segunda-feira, 8 de abril de 2024

BICENTENÁRIO DE ITUMBIARA, HISTÓRIAS RECONTADAS - PARTE 3 - A IGREJA DE SANTA RITA DOS IMPOSSÍVEIS


          Foto da Igreja de Santa Rita de Cássia - Santa Rita do Paranaíba - década de 1930


Como se verifica por documentos disponíveis sobre os anos iniciais de Santa Rita do Paranaíba, entre o ano 1824 atribuído pela tradição como data da fundação  e 1840 com o voto de João Rodrigues pela cura do irmão enfermo,  resgistrado em relatos documentais da Igreja Católica, teve-se na futura Itumbiara, uma estrada com regulamentação de criação a partir de 1828,  um Porto de Arrecadação, criado pelo governo imperial por volta de 1830 e que após,  concedido a fazendeiros, com o primeiro registro de arrematação em 1835. Posteriormente, a partir de 1840, a Igreja Católica chega à região, recebe uma doação de terras e começa a geração da primeira autoridade do município, que certamente foi padre  Félix a partir de 1856. A  existência formal de Santa Rita do Paranaíba se quando ela se torna freguesia e distrito da Vila de  Santa Cruz em 1852. O governo da Província de Goyaz se fará presente região a partir de 1853, quando assume a direção do Porto do Paranaíba e instala a Estação Fiscal. Após conhecer os relatos iniciais sobre a estrada nova de Uberaba a Anicuns e o Porto do Paranaíba nesta série sobre a história recontada de Itumbiara, hoje é dia de saber sobre a chegada da Igreja Católica em Santa Rita do Paranaíba. 

Uma das narrações mais ricas em detalhes foi escrita por Padre Florentino Bermejo – um religioso que esteve nas terras de Santa Rita do Paranahyba de 1917 até sua morte em 1965 – como se vê a seguir, em texto que faz parte da obra Santa Rita do Paranahyba: origem e desenvolvimento intitulado A Cidade de Santa Rita do Paranahyba Estado de Goiás, dos pesquisadores Josmar Divino e Antônio César Caldas Pinheiro.

 

 A igreja de Santa Rita de Cássia - Por Padre Florentino Bermejo

A cidade de Santa Rita do Paranahyba é situada á margem direita do Rio Paranahyba que a separa do estado de Minas Gerais é banhada pelos córre- gos das pombas, da Trindade e da água Suja.

No ano de 1824 foi por estas paragens passou o primeiro ser humano civiliza- do Antônio José Leite embarcou no Rio dos Bois, perto da capital de Goyaz, descendo até a sua foz no Paranahyba, subio por Esse em viagem de explora- ção, tocando no local onde se acha hoje situada esta florescente cidade.

Em 1830 o deputado Cunha Mattos reresentado Goyaz na Camara Federal propôs que o governo fizesse abrir uma estrada que partindo da Farinha Po- dre (hoje Uberaba) em Minas, viesse em direção a Anicuns, Goyaz, atraves- sando o Paranahyba entre as emborcaduras dos Rios Corumbá e Meia Ponte no ponto mais conveniente. O governo imperial mandou abrir a referida es- trada e o porto escolhido na passagem do Paranahyba, foi justamente onde se acha colocada a cidade de Santa Rita, por esta estrada transitaram forças imperiais com demanda o Theatro da Guerra do Brasil com o Paraguai (1865 a 1870).

Estabelecido se commercio de transito nesta estrada, o governo de Goyaz creou uma colectoria de rendas na passagem do Paranahyba, nomeando o respectivo funcionário.

Dessa data começou o povoamento do local e adjacências com a vida de muitos mineiros immigrantes que aqui se estabeleceram. Em de agosto de 1852 foi por acto do governo creado o districto e Freguezia, também conhe- cida com o nome de Porto do Paranahyba, si bem que prevaleceu o nome de Santa Rita do Paranahyba devido ao facto que passamos a relatar.

O motivo da denominação de Santa Rita dos Impossíveis de Santa Rita de Cássia e de Santa Rita do Paranahyba.

A cidade tem a denominação de Santa Rita dos Impossíveis, com que é co- nhecida Santa Rita de Cássia, ilustre heroína da Egreja Catholica porque pelo anno mais o menos de 1840 acchando-se gravemente enfermo Antônio Ro- drigues, seu irmão João Rodrigues fez uma promessa a Santa Rita de Cássia, a santa dos impossíveis, de fazer uma Cappela em invocação e rogo e promo- ver todos os meios para creaçao de uma Arraial, e sendo attendido seus votos cumpriu a promessa; pois julgava humanamente impossível a cura obtida. Daqui vem a denominação de Santa Rita dos Impossíveis, a Santa Rita de Cássia, e como em diversos estados do Brasil, há várias cidades com Esse nome para evitar a confusão, ficou diferenciada com o nome de Santa Rita do Paranahyba, pelo rio que banha com suas majestosas águas.

Levantada a idéia de se erigir uma cappella a Santa Rita dos Impossíveis por João Rodrigues, Esse achou logo pessoas que o coadjuvaram, entre ellas destacando-se Emanoel Garcia Velho e Joaquim José que fizeram a primeira Cappella, sendo que em 11 de janeiro de 1842 fora doado por Joaquim Bernardes da Costa o patrimônio de terras de água suja para a dita Capella que se pretendia levantar, como se pelo seguinte título de doação que passo a transcrever.

I      - Título de doação do Patrimônio de Água Suja.

Digo, eu Joaquim Bernardes da Costa que, entre os bens de que sou senhor, e possuidor com livre e geral administração bem assim huma sorte de terras de cultura e campos de criar da parte do Ribeirão Água Suja com a mata, em costada ao Rio Paranahyba, divisando com o patrimônio do Porto, e com a istrada que vae para a caxoeira e por esta fora até o ispigam de diviza com Adão Rodrigues e por esse abaixo até feixar o Paranahyba. Cujas sortes de terras acima dito sem constrangimentos de pessoa algua, dôo a Senhora Santa Rita para seu patrimônio segundo a Capella que se pretende levantar auxiliado pelos procuradores Adão Roiz João Roiz de Souza e André dos Santos Pimenta”

 

Nesse ponto está o titulo faltando um pedaço correspondente à quarta parte da lavra de papel e estando pouco legível a última palavra, alerta o autor “pimenta” continua no pedaço seguinte:

[...] ou clausula que duvida faça os dois expreça, pesso o rogo ás justiças do nosso soberano que de estege todo o rigor como se fosse iscritura publica, e por ser verdade mande passar a presente que firmo em paz, e das attas abaixo assinada.

Porto do paranahyba, 11 de janeiro de 1842. Ass. Joaqm Bernardes Costa.

Itas presentes Antônio Faustino de Castro presente Joaqm. Jose de Oliveira.

 

No verso da folha seguinte em que se acha escripto o titulo encontra-se a se- guinte avérbico: Registro no livro de notas a fls. 23.

Santa Rita do Paranahyba, 14 de Novembro de 1870. Emanoel José da Costa. Escrivão e escrevi.

Este título de doação está mostrando a todos aquelles que tem olhos e não os queiram fechar á luz da verdade as seguintes coisas;

1  A Legitimidade dos direitos da egreja sobre o patrimônio de terras da Fa- zenda água suja, fazendo-se notar que o título de doação a egreja data de 1842, e em 1857 é que aparece a primeira venda de terras na fazenda água suja pelo seu primeiro possuidor e doador do patrimônio.

2  Vê-se claramente que em 1842 existia outro patrimônio do lado da Fazenda Trindade, porquanto diz o titulo acima transcripto: “divisando com patrimônio do porto”


                       3  – é de notar que entre todos os documentos apresentados pelos diversos con- domínios,                       da fazenda água suja, o único que era estar registrado, é do titulo de doação feito a egreja.

Registrado no livro de notas a folha 23. Santa Rita do Paranahyba, 14 de no- vembro de 1870. Emanoel José da Costa escrivão e escrevi.

 

Quem foi Padre Florentino?

Pe. Florentino Bermejo. Nasceu em 14 de março de 1881 em Peralta, Província de Navarra-Espanha, ordenando-se em 15 de agosto de 1905. Veio para o Brasil, inicialmente para a cidade de Ribeirão Preto, onde ficou até 1910. Em 14 de março de 1914 assumiu a Paróquia de Alemão em Goiás, hoje cidade de Palmeiras. Em 20 de junho de 1917, tomou posse na Paróquia de Paranahyba. Faleceu em Itumbiara a 20 de dezembro de 1965.

 

 Outra referência sobre a história de Itumbiara a partir da Igreja Católica,  está no livro de tombamento da Diocese de Goiás, onde consta um capítulo especifico sobre Santa Rita do Paranaíba, conforme relata os pesquisadores Josmar Divino Ferreira e Antônio César Caldas Pinheiro. Tendo como autor o Cônego Teóphilo José   de Paiva (1905/1917) narra a criação da Freguesia de Santa Rita do Paranaíba por lei provincial em 22 de agosto de 1852, cujo orago foi Santa Rita de Cássia e pertencia a terceira vara de Franca - SP e segunda vigaria geral de Morrinhos. Por meio do livro de tombamento está o registro da primeira doação de terras por João Rodrigues  ao patrimônio de Santa Rita de Càssia, quando dos votos que fez para a cura do irmão em 1840, que não foi possível encontrar o título da doação, assim como o primeiro documento oficial de doação em 1842 da parte da fazenda Trindade por Joaquim Guardiano da Costa. Assim, por meio de documentos da Igreja, poderiam se ter novas datas para a fundação de Santa Rita do Paranaíba, podendo ser 11 de janeiro de 1842, que consta em documento de doação de terras a Igreja de Santa Rita de Cássia, que originou o Arraial de Santa Rita do Paranaíba ou 22 de agosto de 1852, quando foi criado oficialmente o distrito e Freguesia de Santa Rita do Paranaíba, ligada ao município de Santa Cruz de Goiás.

 Referencias

 

FERREIRA, Josmar Divino e PINHEIRO, Antônio César Caldas. Santa Rita do Paranahyba: origem e desenvolvimento. História de Itumbiara. v 1 Itumbiara, Edição Independente, 2009.

 

FREIRE, Nilson de. Nas Barrancas de Santa Rita do Paranaíba. Jogos do Poder em Itumbiara de 1830 a 2011.