origem e desenvolvimento intitulado A Cidade
de Santa Rita do Paranahyba Estado de Goiás, dos pesquisadores Josmar Divino e Antônio César Caldas Pinheiro.
“A cidade de Santa Rita do Paranahyba é situada
á margem direita do Rio Paranahyba
que a separa do estado de Minas Gerais é banhada pelos córre- gos das pombas,
da Trindade e da água Suja.
No ano de 1824 foi por estas paragens passou o primeiro ser humano civiliza- do Antônio
José Leite embarcou
no Rio dos Bois, perto da capital
de Goyaz, descendo até a sua foz no Paranahyba, subio por Esse em viagem
de explora- ção, tocando no local onde se acha hoje situada
esta florescente cidade.
Em 1830 o deputado Cunha Mattos reresentado Goyaz na Camara
Federal propôs que o governo fizesse
abrir uma estrada que partindo da Farinha Po-
dre (hoje Uberaba)
em Minas, viesse em direção
a Anicuns, Goyaz,
atraves- sando o Paranahyba entre as emborcaduras dos Rios Corumbá
e Meia Ponte no ponto mais
conveniente. O governo imperial mandou abrir a referida es- trada e o porto escolhido na passagem do
Paranahyba, foi justamente onde se
acha colocada a cidade de Santa Rita, por esta estrada transitaram forças imperiais com demanda o Theatro da Guerra do Brasil com o Paraguai
(1865 a 1870).
Estabelecido se commercio de transito nesta estrada, o governo
de Goyaz creou uma colectoria de
rendas na passagem do Paranahyba, nomeando o
respectivo funcionário.
Dessa data começou o povoamento do local e adjacências com a
vida de muitos mineiros immigrantes
que aqui se estabeleceram. Em de agosto de 1852 foi por acto do governo
creado o districto
e Freguezia, também
conhe- cida com o nome de Porto do Paranahyba, si bem que prevaleceu o nome de Santa Rita do Paranahyba devido ao facto que passamos
a relatar.
O motivo da denominação de Santa Rita dos Impossíveis de Santa Rita de Cássia
e de Santa Rita do Paranahyba.
A cidade tem a denominação de Santa Rita dos Impossíveis, com
que é co- nhecida Santa Rita de Cássia,
ilustre heroína da Egreja Catholica
porque pelo anno mais o menos de 1840 acchando-se
gravemente enfermo Antônio Ro- drigues, seu irmão João Rodrigues fez uma promessa
a Santa Rita de Cássia,
a santa dos impossíveis, de fazer uma Cappela
em invocação e rogo e promo- ver todos os meios para creaçao de uma Arraial,
e sendo attendido seus votos cumpriu a promessa; pois julgava
humanamente impossível a cura obtida. Daqui
vem a denominação de Santa Rita dos Impossíveis, a Santa Rita de Cássia, e como em diversos estados do
Brasil, há várias cidades com Esse nome para evitar a confusão,
ficou diferenciada com o nome de Santa Rita do Paranahyba, pelo rio que banha com suas majestosas águas.
Levantada a idéia de se erigir uma cappella a Santa Rita dos
Impossíveis por João Rodrigues, Esse achou logo pessoas que o coadjuvaram, entre ellas destacando-se Emanoel Garcia Velho
e Joaquim José que fizeram
a primeira Cappella, sendo que em 11 de janeiro de 1842 fora doado por Joaquim Bernardes da Costa o patrimônio de terras
de água suja para a dita Capella que se pretendia
levantar, como se vê pelo seguinte título
de doação que passo a transcrever.
I
- Título de doação do Patrimônio de Água Suja.
“Digo,
eu Joaquim Bernardes da Costa que, entre os bens de que sou senhor, e possuidor com livre e geral administração há bem assim huma sorte de terras de cultura e campos de criar da parte do Ribeirão
Água Suja com a mata, em costada
ao Rio Paranahyba, divisando com o patrimônio do Porto, e com a istrada que vae para a caxoeira
e por esta fora até o ispigam
de diviza com Adão Rodrigues
e por esse abaixo até feixar o Paranahyba. Cujas
sortes de terras
acima dito sem constrangimentos de pessoa algua, dôo a Senhora Santa Rita para seu patrimônio segundo
a Capella que se pretende
levantar auxiliado pelos procuradores Adão Roiz João Roiz de Souza e André dos Santos Pimenta”
Nesse ponto está o titulo faltando um pedaço correspondente
à quarta parte da lavra de papel e
estando pouco legível a última palavra, alerta o autor “pimenta” continua no pedaço seguinte:
[...] ou clausula que duvida faça os dois expreça, pesso o rogo ás justiças do nosso soberano que de estege
todo o rigor como se fosse iscritura publica, e por ser verdade
mande passar a presente que só firmo em paz, e das attas abaixo
assinada.
Porto
do paranahyba, 11 de janeiro de 1842. Ass. Joaqm Bernardes Costa.
Itas presentes Antônio
Faustino de Castro presente Joaqm. Jose de Oliveira.
No verso da folha seguinte em que se acha escripto
o titulo encontra-se a se- guinte
avérbico: Registro no livro de notas a fls. 23.
Santa
Rita do Paranahyba, 14 de Novembro de 1870. Emanoel José da Costa. Escrivão e escrevi.
Este título de doação está mostrando
a todos aquelles que tem olhos e não os queiram fechar á luz da verdade
as seguintes coisas;
1
– A Legitimidade dos direitos da egreja sobre o patrimônio de terras da Fa- zenda água suja, fazendo-se notar que o título de doação a egreja data de 1842, e só em 1857 é que aparece
a primeira venda de terras
na fazenda água suja pelo seu primeiro
possuidor e doador
do patrimônio.
2
– Vê-se claramente que já em 1842 já existia outro patrimônio do lado da Fazenda
Trindade, porquanto diz o titulo acima transcripto: “divisando com patrimônio do porto”
Registrado no livro de notas a folha 23. Santa Rita do Paranahyba, 14 de no- vembro de 1870. Emanoel
José da Costa escrivão e escrevi.
Quem foi Padre Florentino?
Pe. Florentino Bermejo. Nasceu em 14 de março de
1881 em Peralta, Província de Navarra-Espanha,
ordenando-se em 15 de agosto de 1905. Veio para o Brasil, inicialmente
para a cidade de Ribeirão Preto, onde
ficou até 1910. Em 14 de março de 1914 assumiu a Paróquia de Alemão em Goiás,
hoje cidade de Palmeiras. Em 20 de
junho de 1917, tomou posse na Paróquia de Paranahyba. Faleceu em Itumbiara a 20 de dezembro de 1965.
Referencias
FERREIRA, Josmar Divino e
PINHEIRO, Antônio César Caldas. Santa
Rita do Paranahyba: origem e desenvolvimento. História
de Itumbiara. v 1 – Itumbiara, Edição
Independente, 2009.
FREIRE, Nilson de. Nas Barrancas de Santa Rita do Paranaíba. Jogos do Poder em Itumbiara de 1830 a 2011.