segunda-feira, 14 de julho de 2025

Filha da Revolução da Quinta, a Vila de Santa Rita do Paranaíba foi emancipada de Morrinhos em 16 de julho de 1909

 

         Movimento de maio de 1909 - a tomada do poder na capital de Goás

No dia 2 de março de 1909, o então deputado federal Hermenegildo Lopes de Morais Filho, nascido no Arraial de Santa Rita do Paranaíba em 1870, com 39 anos de idade,  era eleito presidente do Estado de Goiás, figura correspondente a governador nos dias atuais.

Naqueles tempos, dois grupos políticos disputavam o poder em Goiás, sendo um que era dominado por José Xavier de Almeida, ex-presidente de Goiás entre 1901 e 1904 e cunhado do presidente eleito para governar o estado partir de 1909; o outro, José Leopoldo de Bulhões Jardim, ex-ministro da Fazenda e líder goiano desde a proclamação da República.  Xavier de Almeida pertencera ao grupo de Leopoldo de Bulhões até 1904 e resolveu trilhar caminho próprio e liderar Goiás a partir de seu próprio grupo político radicado em Morrinhos, cujo sogro Hermenegildo Lopes de Morais, o pai, construiu grande riqueza a partir de Santa Rita do Paranaíba, faleceu em 1905 e deixou seus filhos trilhando a política e sustentando o grupo de Xavier de Almeida. As eleições para presidente do Estado de Goiás ocorrera em 2 de março e Xavier de Almeida conseguiu eleger o santarritense, então morador de Morrinhos que era o município a quem o distrito e arraial de Santa Rita do Paranaíba pertencia. 

Logo após estas eleições, começou um grande movimento político liderado por Leopoldo de Bulhões para tomar o poder e o governo do grupo de Xavier de Almeida. A pressão fez o então presidente Miguel de Paiva Lima do grupo de Xavier de Almeida,  renunciar. O primeiro vice-presidente Francisco Bertholdo assumiu por alguns dias e também renunciou, passando o poder para o então presidente do Senado Goiano, Joaquim Rufino Ramos Jubé, que ficara poucos dias no poder e também passou a presidência do estado de Goiás para o segundo vice-presidente, o Coronel Zeca Batista, que era de Anápolis.

 A partir da Fazenda da Quinta, propriedade do coronel Eugênio Jardim, se organizava uma revolução com a liderança de Leopoldo de Bulhões, que contava com o apoio de Antônio Ramos Caiado, o Totó Caiado e do proprietário da fazenda. Foi exatamente a primeiro de maio de 1909, que o grupo de Leopoldo de Bulhões, com mais de 1600 homens invadiu a capital de Goiás e tomou o poder. Uma das primeiras medidas dos revolucionários, foi colocar como presidente de Goiás, Otávio Gouveia, que havia perdido as eleições para presidente de Goiás, emancipando Santa Rita do Paranaíba para mostrar força  e enfraquecer o grupo de Xavier de Almeida, junto com então presidente eleito, que lideravam a política goiana, a partir de Morrinhos. Com a tomada de poder na chamada Revolução da Quinta ou de maio, chamada também de Movimento de 1909, Santa Rita do Paranaíba foi emancipada em 16 de julho e a lei número 349 publicada,  levou a assinatura do então segundo vice-presidente do estado de Goiás, o anapolino Coronel Zeca Batista. A Instalação do município ocorreria em 12 de outubro, data fixada por Decreto em setembro pelo novo presidente, que foi colocado pelos revolucionários de maio, Urbano Coelho de Gouveia.  Por isso, desde 1909, o dia 16 de julho é o dia de Itumbiara e o dia 12 de outubro, o dia da festa de instalação, considerada a data oficial de celebração de aniversário no município.

sábado, 12 de julho de 2025

Andarilhos na Orla do Paranaíba e a história de Itumbiara.


 Opinião

A Avenida Beira Rio em Itumbiara, em uma orla com mais de 3 km, é um dos pontos mais frequentados da cidade de Itumbiara, cujas origens estão ligadas ao próprio rio e uma estrada que abriu caminho para a posse de terras por migrantes da região Sudeste, sobretudo mineiros há cerca de dois séculos. Primeiro, os posseiros pegaram o ofício para fazer a gestão de um porto e cobrar pelos serviços de travessia de mercadorias, gado e pessoa e depois a província de Goiás assumiu o posto de fiscalização.  A Freguesia e distrito começou com o porto e se expandiu com a construção de uma capela em louvor a Santa Rita de Cássia, por um milagre atribuído na cura do irmão de um fazendeiro.  Os viajantes que passavam pelo local no século XIX, como Visconde de Taunay, dizia que aquele ponto era deserto e tinha alguns desocupados pescando e caçando por ali. 200 anos depois, o porto virou distrito e freguesia, que se tornou Vila e cidade e mudou o nome para Itumbiara, que segundo alguns seria o caminho da cachoeira e para outros estudiosos das línguas indígenas, está mais para cachoeira dos restos das caças. O mais importante na história é que os ocupantes das terras obtiveram seus títulos de propriedade e até deram uma parte para construção da Capela, no ponto onde virou cidade. A Diocese vendeu as terras para o município e assim a bicentenária Itumbiara chegou a mais de 100 mil habitantes.  Já não é a terra dos fazendeiros, pois uma grande população veio para a cidade e indústrias foram construídas. Outros migrantes se misturaram e foram chegando para formar o povo Itumbiarense, com mineiros, paulistas, nordestinos e tantos outros povos do Brasil e até do Exterior. Continua sendo um local onde as estradas representam ocupam espaço relevante na construção da história da cidade. O Rio não é navegável para transporte de pessoas e mercadorias, devido suas usinas e cachoeiras, mas suas estradas criadas para ligar Goiás ao Triângulo Mineiro e ao Sudeste e depois na Marcha para Oeste para ligação com a nova capital do País, Brasília, continua sendo um ponto de chegada e saída de muitas pessoas. E a avenida Beira Rio, onde começou o ponto zero com o Porto e a construção da primeira ponte em 1909, que ajudou na ocupação do território goiano na região Sul, continua sendo o principal ponto de identidade da cidade. E nela, que as pessoas se movimentam diariamente, nas diversas classes sociais. Os mais abastados, para uma caminhada diária e os mais pobres e até sem casas, para o banho, a alimentação e até a morada. E eles seguem o caminho, que os primeiros homens trilharam nos primeiros dias do ponto, onde se tornaria a cidade. Vão do ancoradouro, ao farol, ao córrego trindade e a ponte, em idas e vindas diárias, que não tem um destino. Já não se tem terras para ocupar e parece não haver mais crença em um futuro melhor e tudo se resume no momento presente, no dia a dia a caminhar pela Orla, do Centro ao Ancoradouro e deste ao centro, ás vezes parando parte do dia como guardadores de carros ou mesmo pedintes. Assim a vida segue na avenida mais bonita e cara de Itumbiara, onde convivem os mais ricos e os andarilhos pela Orla.

Nilson Freire é editor do Diário de Itumbiara

Mestre em Direito Fiscal pela Universidade de Coimbra

Mestre em História pela PUC GO

MBA em Administração Tributária e Política pela FGF

Graduado em História, Ciências Físicas e Biológicas, Direito e Administração

quarta-feira, 22 de maio de 2024

A CELEBRAÇÃO EM 22 DE MAIO DE 172 ANOS DA CRIAÇÃO DA FREGUESIA E DISTRITO DE SANTA RITA DO PARANAÍBA, HOJE ITUMBIARA


 

Sobre a denominação de Santa Rita dos Impossíveis, Santa Rita de Cássia e de Santa Rita do Paranahyba, segundo o Padre Florentino Bermejo, que foi o pároco da Igreja de Santa Rita em Itumbiara entre 1917 e 1965, se deu em homenagem a Santa Rita de Cássia, ilustre heroína da Egreja Catolica porque pelo ano mais o menos de 1840, achando-se gravemente enfermo Antônio Rodrigues, seu irmão João Rodrigues fez uma promessa a Santa Rita de Cássia, a santa dos impossíveis, de fazer uma Capela em invocação e rogo e promover todos os meios para criação de um Arraial, e sendo atendido seus votos cumpriu a promessa; pois julgava humanamente impossível a cura obtida. Daí veio a denominação de Santa Rita dos Impossíveis, a Santa Rita de Cássia, e como em diversos estados do Brasil, haviam várias cidades com esse nome para evitar a confusão, ficou diferenciada com o nome de Santa Rita do Paranahyba, pelo rio que banha com suas majestosas águas. Conta ainda Bermejo, que levantada a ideia de se erigir uma capela a Santa Rita dos Impossíveis por João Rodrigues, Esse achou logo pessoas que o coadjuvaram, entre elas destacando-se Emanoel Garcia Velho e Joaquim José que fizeram a primeira Capela, sendo que em 11 de janeiro de 1842 fora doado por Joaquim Bernardes da Costa o patrimônio de terras de água suja para a dita Capela que se pretendia levantar (TITULO DE DOAÇÃO 11 DE JANEIRO DE 1842)


FREGUESIA DE SANTA RITA DO PARANAHYBA - 172 anos (1852-2024)

A freguesia foi uma forma de organização no período imperial, em que o imperador atribuía à Igreja cumprir inúmeras funções em nome do Estado. Relata o Padre  e Doutor em história, José Luiz de Castro da Catedral de Santa Rita de Cássia,  em uma obra sobre a Igreja Católica em Goiás, que a Freguesia preenchia a falta de autoridades e jurisdições  civis. Com a elevação de um arraial à freguesia, a Igreja era a construção que se desta cava ao centro de uma quantidade pequena de casas, com umas poucas ruas e becos completando a paisagem. É importante observar que, ao alcançar o status de freguesia, o povoado possuía uma significativa população.

A Resolução 12, de 1849, do Presidente da Província de Goyaz, criou o distrito do Arraial da Paz de Santa Rita do Paranahyba, na Freguesia de Morrinhos, município de Santa Cruz. Pela Resolução 18, Santa Rita do Paranaíba foi elevada a Distrito e Freguesia de Santa Rita do Paranaíba. A Freguesia era a menor célula instituída com o nome de um santo ou evento santificado. Esta designação caiu em desuso. Toda Freguesia tinha uma Igreja Matriz e o Pároco colocado (vinculado) ou encomendado. O primeiro padre nomeado foi Felix Fleury do Amorim.

 

Dessa forma, a freguesia era utilizada pelo Estado imperial para levar adiante projetos coloniais, como controle sobre os vadios, recenseamentos, cobrança de impostos, recrutamento militar e incentivos a políticas como a miscigenação.



Santa Rita de Cássia

Santa Rita nasceu em 1381 e morreu aos 22 de maio de 1457. Estas duas datas tradicionais foram consideradas corretas pelo Papa Leão XIII, quando a proclamou Santa em 24 de maio de 1900.

Rita, filha única de Antônio Lotti e Amata Ferri, nasceu em Roccaporena, a 5 km de Cássia, e foi batizada com o nome de Margarida (MargaRITA) em Santa Maria do Povo, também em Cássia. Seus pais eram “pacificadores de Cristo” nas lutas políticas e familiares entre os Guelfi e os Ghibelini. Deram o melhor de si mesmo na educação de Rita, ensinando-a, inclusive a ler e escrever.

Aos 16 anos Rita se casou com Paolo di Ferdinando Mancini, jovem de boas intenções, mas vingativo. Tiveram dois filhos. Com uma vida simples, rica de oração e de virtudes, toda dedicada à família, ela ajudou o marido a converter-se e a levar uma vida honesta e laboriosa. Sua existência de esposa e mãe foi abalada pelo assassinato do marido, vítima do ódio entre facções. Rita conseguiu ser coerente com sua crença religiosa, perdoando plenamente todos aqueles que lhe causaram tanta dor. Os filhos, ao contrário, influenciados pelo ambiente e pelos parentes, eram inclinados à vingan- ça. A mãe, para evitar que se destruíssem humana e espiritualmente, pediu a Deus que tirasse a vida deles, pois ela preferia vê-los mortos que manchados com sangue da vingança. Ambos, ainda jovens, viriam a falecer em conseqüência de doenças naturais. Rita, viúva e sozinha, pacificou os ânimos e reconciliou as famílias com a for-

ça da oração e do amor; só, então, pôde entrar no mosteiro agostiniano de santa Maria Madalena, de Cássia, onde viveu por 40 anos, servindo a Deus e ao próximo com uma generosidade alegre e atenta aos dramas do seu ambiente e da Igreja do seu tempo.

 Foi venerada como santa imediatamente após a sua morte, como atestam o sarcófago e o Códex miraculorum, ambos documentos de 1457-1462. Seus ossos, desde 18 de maio de 1947, repousam no santuário em uma urna de prata e cristal fabricada em 1930. Recentes exames médicos informaram que sobre a testa, à esquerda, existem traços de uma ferida óssea (osteomielite). O direito apresenta sinais de uma doença sofrida nos últimos anos, talvez uma inflamação no nervo ciático. Sua altura era de 1,57m. O rosto, as mãos e os pés estão mumificados, enquanto que sob o hábito da religiosa agostiniana existe, intacto, o seu esqueleto.

Beatificação e Canonização

Santa Rita de Cássia foi beatificada em 1627 e canonizada em 1900

Segundo o historiador especialista em religião católica e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais Rodrigo Coppe, há diferenças sobre o que é beatificação e  o processo para a canonização de santos.

De acordo com Coppe, a beatificação é uma das etapas de reconhecimento da Igreja Católica em relação à santidade de uma pessoa, enquanto a canonização é o estágio final, quando ela de fato é entendida como santa. “A beatificação é um momento de um processo muito longo de reconhecimento pela instituição católica de um santo”, diz.

Para se tornar um beato, é preciso comprovar que a pessoa foi intercessora de um milagre divino ou vítima de um martírio (quando passa por um grande sofrimento ou é morta em consequência da sua adesão à fé).Para ser reconhecido como um santo, é necessário mais de um milagre comprovado.



A visão de Santa Rita do Paranaíba em 1865 por um viajante francês:

·   1865 – Alfredo d’Escragnolle Taunay: descreve desse modo, os aspectos do povoado, em setembro de 1865:

Ergue-se a povoação de Santa Rita de Cássia á margem direita do rio Para- nahyba, estendendo as suas primeiras casas no declive da rampa que leva ao porto, onde aproam as barcas de passagem. A sua fundação é moderna; há vinte e tantos annos ahi se estabeleceram alguns mineiros exploradores, dando princípio a um arraial que foi erecto em freguezia no anno de 1850. O movimento commercial é quasi nullo; apenas alguma passagem e recovas carregadas de sal, com destino a Goyaz, tiram-na momentaneamente da ato- nia e estagnação que a personificam. (TAUNAY, 1865, p. 84-85).

 

 Padre Félix - o primeiro pároco de Santa Rita do Paranaíba

Padre. Félix Fleury Alves do Amorim

Nasceu em Pirenópolis, em 06 de novembro de 1829. Filho de Félix Alves de Amorim e de Messias Bueno Fleury. Foi nomeado vigário em Morrinhos em 13 de maio de 1856 e mais tarde transferido para Santa Rita do Paranahyba. Vigário colado  em 10 de maio de 1857, através de Carta do Império de 23 de junho de 1856.

Com a elevação de um arraial à freguesia, a Igreja era a construção que se destacava ao centro de uma quantidade pequena de casas, com umas poucas ruas e becos completando a paisagem. É importante observar que, ao alcançar o status de Freguesia, o povoado possuía uma significativa população

Ao assumir a Freguesia, Pe. Félix recebeu uma capelinha, iniciando a constru ção de uma nova igreja a partir de 1857. Em 1859 pediu ajuda financeira para concluir esse novo templo ao presidente da Província Dom Francisco Januário Gama Cerqueira

 

Fonte: Freire, Nilson - Nas barrancas de Santa Rita do Paranaíba - 2011, Editora Kelps

 

segunda-feira, 8 de abril de 2024

BICENTENÁRIO DE ITUMBIARA, HISTÓRIAS RECONTADAS - PARTE 3 - A IGREJA DE SANTA RITA DOS IMPOSSÍVEIS


          Foto da Igreja de Santa Rita de Cássia - Santa Rita do Paranaíba - década de 1930


Como se verifica por documentos disponíveis sobre os anos iniciais de Santa Rita do Paranaíba, entre o ano 1824 atribuído pela tradição como data da fundação  e 1840 com o voto de João Rodrigues pela cura do irmão enfermo,  resgistrado em relatos documentais da Igreja Católica, teve-se na futura Itumbiara, uma estrada com regulamentação de criação a partir de 1828,  um Porto de Arrecadação, criado pelo governo imperial por volta de 1830 e que após,  concedido a fazendeiros, com o primeiro registro de arrematação em 1835. Posteriormente, a partir de 1840, a Igreja Católica chega à região, recebe uma doação de terras e começa a geração da primeira autoridade do município, que certamente foi padre  Félix a partir de 1856. A  existência formal de Santa Rita do Paranaíba se quando ela se torna freguesia e distrito da Vila de  Santa Cruz em 1852. O governo da Província de Goyaz se fará presente região a partir de 1853, quando assume a direção do Porto do Paranaíba e instala a Estação Fiscal. Após conhecer os relatos iniciais sobre a estrada nova de Uberaba a Anicuns e o Porto do Paranaíba nesta série sobre a história recontada de Itumbiara, hoje é dia de saber sobre a chegada da Igreja Católica em Santa Rita do Paranaíba. 

Uma das narrações mais ricas em detalhes foi escrita por Padre Florentino Bermejo – um religioso que esteve nas terras de Santa Rita do Paranahyba de 1917 até sua morte em 1965 – como se vê a seguir, em texto que faz parte da obra Santa Rita do Paranahyba: origem e desenvolvimento intitulado A Cidade de Santa Rita do Paranahyba Estado de Goiás, dos pesquisadores Josmar Divino e Antônio César Caldas Pinheiro.

 

 A igreja de Santa Rita de Cássia - Por Padre Florentino Bermejo

A cidade de Santa Rita do Paranahyba é situada á margem direita do Rio Paranahyba que a separa do estado de Minas Gerais é banhada pelos córre- gos das pombas, da Trindade e da água Suja.

No ano de 1824 foi por estas paragens passou o primeiro ser humano civiliza- do Antônio José Leite embarcou no Rio dos Bois, perto da capital de Goyaz, descendo até a sua foz no Paranahyba, subio por Esse em viagem de explora- ção, tocando no local onde se acha hoje situada esta florescente cidade.

Em 1830 o deputado Cunha Mattos reresentado Goyaz na Camara Federal propôs que o governo fizesse abrir uma estrada que partindo da Farinha Po- dre (hoje Uberaba) em Minas, viesse em direção a Anicuns, Goyaz, atraves- sando o Paranahyba entre as emborcaduras dos Rios Corumbá e Meia Ponte no ponto mais conveniente. O governo imperial mandou abrir a referida es- trada e o porto escolhido na passagem do Paranahyba, foi justamente onde se acha colocada a cidade de Santa Rita, por esta estrada transitaram forças imperiais com demanda o Theatro da Guerra do Brasil com o Paraguai (1865 a 1870).

Estabelecido se commercio de transito nesta estrada, o governo de Goyaz creou uma colectoria de rendas na passagem do Paranahyba, nomeando o respectivo funcionário.

Dessa data começou o povoamento do local e adjacências com a vida de muitos mineiros immigrantes que aqui se estabeleceram. Em de agosto de 1852 foi por acto do governo creado o districto e Freguezia, também conhe- cida com o nome de Porto do Paranahyba, si bem que prevaleceu o nome de Santa Rita do Paranahyba devido ao facto que passamos a relatar.

O motivo da denominação de Santa Rita dos Impossíveis de Santa Rita de Cássia e de Santa Rita do Paranahyba.

A cidade tem a denominação de Santa Rita dos Impossíveis, com que é co- nhecida Santa Rita de Cássia, ilustre heroína da Egreja Catholica porque pelo anno mais o menos de 1840 acchando-se gravemente enfermo Antônio Ro- drigues, seu irmão João Rodrigues fez uma promessa a Santa Rita de Cássia, a santa dos impossíveis, de fazer uma Cappela em invocação e rogo e promo- ver todos os meios para creaçao de uma Arraial, e sendo attendido seus votos cumpriu a promessa; pois julgava humanamente impossível a cura obtida. Daqui vem a denominação de Santa Rita dos Impossíveis, a Santa Rita de Cássia, e como em diversos estados do Brasil, há várias cidades com Esse nome para evitar a confusão, ficou diferenciada com o nome de Santa Rita do Paranahyba, pelo rio que banha com suas majestosas águas.

Levantada a idéia de se erigir uma cappella a Santa Rita dos Impossíveis por João Rodrigues, Esse achou logo pessoas que o coadjuvaram, entre ellas destacando-se Emanoel Garcia Velho e Joaquim José que fizeram a primeira Cappella, sendo que em 11 de janeiro de 1842 fora doado por Joaquim Bernardes da Costa o patrimônio de terras de água suja para a dita Capella que se pretendia levantar, como se pelo seguinte título de doação que passo a transcrever.

I      - Título de doação do Patrimônio de Água Suja.

Digo, eu Joaquim Bernardes da Costa que, entre os bens de que sou senhor, e possuidor com livre e geral administração bem assim huma sorte de terras de cultura e campos de criar da parte do Ribeirão Água Suja com a mata, em costada ao Rio Paranahyba, divisando com o patrimônio do Porto, e com a istrada que vae para a caxoeira e por esta fora até o ispigam de diviza com Adão Rodrigues e por esse abaixo até feixar o Paranahyba. Cujas sortes de terras acima dito sem constrangimentos de pessoa algua, dôo a Senhora Santa Rita para seu patrimônio segundo a Capella que se pretende levantar auxiliado pelos procuradores Adão Roiz João Roiz de Souza e André dos Santos Pimenta”

 

Nesse ponto está o titulo faltando um pedaço correspondente à quarta parte da lavra de papel e estando pouco legível a última palavra, alerta o autor “pimenta” continua no pedaço seguinte:

[...] ou clausula que duvida faça os dois expreça, pesso o rogo ás justiças do nosso soberano que de estege todo o rigor como se fosse iscritura publica, e por ser verdade mande passar a presente que firmo em paz, e das attas abaixo assinada.

Porto do paranahyba, 11 de janeiro de 1842. Ass. Joaqm Bernardes Costa.

Itas presentes Antônio Faustino de Castro presente Joaqm. Jose de Oliveira.

 

No verso da folha seguinte em que se acha escripto o titulo encontra-se a se- guinte avérbico: Registro no livro de notas a fls. 23.

Santa Rita do Paranahyba, 14 de Novembro de 1870. Emanoel José da Costa. Escrivão e escrevi.

Este título de doação está mostrando a todos aquelles que tem olhos e não os queiram fechar á luz da verdade as seguintes coisas;

1  A Legitimidade dos direitos da egreja sobre o patrimônio de terras da Fa- zenda água suja, fazendo-se notar que o título de doação a egreja data de 1842, e em 1857 é que aparece a primeira venda de terras na fazenda água suja pelo seu primeiro possuidor e doador do patrimônio.

2  Vê-se claramente que em 1842 existia outro patrimônio do lado da Fazenda Trindade, porquanto diz o titulo acima transcripto: “divisando com patrimônio do porto”


                       3  – é de notar que entre todos os documentos apresentados pelos diversos con- domínios,                       da fazenda água suja, o único que era estar registrado, é do titulo de doação feito a egreja.

Registrado no livro de notas a folha 23. Santa Rita do Paranahyba, 14 de no- vembro de 1870. Emanoel José da Costa escrivão e escrevi.

 

Quem foi Padre Florentino?

Pe. Florentino Bermejo. Nasceu em 14 de março de 1881 em Peralta, Província de Navarra-Espanha, ordenando-se em 15 de agosto de 1905. Veio para o Brasil, inicialmente para a cidade de Ribeirão Preto, onde ficou até 1910. Em 14 de março de 1914 assumiu a Paróquia de Alemão em Goiás, hoje cidade de Palmeiras. Em 20 de junho de 1917, tomou posse na Paróquia de Paranahyba. Faleceu em Itumbiara a 20 de dezembro de 1965.

 

 Outra referência sobre a história de Itumbiara a partir da Igreja Católica,  está no livro de tombamento da Diocese de Goiás, onde consta um capítulo especifico sobre Santa Rita do Paranaíba, conforme relata os pesquisadores Josmar Divino Ferreira e Antônio César Caldas Pinheiro. Tendo como autor o Cônego Teóphilo José   de Paiva (1905/1917) narra a criação da Freguesia de Santa Rita do Paranaíba por lei provincial em 22 de agosto de 1852, cujo orago foi Santa Rita de Cássia e pertencia a terceira vara de Franca - SP e segunda vigaria geral de Morrinhos. Por meio do livro de tombamento está o registro da primeira doação de terras por João Rodrigues  ao patrimônio de Santa Rita de Càssia, quando dos votos que fez para a cura do irmão em 1840, que não foi possível encontrar o título da doação, assim como o primeiro documento oficial de doação em 1842 da parte da fazenda Trindade por Joaquim Guardiano da Costa. Assim, por meio de documentos da Igreja, poderiam se ter novas datas para a fundação de Santa Rita do Paranaíba, podendo ser 11 de janeiro de 1842, que consta em documento de doação de terras a Igreja de Santa Rita de Cássia, que originou o Arraial de Santa Rita do Paranaíba ou 22 de agosto de 1852, quando foi criado oficialmente o distrito e Freguesia de Santa Rita do Paranaíba, ligada ao município de Santa Cruz de Goiás.

 Referencias

 

FERREIRA, Josmar Divino e PINHEIRO, Antônio César Caldas. Santa Rita do Paranahyba: origem e desenvolvimento. História de Itumbiara. v 1 Itumbiara, Edição Independente, 2009.

 

FREIRE, Nilson de. Nas Barrancas de Santa Rita do Paranaíba. Jogos do Poder em Itumbiara de 1830 a 2011.